O mundo de aconchego de Bennett

Crooner de 82 anos se destaca na mostra que teve ainda Kings of Leon

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Por Redação
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"Tony Bennett, o gigante da canção americana!", anunciou Quint Davis, produtor do 40º Festival de Jazz de New Orleans. E a plateia ovacionou o maior crooner americano em atividade, que completa 83 anos em agosto. Tarde muito quente na Louisiana, mais de 50 mil pessoas torrando no sol, mas Tony fazia parecer que era um clube e que todo mundo usava smoking e estava de mãos dadas com o seu amor. Vencedor de 15 prêmios Grammy e mais de 50 milhões de discos vendidos na carreira, Tony mostrou em sua apresentação na sexta-feira, no festival, que é de fato o homem que embala sonhos em celofane. Mas o fato é que ele também já está tirando o pé do acelerador, preparando uma retirada estratégica: agora, antes de cantar, ele coloca em cena a filha, Antonia, que esquenta o público com uns três números antes de entrar o velho gentleman. Bennett empunhou um lote admirável de hits: For Once in My Life, The Best Is Yet to Come, Shadow of Your Smile. Entertainer de primeira, ele dedicou a canção The Good Life a Britney Spears. Acariciou os cidadãos locais com Do You Dnow What if Means to Miss New Orleans e, finalmente, levou a plateia ao delírio com sua mais conhecida interpretação, I Left My Heart in San Francisco. Há também um novo e admirável crooner ganhando também os corações americanos. Ele já esteve em São Paulo e quase ninguém notou, era ainda muito desconhecido. Mas agora, com uma banda fabulosa, está dominando a cena. Trata-se do baixinho John Boutté. Os americanos já o reverenciam, e ele fez um show muito disputado em New Orleans. Os Kings of Leon estão bombadíssimos, e arrastam garotas de 7 anos a 70 anos para seus shows. Estão na capa da Rolling Stone americana e sua mitologia está em franco crescimento, anabolizada por histórias de brigas entre os irmãos Followill (o grupo é formado por Caleb, Jared, Nathan e um primo deles). No palco, o interessante é notar que eles se tornaram bem mais pesados, bem menos "fabricados para imitar roqueiro barbado dos anos 1970" (como eram quando vieram ao Brasil para o TIM Festival). O show do Kings of Leon perde um pouco o pique quando eles tocam as músicas do novo disco, Only by the Night, mas o velho southern rock com que tingiram suas primeiras músicas funciona bem demais quando tocado muito alto. Caleb Followill estava todo limpinho, banho tomado e tudo o mais, e o fundo do palco fica coalhado de namoradas bonitas. Julian Marley tocou com uma big band no festival, e seu reggae está duro e tradicional. Nunca foi tão parecido com o pai, Bob Marley. Bonnie Raitt, ladeada por John Cleary, mantém a mecha branca no cabelo ruivo e a voz de lixa está rascante como nunca. Jon Bon Jovi é baixinho e seu som continua chatinho. Por questões de sobrevivência, o festival tornou-se um curioso caso de simbiose. Às vezes, você parece que está em Woodstock, às vezes parece que está no Lincoln Center, às vezes num bazar beneficente de igreja batista. A mostra consegue escalar os mais tradicionais artistas (caso do crooner Tony Bennett e da veterana Bonnie Raitt), astros do show biz (caso do Bon Jovi e Ben Harper), rock stars no auge (caso dos Kings of Leon) e ídolos da antiga esquerda (caso de Neil Young), tudo ao mesmo tempo. Ao redor de tudo isso, vão-se introduzindo os elementos de uma nova cultura musical, com as misturas e as novas caras já se afirmando no cenário - caso da banda The Iguanas, uma mistura bacana de rock e mariacchi sound, e da cantora Esperanza Spalding, curiosamente a mais brasileira do cenário do jazz atual, cantando canções totalmente arredondadas pela tradição da bossa e do samba. No festival, durante o show dos Kings of Leon, havia alguns garotos usando máscara para evitar contágio da gripe suína. Foi o primeiro grande festival em que a plateia demonstrou algum receio do contágio - a reação do público poderá ser mais bem medida conforme forem avançando os festivais de verão na Europa e os festivais brasileiros começarem. J.M.

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