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O rei dos cinemas

Livro conta história dos Severiano Ribeiro, família que construiu o maior império de salas de cinema do País

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

É uma história de um século de cinema e que passa por quatro gerações. É também uma história de como o Brasil se acostumou a ir ao cinema. E é ainda uma história de como o cinema se acomodou ao Brasil, espalhando-se por todo o território nacional. O lançamento do livro O Rei do Cinema - A Extraordinária História de Luiz Severiano Ribeiro, O Homem Que Multiplicava e Dividia (Editora Record, 206 págs., R$ 37), de Toninho Vaz, conta a história de um clã das salas de cinema no Brasil, uma dinastia que se inicia com o médico cearense Luiz Severiano Ribeiro, de Baturité, e prossegue com seus sucessores: o filho Severiano Ribeiro, obcecado criador de salas; o filho deste, Ribeiro Júnior, produtor das chanchadas da Atlântida; chegando até o atual Luiz Severiano Ribeiro Neto, administrador de uma cadeia de 208 cinemas em várias cidades brasileiras. O segundo Severiano, o "Lampião" (ou Imperador), voraz construtor de cinemas, reaplicava tudo o que ganhava. Assim, conta Vaz, antes dos 40 anos ele já era um "tycoon tupiniquim", dono da maior cadeia de salas do País. Sua história é um épico rodeada de outros grandes épicos e salões requintados, adornados por mármore de Carrara, como o Cine Moderno de Fortaleza, palacete art-nouveau aberto em 1921 com a exibição de Carmem, de Ernst Lubitsch. "Tinha a característica de possuir uma cadeia de cinemas e não gostar de assistir a filmes. Mesmo sendo herdeiro de uma família rica, de aristocratas do café, ele começou a vida vendendo gelo em Fortaleza", conta Vaz. Era implacável na defesa do seu "território" cinematográfico. "Difundia-se a lenda de que qualquer tentativa de abrir outros cinemas estaria destinada ao fracasso, uma vez que Severiano Ribeiro detinha o monopólio da distribuição." É pouco provável que o leitor, qualquer que seja sua idade, já não tenha se sentado em uma poltrona de um cinema Severiano, o segundo maior grupo exibidor do País (o primeiro é a rede Cinemark). Em 2006, segundo dados da companhia, o grupo alcançava 15 milhões de espectadores por ano - público que consumia 2,3 milhões de sacos de pipoca e 1,8 milhão de litros de refrigerantes. Luiz Severiano Ribeiro Júnior, filho e seguidor de Lampião, foi o principal nome da Atlântida Cinematográfica. Financiou algumas das grandes chanchadas da Atlântida, sucessos de público que até hoje dificilmente são igualados, como O Homem do Sputnik, de 1959, comédia dirigida por Carlos Manga, visto por 15 milhões de brasileiros (numa época em que a população do País era de 60 milhões de pessoas). "Lembro que acreditaram em mim e me deram a primeira direção no início dos meus 20 anos", conta Carlos Manga. "Começaram quando o cinema era uma novidade, e ainda mudo." Toninho Vaz, que também escreveu Paulo Leminski - O Bandido que Sabia Latim, compara Luiz Severiano Ribeiro, o Lampião, ao paraibano Assis Chateaubriand, que foi dono da maior cadeia de comunicação do Brasil. "Ambos tinham um trauma comum: eram alvos de críticas que, na maioria das vezes, tinham suas origens numa nebulosa avaliação da lisura ética dos grandes impérios enquanto formadores de cartéis", considera o escritor. Além de lançar a biografia dos Severianos, a Editora Record também editou um álbum ricamente ilustrado que traz em fotos e depoimentos a história desse império exibidor que chegou ao Rio de Janeiro em 1925 - um ano depois, já arrendava o Cine Atlântico, e onde instauraria aquilo que hoje é conhecido como Cinelândia. A família Severiano sempre teve aversão à exposição pública - alergia causada pelas críticas que receberam. O escritor Sérgio Porto chegou a escrever uma crônica onde acusava a família de querer transformar o cinema numa indústria, meta hoje perseguida pelo Ministério da Cultura. "Os críticos, nos jornais importantes, atacavam pelos dois flancos, acusando o velho Ribeiro de sustentar um cartel e o filho Júnior de fazer filmes de baixa qualidade, tentando imitar o padrão de Hollywood".

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