O alegre saber de um gênio chamado Godard

Pague pouco pelo autor mais provocativo da nouvelle vague

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Cinéfilos de carteirinha não podem perder a oportunidade que a rede de locadoras 2001 lhes oferece de fazer uma coleção dedicada a um dos autores mais importantes do cinema. Antes mesmo do primeiro longa - Acossado (À Bout de Souffle), de 1959 -, os curtas de Jean-Luc Godard já anunciavam sua intenção de fugir ao convencional. São 55 anos de cinema - o primeiro curta é de 1954, Opération Béton - e, neste mais de meio século de filmes, a polêmica nunca cessou. Godard, gênio inovador ou coveiro do cinema? Jean Tulard faz a pergunta em seu Dicionário de Cinema, mas a indagação não é só dele. Crítico, com o pseudônimo de Hans Lucas, Godard venerava o cinema de Hollywood, colocando em seu panteão particular diretores de westerns, musicais, filmes noir e de gângsteres. Passando ele próprio à direção, o que fez foi lançar ao lixo a cartilha hollywoodiana, o bê-á-bá da narração. Na década que mudou tudo, os revolucionários anos 60, ninguém foi mais revolucionário do que Jean-Luc, arauto do movimento nouvelle vague (que o antecedeu, é verdade), no cinema francês da segunda metade dos 50. Alguns de seus companheiros de geração (François Truffaut, Jacques Démy) morreram, outros aderiram a um cinema mais comercial, filmando não importa o quê mas nunca não importa como (Claude Chabrol). Godard continuou sempre o grande iconoclasta. Num mundo que mudou radicalmente, seus filmes recentes continuam provocadores e desconstruídos como os antigos. Para celebrar o artista, a 2001 criou um Festival Godard. Dê uma olhada nos filmes que você encontra na rede - Uma Mulher É Uma Mulher, O Pequeno Soldado, Pierrot le Fou (O Demônio das Onze Horas), Masculino-Feminino, A Chinesa, Week-End à Francesa, Band à Part, Le Gai Savoir, Détective, Hélas pour Moi. Todos estão à venda por R$ 29,90 cada um. Em Week-End, de 1968, um ano emblemático, Godard proclamou o fim do cinema, valendo-se para isso de um congestionamento monstruoso de trânsito que provocava o colapso do ?sistema?, para usar um conceito muito difundido entre utopistas da época. O recomeço veio em 1969, com Le Gai Savoir, que propõe uma série de diálogos entre Juliet Berto e Jean-Pierre Léaud. Ela se identifica com o Terceiro Mundo, filha de Patrice Lumumba (e da revolução). Ele é Émile Rousseau, descendente do filósofo Jean-Jacques. O sonho dela é tudo aprender, tudo ensinar e voltar contra o inimigo a ?arma? que ele usa para dominar - a linguagem. Justamente a linguagem é o tema do cinema de Godard. Le Gai Savoir (O Alegre Saber) bem poderia ser a súmula do seu pensamento. Serviço Uma Mulher É Uma Mulher. França, 1961. DVD da Silver Screen, por R$ 29,90

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