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Orishas pela sexta vez em São Paulo

Trio cubano mostra hoje na Via Funchal canções de seu álbum mais recente, em que assumiu o controle da produção

Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

Como John Pizzarelli e Madeleine Peyroux nos últimos anos, o Orishas já é "de casa". O trio cubano, que vê sua popularidade crescer em São Paulo desde que lançou A lo Cubano em 1999, está de volta para única apresentação hoje na Via Funchal. Nesta sexta vez na cidade, além de cantar êxitos de dez anos de carreira, eles dão ênfase às canções do trabalho mais recente, Cosita Buena, de 2008. "Gostamos de tocar aí porque a receptividade é sempre calorosa e vocês têm bom gosto", diz Ruzzo, que forma o trio com Yotuel e Roldán. Com sua mescla de música tradicional cubana com a batida e o canto falado do hip-hop, o Orishas conquistou não só o Brasil, mas outros países do Hemisfério Norte. Além de São Paulo e Belo Horizonte, desta vez eles se apresentam em outros países da América do Sul pela primeira vez. A cada novo trabalho, eles inserem novidades sonoras, mas a base continua sendo a mesma. "A diferença é que, além de incorporar novos elementos à música, desta vez assumimos o controle total do nosso trabalho. Resolvemos arriscar, e nós mesmos fizemos a produção e todos os arranjos pela primeira vez", diz Ruzzo. Considerado seu disco mais autoral, a "coisinha boa" abre com a faixa-título com uma batida eletrônica puxada para o reggae, mais, digamos, "comercial" do que o público está habituado a ouvir deles. Em Mani e Bruja já se ouvem ecos de pop-rock anglo-americano. Hip-Hop Conga é a mais "carnavalesca", festiva demais para as convenções do hip-hop (o que não quer dizer que é ruim). Em canções como Guajira é que se identifica melhor o Orishas de outrora. Essa inclinação para o pop mais diversificado pode realmente representar um grande risco. No entanto, a intenção, dizem eles, é sempre surpreender a cada disco, mas fiéis às próprias raízes, embora nenhum deles viva em Cuba. Ruzzo, por exemplo, quando falou ao Estado na semana passada estava em Havana para visitar a família. O que mudou com Raúl Castro no poder? "Estávamos acostumados com Fidel. Ainda estamos tentando nos adaptar à nova realidade, mas espero que consiga mudar as coisas não só aqui, mas em relação à imagem do país internacionalmente ao mesmo tempo". Em termos de produção musical, ele diz que em Cuba agora se encontra um pouco mais de profissionalismo. Com isso, os artistas conseguem agendar shows em diversos lugares da ilha. "Para isso têm de ter um currículo, uma empresa artística, com um profissional responsável para os grupos possam se movimentar no circuito turístico, popular", diz. "Creio também que o público está se acostumando a ouvir todo tipo de música, desde a tradicional cubana até hip-hop, rock. Isso de alguma forma se reflete internacionalmente." Por falar nisso, o Orishas foi o principal responsável por despertar o interesse internacional sobre a música cubana contemporânea, com suas inovações. De outro lado havia o fenômeno Buena Vista Social Club, que fez renascer o gosto pela riquíssima tradição sonora da ilha. Contrapondo-se a certas críticas de conterrâneos, Ruzzo não acredita que a repercussão mundial dos veteranos do Buena Vista tenha ofuscado a evolução da música em Cuba. "É certo que o fenômeno arrastou uma onda de grupos que incorporam de vez em quando dentro de seu trabalho elementos tradicionais, que cerca de três anos antes não se utilizavam dentro do próprio gênero", diz. "Mas o Buena Vista não só fez renascer a música dos artistas antigos, mas despertou novos grupos que tratam de seguir os mesmos passos. Por outro lado, hoje temos um espaço específico dedicado ao rock cubano em Havana, depois de tanto tempo, e esperamos que isto ocorra em outros lugares do país."

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