O corpo denso da trajetória de Sergio Romagnolo

Artista faz retrospectiva, dos anos 80 em diante, com pinturas, esculturas e vídeos

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Por Camila Molina
Atualização:

Dos artistas da chamada Geração 80, Sergio Romagnolo participou de mostras antológicas como Pintura como Meio, no Museu de Arte Contemporânea em 1983; e da coletiva realizada em 1984 no Parque Lage, no Rio, mas, curiosamente, sua trajetória não é exclusiva do gênero pictórico ao qual a turma da década de 1980 ficou identificada. Romagnolo teve uma formação "multimídia" na Faap, e na faculdade, como diz, nem tinha aula de pintura. "Fazia por minha conta", diz, emendando que foi numa exposição da mestra Regina Silveira que teve o clique para refletir sobre algo amplo e que poderia ser explorado em caminhos diversos: "Até que ponto um objeto é um objeto?" Por isso, na retrospectiva Sergio Romagnolo - O Corpo da Imagem, no Instituto Tomie Ohtake, se vê uma trajetória diversificada e firmada numa questão sempre presente, a da margem entre o que se representa e o que se apresenta. Sendo assim, Romagnolo é identificado tanto pelas pinturas que realizou na década de 1980 (entre elas, a série dos personagens criados por ele, um casal, feita entre 1985 e 1986) quanto pelas esculturas a que se dedicou em seguida e nas quais recobre de plástico objetos como um fusca, uma bateria, chinelos Havaiana ou as formas dos profetas de Aleijadinho. Para Romagnolo, como diz, é da mistura que sai poesia - da tradição com o contemporâneo, do mundano com o sagrado. São 80 obras abrigadas em duas salas do instituto (que também exibe mostra do americano Bob Nugent), assim como no espaço entre elas. Para Romagnolo fazer uma retrospectiva nesse momento não é algo ruim, pelo contrário: ele não renega as obras mais remotas de sua carreira e, como se percebe, as questões e os temas usados em 1980 são retomados de forma natural em suas pinturas de 2008 - ícones da cultura pop da TV como o Capitão América são interesses para ele antes e agora, já que em sua série nova e recente a protagonista das telas é Samantha do seriado A Feiticeira. Para Romagnolo, também, é com uma mostra como essa que se tem a oportunidade de tirar ideias erradas sobre sua produção e desbastar "atalhos" que se usam para ver sua obra. "Não tem nada de pop", diz. "Nasci em um mundo pop e seria como explicar para o peixe o molhado." A Família Flintstones, embalagens de produtos do café da manhã, a Mulher-Gato, um fusca novamente, fazem parte, na verdade, de uma operação de nostalgia e de "tirar poesia das coisas à sua volta". Serviço Sergio Romagnolo e Bob Nugent. Instituto Tomie Ohtake. Av. Faria Lima, 201, Pinheiros, tel. 2245-1900. 11 h/20 h. Até 3/5 (Nugent) e 10/5 (Romagnolo)

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