Aos 20 anos, como cantor de hip-hop, sob o pseudônimo de Fresh Prince, Will Smith virou milionário. Aos 21, estava arruinado, graças ao comportamento extravagante que o fez, por exemplo, comprar os seis carros mais caros do ano para ostentar em sua garagem. O próprio Smith ironiza. Diz que não seguiu o conselho do pai, que lhe perguntava para que tantos carros, se só tinha uma b... para sentar. Mas estava escrito que ele permaneceria astro - na TV e no cinema. Nos EUA, Will Smith adquiriu a fama de ''Sr. 4 de Julho''. Lançados em conexão com a grande data da independência norte-americana, Independence Day e Homens de Preto arrebentaram. O fracasso de Wild Wild West colocou-o em guarda e Smith admite que foi por medo que entrou na onda das continuações - Bad Boys 2 e Homens de Preto 2. Os sucessos acumularam-se, mas foi com um relativo fracasso de público - Ali, de Michael Mann - que ele adquiriu respeitabilidade (e provou que era bom). A imprensa dos EUA diz que é o ''Rei'' de Hollywood. Will Smith já estourou no começo do ano com Eu Sou a Lenda, mesmo que a ficção científica adaptada do livro cult de Richard Matheson não fosse nota 10. Ele está de volta agora com Hancock. O filme, estreado na quarta nos EUA, para antecipar-se ao feriado de 4 de julho (ontem), bateu na estréia o recorde de Iron Man, que detém o acumulado do ano. Logo no começo de Hancock, Will Smith está deitado num banco, completamente bêbado. Parece um sem-teto, e é. Mas é um sem-teto dotado de poderes excepcionais, um super-herói que não tem consciência da própria força e provoca mais desastres do que finais felizes na sua tentativa de praticar o bem. No encosto do banco está escrito - ''Move toward your dream'' (Persiga seu sonho). É o tema de Hancock, mas que o herói só vai atingir por meio da renúncia (leia ao lado). O sonho também pode ser outro. Hollywood já conheceu outros superastros negros, de Sidney Poitier a Richard Pryor e Eddie Murphy, que também arrebentaram nas bilheterias (mais do que o respeitável Denzel Washington). Mas nenhum atingiu, por tanto tempo, a posição desfrutada por Will Smith. O reinado de Will Smith coincide com um dado político. Pela primeira vez, um negro - Barack Obama - pode chegar à Presidência dos EUA, cargo que os afro-americanos só ocuparam na ficção (Morgan Freeman em Impacto Profundo, por exemplo). Nunca, como nos últimos anos, tantos negros foram indicados para (ou ganharam) o Oscar. Só de atores tivemos Denzel (duas vezes), Jamie Foxx, Halle Berry, Jennifer Hudson. A primeira a ganhar o cobiçado prêmio, Hattie McDaniel, foi muito criticada por construir o estereótipo da criada negra no clássico ...E o Vento Levou, de 1939. Hattie - que não pôde assistir à pré-estréia do filme em Atlanta, por causa das leis raciais vigentes na Geórgia - defendia-se, provocando. Dizia que era melhor ser doméstica em filmes de Hollywood, ganhando US$ 700 por semana, do que na vida, onde não passaria de US$ 7. De Hattie McDaniel a Will Smith e Barack Obama é uma longa história de mudança, provavelmente não tão radical quanto sonhavam os lendários revolucionários Panteras Negras nos anos 60, mas muito real, de qualquer maneira.