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Oasis volta e destroça velhos hinos

Sem voz e burocrático, Liam Gallagher perde de vista vitalidade dos anos 1990

Por Crítica Jotabê Medeiros
Atualização:

O céu desabou sobre São Paulo na noite de sábado, e parecia que ia se repetir o dilúvio do último show do Oasis na cidade, há três anos. Mas aí deu 22 horas, a chuva deu uma trégua e Noel até brincou culpando seu barbudo e cabeludo tecladista, Jay Darlington (uma figura cartunística que parece ter saído direto das páginas dos Freak Brothers, de Gilbert Shelton), pelo aguaceiro. Aproximadamente 25 mil pessoas, segundo a organização, viram o retorno da banda britânica a São Paulo, na Arena Anhembi (5 mil a menos do que o estimado, 12 mil a menos do que o grupo Kiss pôs no mesmo local há um mês). A banda entrou após a anárquica vinheta Fuckin?in the Bushes. Liam Gallagher (vestindo trench coat desenhado por ele mesmo, de sua própria grife, a Pretty Green) surgiu com os gestos de autoproclamada impaciência que o tornaram um símbolo do rock britânico. Microfone acima dos olhos, mãos nos bolsos. Com o pandeiro entre os dentes, imitando o sorriso do gato de Alice, encarava a plateia na frente do palco, vendendo insolência. Ver o Oasis no palco em 2009 deu saudade do Oasis de 1998, quando a banda veio ao Brasil pela primeira vez e tocou no mesmo Anhembi. Como os elefantes, bandas de rock deveriam ter um lugar para se recolher quando estão à beira da morte, e não deveria ser o Brasil. Liam Gallagher desafinava e cantava sofrivelmente, além de estar sem fôlego. Um exagero de teclados e solos burocráticos encobria ótimas melodias, como em The Masterplan. No Oasis, o único que se salvava era o baterista, Chris Sharrock, o único realmente animado e que queria ganhar o jogo. Os outros só queriam ganhar o bicho. O grupo até que foi simpático, interagindo bastante com a plateia. Noel elogiou o fato de São Paulo ser a terra de Robinho, craque do seu time do coração, o Manchester City, na Inglaterra. Mesmo quando reclamavam, pareciam boas-praças. Antes de Morning Glory, Liam reclamou de uma trupe de arruaceiros na frente do palco que atirava coisas enquanto cantava, sujeitos que faziam com que desperdiçasse seu tempo e também o da plateia. Chegou a ameaçar com a intervenção dos "caras grandões" na frente do palco. O discurso até suscitou um início de vaia na plateia: "Hey, Liam, vai tomar no c...", gritava parte da audiência. "Se vocês não pararem de jogar coisas no palco, ele vai embora. É sério", disse depois Noel Gallagher, pedindo a intervenção da segurança. Mas esse incidente não foi adiante, o pessoal acalmou e logo a maior parte do público estava gritando em voz alta: "Oasis! Oasis!" Enquanto Liam demonstrava estar longe de sua melhor forma como cantor (assassinou os hinos dos anos 1990 Morning Glory, Supersonic e Wonderwall), o irmão Noel tocava meio distanciado do show. Ainda assim, foi Noel quem providenciou o melhor momento do concerto, quando tomou o microfone na balada Don?t Look Back in Anger, levada numa toada acústica. Sua química de "baladas melancólicas ardidas", como é o caso de I?m Outta Time, depende fundamentalmente do efeito de contraste entre voz e guitarra, entre luz e sombras, e as guitarras estavam também meio ausentes, brochas. Há algo de monolítico no som do Oasis. Pouca coisa se mexe, nada é muito diferente de um show de Liza Minnelli. Até a cover dos Beatles é sempre a mesma há uma década, I?m the Walrus, que fecha o concerto (aquela banda de Liverpool não tinha outras canções ?). Comparando-os com o Radiohead, contemporâneo deles que acaba de passar pelo País, a distância é quase abissal. O Oasis era principalmente uma pulsão, uma vontade interior, coisa que parece ter se apagado. O Radiohead era o visionarismo, uma visão de futuro. Era a arte. Sua música continua fresca e vibrante.

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