Novo disco de Anna Netrebko decepciona

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Por João Luiz Sampaio
Atualização:

Ela é dona de uma das mais belas vozes a aparecer no cenários nos últimos anos; musicalidade, tem de sobra; a presença no palco, estonteante. Apesar disso tudo, ou talvez por isso mesmo, o último CD da soprano russa Anna Netrebko, uma colcha de retalhos de canções e trechos de operetas, decepciona. Souvenirs está sendo vendido como um álbum de formação de Netrebko - cada faixa teria algo a ver com seu passado, sua história pessoal e profissional. Até aí, tudo bem, a concepção explica a coleção pouco lógica de repertório. O problema real, no entanto, está na interpretação - o canto raramente deixa de ser apenas correto e, quando acontece, vira não mais que fogo de artifício para promover seus dotes de cantora. É uma pena. Em seu primeiro disco para a Deutsche Grammophon a soprano interpretava uma seleção de árias de Mozart, Janácek, Verdi - veículos perfeitos para a sua voz. O disco seguinte já era de gente grande - standards do repertório com regência de Claudio Abbado, que ajudou Netrebko a levar a expressividade de seu canto a um outro patamar. Apareceu então o interessante Duets, com o tenor Rolando Villázon, com quem ela também gravou La Bohème. Todos esses álbuns mostram uma jovem soprano enfrentando um repertório complicado, em que as comparações possíveis são muitas, e vencendo o desafio. Já em Souvenirs - com música de Charpentier, Lehár, Grieg e até Lloyd Weber - o que ouvimos é uma soprano autocomplacente, que usa a música como veículo para as maravilhas de sua voz. Não era demais esperar o contrário.

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