O melhor da pintura holandesa

Em NY, o Metropolitan exibe sua coleção completa de Rembrandts, Vermeers, Borchs e outros mestres

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Por Tonica Chagas
Atualização:

Fora da Europa, a melhor coleção de pintura holandesa produzida entre os séculos 17 e 19 - formada por 228 quadros, entre os quais 20 Rembrandts, 11 Frans Hals e 5 das 35 obras conhecidas de Vermeer - pertence ao Metropolitan Museum, em Nova York. Normalmente, menos da metade deles é exibida pelo museu. A coleção completa pode ser vista, pela primeira vez, na exposição especial The Age of Rembrandt: Dutch Paintings in the Metropolitan Museum of Art, aberta ao público até 6 de janeiro. Com ela o Metropolitan comemora o 400º aniversário de nascimento de Rembrandt (1606-1669) e o lançamento do primeiro catálogo completo dessa coleção, em dois volumes publicados pela Yale University Press. Mais que isso, The Age of Rembrandt é uma monumental homenagem a financistas, industriais e comerciantes americanos do fim do século 19 e começo do 20 que, com suas doações, criaram a base de um dos maiores centros de arte do mundo. Organizada por Walter Liedtke, curador do Departamento de Pintura Européia do Metropolitan e autor do catálogo, The Age of Rembrandt ocupa nada menos do que 12 galerias no segundo andar do museu. A ênfase na homenagem aos patrocinadores comanda a estrutura da instalação. As obras não foram dispostas por período ou grupos de artistas e sim por ordem de aquisição, começando pela compra realizada em 1871. As notas explicativas ao lado de cada quadro informam em primeiro lugar graças a quem ele passou para o acervo do museu. PRIMEIRA COLEÇÃO A pintura holandesa se destaca no Metropolitan desde quando o museu ocupava uma antiga academia de dança no número 681 da Quinta Avenida, que serviu como sua sede entre 1872 e 1873. A primeira coleção foi formada por seu primeiro vice-presidente, o capitalista do setor imobiliário William Blodget. Em 1870, por meio de marchands parisienses, Blodget investiu US$ 100 mil na compra de 174 pinturas de velhos mestres europeus. Pelo menos um terço delas era de artistas holandeses do século 17. Depois da depressão de 1873, a economia americana floresceu e o período entre 1875 e 1900 ficou conhecido como ''''Os Anos Dourados''''. Fase preciosa também para o Metropolitan, cujo acervo começou a crescer com a criação de fundos para aquisições, além de obras doadas por colecionadores como o financista de ferrovias Henry Gurton Marquand e o banqueiro John Pierpont Morgan. Marquand, segundo presidente do museu, doou 52 pinturas - um presente avaliado na época em pelo menos meio milhão de dólares. Entre aquelas obras, além de Retrato de Um Homem, provavelmente da década de 1650 e o primeiro retrato assinado por Rembrandt a entrar na coleção do Metropolitan, veio da coleção de Marquand o primeiro dos 13 Vermeers que hoje estão nos Estados Unidos, Moça com Jarro de Água, pintado por volta de 1662 e um dos primeiros exemplos do estilo maduro do pintor. Outro dos grandes benfeitores do museu no começo do século passado foi o comerciante judeu Benjamin Altman. Quase a metade das 51 pinturas que ele deixou para o Metropolitan era de obras holandesas do século 17. Segundo Liedtke, nenhuma doação de pinturas holandesas se compara à de Altman, que tinha em sua coleção pelo menos um trabalho de cada um dos paisagistas Aelbert Cuyp, Meyndert Hobbema e Jacob van Ruysdel, mais exemplares da pintura de gênero de Gerard ter Borch, Gerrit Dou, Nicolaes Maes e Vermeer. Pelo menos 6 das 13 pinturas que ele adquiriu como sendo de Rembrandt foram autenticadas e duas das três pinturas de Hals doadas por ele estão entre os trabalhos mais famosos do artista. Liedtke observa que pintores da chamada época de ouro da Holanda eram muito apreciados em toda a Europa no século 19. Mas a atração exercida por eles nos novos milionários americanos tinha mais um motivo: a noção de que seus valores de democracia, vida familiar e a ''''ética protestante'''' de trabalho duro foram antecipados pela classe média da República Holandesa. Ela está na gênese dos nova-iorquinos pois o primeiro assentamento de colonos europeus em Manhattan foi estabelecido, em 1613, por holandeses e a ilha foi rebatizada, em 1624, de Nova Amsterdã. Várias das aquisições mais recentes do Metropolitan foram feitas com recursos vindos em parte do Fundo Rogers. Esse fundo foi estabelecido em 1901, quando Jacob Rogers, então o principal fabricante de locomotivas do país, deixou para o museu a impressionante soma de US$ 5 milhões. Foi com dinheiro do fundo que, em 1981 o museu adquiriu uma obra que lembra a tentativa de os holandeses colonizarem o Brasil, Uma Paisagem Brasileira, pintada em 1650 por Frans Post e exibida na nona galeria da exposição. Ali estão quadros adquiridos a partir de 1960, entre eles Aristóteles com Um Busto de Homero, de 1653, o único Rembrandt comprado pelo Metropolitan com contribuições especiais, que entrou para o acervo em 1961. As obras mais recentes na coleção são 8 pinturas e 10 desenhos doados pelo casal holandês Frits e Rita Marcus, que passaram para o acervo há dois anos e estão sendo exibidos no Metropolitan pela primeira vez. Além de ser uma extensa representação de um dos grandes períodos da pintura, The Age of Rembrandt tem significado especial numa época em que colecionadores de arte preferem, em vez de doar, apenas compartilhar temporariamente suas propriedades com museus para ganhar desconto no imposto de renda. Os que são homenageados na exposição colecionaram para benefício do mundo todo.

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