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O ritmo e o som como matéria de criação

Chelpa Ferro exibe novos trabalhos em mostra na Galeria Vermelho e lança livro

Por Camila Molina
Atualização:

Parece que não, mas o Chelpa Ferro, formado por Barrão, Sergio Mekler e Luiz Zerbini, já tem quase 15 anos de trajetória. ''Já éramos amigos há muito tempo quando a gente se juntou para fazer um show com três guitarras'', conta Barrão. ''Fizemos a base, gravamos um disco e, para apresentá-lo, criamos uns objetos também. O nome Chelpa Ferro era para o show e para esse disco'', conta, ainda, Sergio Mekler. Todos os três residentes no Rio e todos os três com uma história individual estabelecida nas artes plásticas - Zerbini (49 anos) e Barrão (48 anos) - e na música e no vídeo - Mekler (44 anos) -, os amigos, ''que vieram do rock'' e da Geração 80, se juntaram sem que tivessem um projeto fechado em mente. ''Com o Chelpa nunca pensamos no dia seguinte, era o aqui e o agora'', diz Barrão. Mas as coisas foram acontecendo naturalmente e o grupo, criado em 1995, é hoje uma das fontes mais férteis da arte contemporânea brasileira, com mostras no País e no exterior (entre elas, representação do Brasil na 51ª Bienal de Veneza, em 2005). Hoje, na Galeria Vermelho, o Chelpa Ferro inaugura a exposição Jardim Elétrico e ainda lança livro, editado pela Imprensa Oficial em parceria com a Caixa Cultural Rio de Janeiro, que perpassa em imagens, escritos dos artistas, DVD e ensaio de Moacir dos Anjos sobre a história do grupo. Como o Chelpa Ferro veio da música, é o som ''matéria como qualquer outra'', diz Luiz Zerbini, para as obras - instalações, objetos, performances - que eles criam. Melhor ainda dizer, como ressaltam, que é o ritmo que está sempre ''imbricado'' em suas criações - mesmo quando não há o som propriamente dito (sons de diversos tipos), há o elemento, por exemplo, do uso ritmado da luz, como na obra Jardim Elétrico, que se pode ver na Galeria Vermelho: um painel com lâmpadas nas cores vermelho, verde, amarelo e azul, que ascendem e descendem. Existe já, como diz Mekler, uma sensibilidade própria do Chelpa Ferro - nesse sentido, também, existe a identificação por parte dos espectadores - quanto às obras do grupo. ''É como uma entidade'', afirma ainda Mekler. Os trabalhos partem sempre de listas de idéias que os três artistas vão reunindo e negociando e que depois ganham corpo a partir de convites para exposições ou apresentações específicas. ''Não temos trabalhos prontos no ateliê esperando para serem expostos'', diz Barrão - Zerbini cede uma área de seu ateliê no Rio para os projetos do Chelpa Ferro e há até um pequeno estúdio para as criações musicais. Os artistas executam suas obras com a ajuda de diversos outros profissionais. Dentro dessa sensibilidade específica do Chelpa Ferro, pode-se destacar a criação de suas obras a partir de objetos do cotidiano, de ''coisas que já existem'', diz Zerbini, e que ''às vezes têm suas funções modificadas para que fiquem a serviço de outra coisa'', completa Barrão. ''Partimos do interesse estético pelos objetos e às vezes nem sabemos o que vai vir das coisas'', afirma Mekler. ''É justamente o interesse pelo impreciso e pelo transitório o que talvez mais aproxime os artistas e melhor defina o trabalho coletivo'', escreve Moacir dos Anjos. ''Interesse pelo ambíguo e pelo passageiro já presente no próprio nome do grupo, junção de uma designação portuguesa antiga e pouco utilizada para dinheiro - meio de troca universal - e a denominação de um metal que muda sua aparência à medida que o tempo passa'', ainda nas palavras de Moacir. Na Galeria Vermelho, em que exibem série de obras inéditas e a instalação Jungle Jam, de 2005, o belo trabalho Dread, por exemplo, é uma caixa (antes, uma churrasqueira portátil) azul e aberta, de onde saem fios pretos e grossos com lâmpadas em suas extremidades. Já Jungle Jam, ainda, promove uma experiência única no piso superior da galeria. Na instalação, 30 motores de máquinas de costura, pregados em seqüência linear pelas quatro paredes do ambiente, têm acoplados em si sacos de plásticos dos mais diversos tipos, todos eles ativados por um sistema com variações e combinações distintas e inesperada de ritmos. Apesar de criarem instalações e objetos diferentes, o que pode também ser visto no livro Chelpa Ferro (252 págs., R$ 70), o que os integrantes do grupo gostam mesmo de fazer são os shows a partir de diversos instrumentos - alguns que eles inventam - e com pontuações visuais. ''É bem trabalhoso de montar, talvez façamos apenas no encerramento da exposição'', diz Zerbini. Como eles contam, no início, muita gente não entendeu o que eles queriam fazer. ''O jeito de fazer a música é diferente de tocar, por isso, no começo, as pessoas achavam que era piada'', conta Barrão. Isso, quase 15 anos atrás. A galeria ainda abre mostras da argentina Ivana Vollaro e de Guilherme Teixeira. Serviço Chelpa Ferro, Ivana Vollaroe Guilherme Teixeira . Galeria Vermelho. Rua Minas Gerais, 350, 3257-2033. 3.ª a 6.ª, 10 h às 19 h; sáb., 11 h às 17 h. Grátis. Até 5/7. Abertura hoje, às20 h, para convidados

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