O mundo nasce no coração dos homens

O inédito A Retórica de Rousseau, de Bento Prado Jr., trata a linguagem como um espelho das paixões

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Por Francisco Quinteiro Pires
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Antes de geômetra, o homem foi um poeta. Essa frase é um belo exemplo da concepção de mundo de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). "Excêntrico" era o adjetivo que o filósofo brasileiro Bento Prado Jr. aplicava ao pensador suíço. "Segundo Bento, Rousseau ousou pensar de forma extravagante em relação ao seu tempo, fazendo uma crítica radical à filosofia ilustrada", diz Franklin de Mattos. Professor de filosofia, Mattos divide com Paulo Arantes e Ruy Fausto uma mesa-redonda sobre A Retórica de Rousseau e Outros Ensaios, de Bento Prado Jr. O evento ocorre na Faculdade de Filosofia da USP, às 19h30 de hoje. A Retórica de Rousseau (Cosac Naify, 464 págs., R$ 69) é um ensaio inédito que mostra como a obra do filósofo suíço tem uma unidade, que pode ser reconstruída a partir da teoria da retórica da linguagem, contida no Ensaio Sobre a Origem das Línguas. "Segundo Bento, enquanto os filósofos do século 18 tinham a concepção de que a linguagem era um instrumento de nossas idéias, Rousseau pensava nela como uma forma de atingir o outro", diz. O ser humano não aprende a falar para expressar as suas necessidades físicas, para dizer "tenho fome, tenho sede", mas para exprimir as suas paixões, para dizer "eu te amo, eu te odeio". A linguagem não serve para representar objetos, mas para revelar o sujeito. Organizador de A Retórica de Rousseau, Franklin de Mattos não sabe a razão por que o texto, escrito em francês no início dos anos 1970, chega agora às livrarias. "Já se disse que Bento era uma figura meio socrática, que privilegiava as formas orais de comunicação e desprezava o texto escrito, mas isso não é verdade." Bento Prado Jr. escrevia antes as aulas e publicou vários ensaios em revistas e jornais. Com Rousseau, que tinha a música e não a gramática como modelo da linguagem, Bento mostrou a ruptura das relações entre filosofia e arte pelo platonismo. A dimensão lingüística da razão não pode ser tão privilegiada. Porque, diz Rousseau, o espetáculo da natureza se realiza no coração dos homens e não diante dos seus olhos. Serviço Faculdade de Filosofia da USP. Av. Prof. Luciano Gualberto, 315, tel. 3031-2431. Hoje, às 19h30

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