O Brasil reconstruído a partir de seus contrastes e confrontos

Encontro debate produção euclidiana, reavalia teses polêmicas e reafirma o lugar central que ela ocupa na interpretação do País

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Por Redação
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Está na primeira página de Os Sertões: diante da perda da ''atualidade'' do seu tema original, a narrativa da campanha de Canudos , o autor, Euclides da Cunha, procurou dar ao livro ''outra feição, tornando apenas variante de assunto geral o tema, a princípio dominante, que o sugeriu'' - postando-se, deste modo, ''ante o olhar de futuros historiadores''. Assista aos melhores momentos do colóquio O futuro não demorou a chegar para a obra máxima de Euclides , debatida e, simultaneamente, consagrada desde o seu lançamento, em 1902. Por conta dela, disse o crítico Sílvio Romero, Euclides da Cunha, tendo dormido obscuro, acordou célebre. Uma celebridade que seus trabalhos posteriores só viriam ratificar - apesar de, morto prematuramente, não haver conseguido escrever um segundo ''livro vingador'', a partir de sua missão ao Alto Purus. Compreensível. Na verdade, o viajante Euclides tinha sempre o mesmo destino intelectual: o Brasil. Por isso, o passado, o presente e o futuro do País passam por ele. Realizado no âmbito das ações do Grupo Estado promovidas ao longo de 2009 para homenagear o escritor no centenário de sua morte, o colóquio Euclides da Cunha 360° - A Obra e o Legado de Um Intérprete do Brasil reuniu no auditório do jornal, no último dia 14, um grupo de intelectuais e artistas para uma série de palestras em torno da produção euclidiana. O encontro, que teve uma plateia de cerca de 120 pessoas, foi dividido em três mesas-redondas. Da primeira delas, intitulada O Ciclo dos Sertões e mediada pelo jornalista Rinaldo Gama, editor do caderno Cultura, participaram os professores Walnice Nogueira Galvão, Luiz Costa Lima e Lilia Moritz Schwarcz. Walnice Galvão tratou da primeira e da terceira partes de Os Sertões, além de comentar a estrutura do livro. Costa Lima deteve-se na interpretação da leitura que Euclides fez do sociólogo polonês Ludwig Gumplowicz. Já Lilia Schwarcz discorreu a respeito da segunda parte de Os Sertões. O Ciclo da Amazônia, mediado por Daniel Piza, editor executivo do Estado, teve como expositores a socióloga Nísia Trindade Lima, que abordou a viagem do escritor ao Alto Purus; o professor Francisco Foot Hardman, que falou sobre a poesia euclidiana, sobretudo a daquela fase; e o ficcionista e cronista do Caderno 2 Milton Hatoum, que mostrou a relação de Euclides da Cunha com o cenário amazônico. O evento se encerrou com Os Ciclos de Euclides, mesa-redonda mediada pela jornalista Laura Greenhalgh, editora executiva do Estado, para a qual foram convidados os professores Leopoldo Bernucci, que analisou o culto ao autor de Os Sertões, e José Leonardo do Nascimento, que traçou um panorama da recepção da obra euclidiana, além de José Celso Martinez Corrêa, diretor, ator, dramaturgo e fundador do Teatro Oficina. Para Zé Celso, Os Sertões, que ele adaptou para o palco, ''é como uma universidade, que forma o leitor''. Na abertura do evento, o diretor de Conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, lembrou que o jornal se encontrava, naquele mesmo dia, sob censura - uma medida judicial o impedia de se pronunciar sobre determinado assunto. ''Isso é extremamente preocupante e, na nossa visão, um retrocesso que o País não pode correr o risco de ver acontecer'', disse Gandour. Alguns dos participantes do encontro falaram de maneira mais informal; outros leram textos. Acompanhe a seguir os principais trechos das palestras.

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