O show biz demolido pela ironia

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Por Crítica Luiz Carlos Merten
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Foi exatamente num outro mês de janeiro, em 1972 - há 36 anos -, que Ross Bagdasarian morreu, aos 53 anos. Há um crédito de dedicatória para ele no final de Alvin e os Esquilos, produzido por seu filho, Ross Bagdasarian Jr. e dirigido por Tim Hill. Ambos agradecem ao escritor por ter sido louco a ponto de criar três esquilos cantores que se transformaram em ícones da cultura pop, atravessando os últimos 50 anos seguidos por uma legião de fãs que se espalha pelo mundo. Veja o trailer de Alvin e os Esquilos Alvin e os esquilos ganham agora nova versão no cinema, mas antes de falar sobre o filme estrelado por Jason Lee, da série My Name Is Earl, talvez seja bom lembrar um pouco a origem dos esquilos cantores e do tema musical por eles protagonizado, que se tornou um favorito do Natal nos EUA (e não apenas lá ) - The Chipmunk Song (Christmas Don''''t Be Late). Em 1958, Ross Bagdasarian era um músico e compositor sem sorte, mais ou menos como o personagem de Jason Lee na abertura de Alvin e os Esquilos. No desespero - e com uma família para sustentar -, Bagdasarian inspirou-se num livro infantil (Duel With The Witch Doctor) para criar Witch Doctor, que terminou sendo um grande sucesso. A canção tinha um refrão (OO EE OO Ah Ah) que terminou sendo a base para The Chipmunk Song, mesmo que a música ainda não tivesse esse título, já que os esquilos simplesmente ainda não haviam surgido na obra do compositor. Alvin surgiu durante um passeio de Bagdasarian com a família, incluindo seu filho agora produtor, pelo Parque Nacional de Yosemite. Um esquilo saltou na frente do carro e o encarou. Bagdasarian diria mais tarde que era como se ele o desafiasse a prosseguir com o carro. Aquele esquilo virou Alvin, que ganhou mais dois companheiros, Simon e Theodore. Desde então - e tendo surgido como bonecos, ao lado do próprio Bagdasarian, no Ed Sullivan Show -, Alvin e os Esquilos percorreram várias mídias, virando um sucesso musical que o cinema tenta recuperar com este filme que busca realizar o cross-over, ou seja, comunicar-se com o público de diferentes idades e faixas sociais. Adultos e crianças estão sendo convidados a viajar na fantasia de Tim Hill, que dirigiu o número 2 de Garfield, usando a mesma técnica de animação do gato balofo para criar os esquilos. Antes que você pense que o filme, ao contrário da revista Piauí, se destina a quem tem um parafuso a menos, saiba que Hill tem duas especializações - em literatura francesa e cinema - pela Universidade Berkeley. Como ele já disse em inúmeras entrevistas - e no site dos esquilos -, os personagens passaram por significativas mudanças de estilo e atitude para sua estréia no cinema. ''''Estes não são mais os esquilos de seus pais, ou avós'''', diz Hill. ''''Sua aparência e seus movimentos diferem bastante das versões anteriores. Eles viraram, definitivamente, popstars... com pêlos.'''' Na abertura do filme, Jason Lee, como Dave Seville - o próprio Ross Bagdasarian foi o primeiro intérprete do papel -, levou o fora da namorada, que não agüenta mais sua instabilidade emocional, que se manifesta na dificuldade para construir uma família. A essa rejeição se soma outra, porque Ian Hawk, no papel de executivo da gravadora, tenta persuadir o herói de que ele não tem vocação para a música e jamais encontrará artistas interessados em gravar suas canções. É quando entram em cena os esquilos. Desalojados de seu hábitat, eles vão parar na cidade. Adotam Dave, ou são por eles adotados, e viram os cantores de suas músicas, que estouram nas paradas. O problema é a ganância de Hawk - gavião, em inglês -, que explora Alvin e os esquilos como se fossem simplesmente uma máquina de fazer dinheiro. O tema do filme, por assim dizer, é o amadurecimento de Dave, que vai perceber a importância da família - e amadurecer para o casamento -, justamente ao defender Alvin e a turma das garras de Hawk. O filme é isso, uma mistura de musical com animação e live action. Co-escrita por John Vitti, da série Os Simpsons, o filme desenvolveu as características dos esquilos, acrescentando novos comportamentos a outros já existentes. Alvin continua sabe-tudo e demolidor, mas ficou mais vulnerável. Simon continua sendo o intelectual do trio, mas agora enfrenta Alvin com a arma do humor. E Theodore, o mais doce dos três, continua louco por comida, mas ganhou uma fragilidade que faz com que todos, Theodore, Dave e o próprio Alvin, queiram protegê-lo. OK, o filme sentimentaliza a virulência dos Simpsons, como olhar sobre a família norte-americana tradicional, mas a ironia de John Vitti permanece inteira, ao ser destilada contra o universo do show biz. Serviço Alvin e os Esquilos (EUA/2007, 90 min.) - Comédia-Animação. Dir. Tim Hill. Livre. Dublado. Cotação: Regular

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