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O João Gilberto de sempre, agora

Com ingressos esgotados, cantor se apresenta hoje e amanhã no Auditório Ibirapuera, tornando sempre nova a velha bossa

Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

Os felizardos que conseguiram comprar os disputados ingressos - que se esgotaram em pouco mais de uma hora - ou ganhar convites para os shows de João Gilberto, hoje e amanhã no Auditório Ibirapuera, já sabem o que vão encontrar. E por isso mesmo não vêem a hora de fazê-lo. É o João de sempre. Sempre estimulante, sempre elegante e econômico, por vezes surpreendente - por mais que repita parte do repertório -, tornando sempre nova a velha bossa, que burila sem parar em seu cadente violão. Ouça João Gilberto no especial sobre bossa nova no site Bastam apenas uma cadeira, um violão, dois microfones, um tapete e duas caixas de retorno para o cantor fazer um grande show. Sem emoções baratas. Sem cenários ou adereços. Às vezes há o risco de ele reclamar de algum incômodo, como fez no Carnegie Hall, em Nova York, em junho, por causa do ar-condicionado. É hora de parte da platéia ficar ligeiramente tensa, mas contanto que se faça silêncio e desliguem os celulares, o som esteja de acordo com sua expectativa e não tenha nenhum ventinho encanado, o risco de interferência no humor do gênio baiano não é tão grande. Nas últimas vezes em que João se apresentou em São Paulo estava bem alegre e receptivo, até convidando a platéia a cantar junto com ele alguns versos, atitude a que poucos se atreviam décadas atrás. Já houve incidentes constrangedores como quando da inauguração do Credicard Hall, em 1999, ao lado de Caetano Veloso. O cantor reclamou, sempre com razão, da má acústica do local, que perdura até hoje, aliás. Reclamou e reclamou diversas vezes, irritado com o eco. Na platéia de convidados, muitos desses que não têm noção do que é apreciar boa música, estando "em águas", como se diz na Bahia, trataram o cantor com espantosa grosseria. Em resposta imediata aos insultos, João cantarolou "vaia de bêbado não vale", improvisando ao violão, mostrou a língua para o público e aquilo virou um caos. Pena Schmidt, que hoje é superintendente do Auditório Ibirapuera e trabalhou antes com João em outros lugares como o Palace, estava lá. O produtor musical Alexandre Pietro, responsável por eventos e parcerias do Auditório, também já cuidou de João no Tom Brasil, igualmente inaugurado pelo cantor. Ambos, "dois veteranos de João", estão preparados para recebê-lo com o rigor que precisa, tanto porque a infra-estrutura da casa lhes dá segurança, como porque já sabem como lidar com suas necessidades, "que são pequenas, porém delicadas". Tanto é que se João decidir gravar o show para lançar em CD e DVD, como vem se cogitando, bastam ligar alguns plugues e laptops e tudo fica armado em meia hora. "Acabamos de fazer Meninos do Morumbi, com 200 meninos em cena, isso sim dá trabalho", conta Schmidt. "A gente já tem uma infra-estrutura preparada para receber televisão, o lugar onde ficam as câmeras, por onde passam os cabos. Consideramos isso 90% resolvido, porque a casa já tem uma certa rotina de receber o pessoal de tevê sem se transtornar." João mandou vir do Japão o engenheiro de som Ken Kondo e o diretor de palco Toshihiko Usami, com os quais vem trabalhando há cinco anos e gravaram com ele o CD mais recente, ao vivo em Tóquio, em 2004. Na ocasião, o público o aplaudiu por 25 minutos seguidos, o que foi tratado pela imprensa local como um fato histórico. Além de Kondo e Usami, outros acompanhantes inseparáveis do cantor são os dois microfones - um para a voz, outro para o violão, ambos iguais - da marca austríaca AKG, modelo C414, que custam em torno de 2 mil cada um. No metiê musical, essa pequena jóia é conhecida também como JG, ou seja, "o microfone do João Gilberto". "São modelos antigos, desenvolvidos para estúdio, que sempre foram usados para gravar violão. Ao longo da carreira, João percebeu que esse combinava melhor com o tipo de som que ele estava procurando e passou a usar no palco", diz Schmidt. Certa vez, em Los Angeles, Estados Unidos, o cantor ameaçou deixar na saudade 17 mil pessoas que lotavam uma casa de shows para vê-lo, porque os microfones eram de outra marca. Alguns sites na internet afirmam que, como forma de retribuição pela lisonja, a companhia resolveu criar o modelo AKG-414JG. A cadeira que a produção de João pediu tem de ser de madeira, sem adorno nem assento estofado, com altura de 45 cm (medida padrão de sala de jantar) e espaldar baixo, "para que possa se sentar com conforto e não fique maior do que ele na foto", brinca Schmidt. É como quando um pianista pede um banquinho de altura regulável. Nada demais. O ar-condicionado vai estar no ponto que fique confortável para o cantor e para a platéia. "É só desligar o ventilador", simplifica Schmidt. Quanto ao camarim, tem nível de quatro/cinco-estrelas. "A gente tem condições de atender um ser humano bem. E ele não é uma pessoa que pede piscina, jacuzzi, cinco toalhas, não está nessa onda", diz Schmidt. Até porque, como chega aos lugares onde se apresenta perto da hora de começar o show e vai embora assim que termina, João não precisa mais do que todo artista tem: água, chá, frutas, queijo branco, champanha. Elegante e econômico como sua música. NO RIO A venda de ingressos para a única apresentação de João Gilberto no Rio de Janeiro (dia 24) começa amanhã, às 10 horas, pela internet (www.ticketronic.com.br), telefone (21 - 3344-5500, no Rio de Janeiro / 0300-789 7800, nos outros Estados) e na bilheteria do Teatro Municipal (Praça Marechal Floriano, s/nº - Centro), onde o cantor vai se apresentar. Os preços variam entre R$ 30 e R$ 2.100. Serviço João Gilberto. Auditório Ibirapuera. Parque do Ibirapuera, Portão 3. Hoje e amanhã, 21h. Ingressos esgotados

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