Olodum: ''caruruzada'' de aniversário

Grupo festeja 30 anos e inicia tour internacional em 14 de julho, passando por Itália, Portugal e Holanda, entre outros países

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Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Com um prosaico caruru, às 15 h, e um show na rua, às 19 h, o grupo baiano Olodum festeja hoje, na sua sede no Pelourinho, 30 anos de existência. Como diz João Jorge, presidente da instituição, a festa consagra "três décadas de tecnologia Olodum", que é como ele chama o tripé que fez sua fama: música, ação social e política "de afirmação do orgulho negro". A música do Olodum está sacramentada em 11 discos no Brasil e 5 no exterior, além de gravações e jam sessions com Paul Simon, Linton Kwesi Johnson, Inner Circle, The Wailers, Ziggy Marley e Rappin? Hood, entre outros. Do Bando de Teatro Olodum saiu gente como o ator Lázaro Ramos. A ação social por meio da integração musical virou parâmetro em todo o País, gerando filhotes como o Afroreggae (Rio), o Meninos do Morumbi (São Paulo), o Régua e Compasso (Curitiba) e o próprio Candeal Ghetto Square, de Carlinhos Brown. No carnaval, 4 mil integrantes tingem Salvador com as cores do Olodum - o verde, o vermelho, o amarelo, o preto e o branco, símbolos do pan-africanismo. Diariamente, seus ensaios, na Rua Gregório de Matos e aos domingos no Largo Pedro Arcanjo, são acompanhados por centenas de turistas. O grupo tem sido um elemento fundamental na revitalização do Pelourinho. O Olodum é também criticado por ter "industrializado" suas atividades, mas é inegável a solidez de sua organização. Sua Boutique Olodum vende bonés, bottons, sapatilhas, mochilas, discos e livros. A Fábrica de Carnaval emprega 35 pessoas. Faz ainda o Festival de Música e Arte do Olodum que, nos últimos 29 anos, reuniu cerca de 100 mil pessoas. "É uma crítica improcedente. Nós jamais nos afastamos dos nossos objetivos e nunca deixamos de fazer a parte social. Como é natural, o Olodum se multiplicou, adquiriu contornos mais abrangentes. Não é mais apenas um bloco de carnaval. Cresceu, como crescem os partidos políticos, as religiões. E nós, para não ficarmos dependentes das verbas públicas e privadas, fazemos um trabalho para dar autosustentação ao Olodum. Que não pode ser uma manifestação tímida, acanhada". Do total das receitas da Banda Olodum, 30% retornam como investimentos para as atividades educativas e sociais e os 70% restantes, para seus componentes. Como os outros blocos afro da Bahia, o Olodum também foi fundado por um grupo comunitário, os remanescentes do bairro do Maciel/Pelourinho. A partir da década de 80, já organizado, o Olodum tornou-se uma Organização Não Governamental (ONG) do movimento negro. O imóvel que hoje abriga A Casa do Olodum, na Rua Gregório de Matos, 22, no Pelourinho, foi construído entre os anos de 1790 e 1798. "Ano da deflagração da Revolta dos Búzios na Bahia", lembra Jorge. "Primeiro movimento político a pregar o fim da escravidão no Brasil e a República como forma de governo." Foi abandonado na década de 50 e comprado pelo Olodum em 1985. A arquiteta Lina Bo Bardi fez o projeto de reforma e restauro. A palavra Olodum é de origem iorubana, idioma falado pelos iorubás vindos da Nigéria e do Benin para a Bahia. A palavra completa é Olodumaré, Deus criador, o Senhor do universo, e representa no candomblé um princípio vital. O bando do Olodum tinha como madrinha a ialorixá d. Alice dos Santos Silva, morta em 2005, que dava orientação e proteção espiritual ao grupo. A percussão do Olodum, segundo João Jorge, funde ritmos como o ijexá, o samba, o alujá, o reggae, o forró, o samba reggae... entre outros.

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