O homem que inventou Amy e Lily

Produtor de badaladas cantoras, Mark Ronson é atração de jornada musical

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Por Jotabê Medeiros
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O ano parece que não acaba nunca. Pelo menos para os grandes shows e festivais de música internacional. Agora é a vez do Motomix - The ROKR Festival, que começa neste domingo no Parque do Ibirapuera com apresentação gratuita da banda do alemão Sascha Ring, a.k.a. Apparat - híbrido de rock e eletrônica para multidões. Mas o festival Motomix, que começou com um perfil mais conectado a experiências visuais e eletrônicas, põe foco agora nas investigações sobre as novas expressões da música - e até ajuda a descobrir novos sons e imagens, por meio de um concurso. "Ninguém mais quer receber tudo pronto. Quer participar, quer pôr suas idéias, quer se envolver", diz Loredana Mariotto, diretora de Marketing da Motorola, que mantém o Motomix. Dois nomes de seu elenco ilustram bem essa preocupação com a invenção. O primeiro é o menino-prodígio Mark Ronson, um DJ e produtor que tem em seu currículo créditos da produção dos discos de duas das cantoras britânicas mais bombadas da atualidade: Amy Winehouse e Lily Allen. Tem quem diga, maldosamente, que ele as inventou (também tem um pouco de culpa no disco Back to Basics, de Christina Aguilera). Ronson se apresenta na quinta, dia 29, no Royal Club, na Consolação. Ronson também é amigo e colaborador da elite do hip-hop americano, de Jay-Z, Sean "P. Diddy" Combs, Mos Def, Beastie Boys, M.O.P., e da soul sister Macy Gray, e do comediante Jimmy Fallon, entre outros. Já houve quem definisse Ronson como "o Quincy Jones do século 21", mas ele repele energicamente essa comparação. "Acho que é ridículo me chamar de Quincy Jones do século 21. Quincy é brilhante, é talentoso, faz arranjos como ninguém. Eu fui noivo da filha dele, há 5 anos. Ainda não fiz nada que chegasse aos pés do que ele já fez", disse Ronson, em conversa por telefone com o Estado. "É de fato uma era de boas novas expressões no mundo da produção, como o Timbaland, The Neptunes, que fazem crossovers de rap e rock (e que produzem álbuns de Justin Timberlake e Britney, entre outros). Não invento ninguém, as pessoas que eu produzi tinham idéias claras do que queriam e do que fazem. Tento manter tudo que têm em mente. Eu apenas destaco um som específico. Gosto de metais, então eu destaco os metais", explicou. Filho adotivo do guitarrista Mick Jones, do Foreigner, freqüenta com desenvoltura o grand monde nova-iorquino - já participou de campanha do estilista Tommy Hilfiger. Define o grupo brasileiro Cansei de Ser Sexy como "maravilhoso" e elogia também o Bonde do Rolê. Sobre a amiga Amy Winehouse, prefere a discrição. "Falei com ela há alguns semanas. Não sei nada sobre problemas, mas espero que ela esteja bem", disse. A outra nova expressão que o Motomix traz apresenta-se no dia 28, no Clash Club, na Barra Funda. Trata-se da eufórica banda de rock?n?roll Eagles of Death Metal, capitaneada pelo bigodudo Jesse Hughes e que incorpora, eventualmente, astros do rock e do cinema, como Josh Homme (do grupo Queens of Stone Age) e Jack Black (o ator gordinho de Escola do Rock). É comum, nos shows do Eagles of Death Metal, meninas com bigodes pintados no rosto na linha de frente dos shows, uma homenagem ao seu divertido vocalista. "Cara, estou indo para o Brasil para tocar rock?n?roll! Esse é o melhor trabalho do mundo!", exultou Hughes, também em conversa por telefone com a reportagem, na quarta-feira. O som do Eagles é tão básico quanto simples, e a eficiência toda está justamente no ritmo, na pegada, no entusiasmo. Não por acaso, o grande ídolo de Jesse Hughes é Little Richard, pioneiro do rock?n?roll. "Dude", ele diz, "Little Richard é o primeiro metaleiro da história. Ele chegou com aquele terno cor-de-rosa cantando Tutti-Frutti e amedrontou o mundo inteiro. Ele é extra rock?n?roll", define o cantor e guitarrista. Em seu disco mais recente, Death by Sexy, o Eagles of Death Metal inclui três covers - Beat on the Brat (dos Ramones), Addicted to Love (Robert Palmer) e High Voltage Rock?n?Roll (do AC/DC). Vão tocar covers no Brasil? "Certamente, dude! Sou um grande fã de covers. Eu sigo as pegadas dos meus heróis", ele diz, sempre no seu estilo despachadão. Ah, mas nem sempre a recíproca é verdadeira: um de seus heróis cuspiu nas costas dos discípulos, o Guns ?N Roses. Foi no final do ano passado, após um show em Cleveland. O Eagles of Death Metal abria para a mítica banda de hard rock de Axl Rose. Mas ninguém os conhecia, e eles foram solenemente ignorados pela platéia. Quando Axl Rose subiu ao palco, ironizou: "Então, vocês gostaram dos Pigeons of Shit Metal (Pombos do Metal Cocô)? Não se preocupem, é o último show que eles fazem com a gente." A lembrança desse incidente, em vez de deprimi-lo, faz Jesse Hughes desabar numa gargalhada. "Cara, o Guns é uma das grandes bandas de rock da história. Acho Appettite for Destruction um dos maiores álbuns. Quando um dos meus heróis me chama de Pombo do Metal Cocô... Não foi legal. Mas, no dia seguinte, o pessoal da banda veio nos procurar e disse: ?O Axl é um bundão, não levem a sério aquilo.? De fato, não levei a sério", diz Hughes, rindo.

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