Nova York ganha cachoeiras com obra de arte

Artista integra à paisagem da cidade quatro fontes mecânicas, enfatizando a relação da natureza com o espaço urbano

PUBLICIDADE

Por Tonica Chagas e Nova York
Atualização:

Num dos maiores projetos de arte pública do mundo, quatro cachoeiras que despejam cerca de 27 mil litros de água por minuto vão integrar a paisagem urbana nova-iorquina neste verão. O East River, parte do Rio Hudson que margeia o lado leste de Manhattan, terá seu percurso eterno, constante e plano transformado pelo escandinavo Olafur Eliasson com a instalação The New York City Waterfalls, formada por gigantescas fontes mecânicas construídas na área do porto da cidade. As águas vão rolar a partir de amanhã e até 13 de outubro, das 7 da manhã às 10 da noite, e serão iluminadas depois do pôr-do-sol. Um dos quatro pontos onde as cachoeiras foram instaladas é a Brooklyn Bridge, um ícone da cidade. Sob a cabeceira da ponte ancorada no bairro do outro lado de Manhattan, o rio vai voltar ao seu leito com o peso de dez toneladas por segundo, numa cortina de 30 metros de altura e quase 25 de largura. Ainda no Brooklyn, foi construída outra, com 40 metros de altura e 10 de largura, próxima da Promenade, o calçadão que fica à beira d?água. A terceira, perto da estação das balsas na Governor1s Island, também tem 40 metros de altura, mas é 10 metros mais larga que a anterior. A última, no píer 35, ao lado da Manhattan Bridge, mede 33 m x 10 m. Para enfatizar a relação entre natureza e espaço urbano, Eliasson, de 41 anos, já tingiu rios em Bremen, Los Angeles e Tóquio de verde fluorescente e criou uma pequena inundação nas ruas de Johanesburgo. The New York City Waterfalls é seu maior projeto de arte pública até agora. "Acredito que precisamos fazer a natureza mais tangível e relevante para as pessoas a fim de somar clareza à discussão sobre recursos naturais", diz ele. Esse trabalho "é uma tentativa de sintetizar e ampliar todas essas questões sobre meio ambiente, políticas, planejamento urbano, responsabilidade, educação e fenômenos naturais dentro de uma única obra". Ele teve a idéia das cachoeiras há cerca de seis anos e o projeto levou pelo menos três para ser executado. Boa parte do tempo foi despendida no estudo dos locais e do impacto que o despejo de toneladas de água poderia provocar. Para começar, elas não poderiam ficar próximas das saídas de esgotos e tinham de evitar a desestabilização nos túneis de metrô que passam por baixo do rio. Foram feitos rastreamentos com sonar para mapear profundidades e apontar a localização de carros, geladeiras, barcos e tudo o mais que tem o fundo do East River como destino final. Além disso era preciso calcular o barulho dessas fontes monumentais e o efeito que o vento teria nelas. Os quatro pontos escolhidos ficaram entre os poucos onde as necessidades técnicas se encaixavam. The New York City Waterfalls é uma versão monumental de Reversed Waterfall, criada por Eliasson há dez anos e que ficará em exibição no P.S.1 durante o período em que as cachoeiras estiverem funcionando. O sistema que foi criado suga a água do rio, bombeia ela para cima e a libera de volta para baixo. Para evitar distúrbios no ecossistema do rio, como a captura de peixes e outros animais aquáticos, foram construídas piscinas que filtram a água antes de ela ser bombeada para cima. As cachoeiras são feitas de estruturas de alumínio assentadas numa base de concreto. Puxada por bombas de 300 cavalos de força movidas por energia renovável, a água sobe por canos de 45 centímetros de diâmetro. Lá no alto, ela passa por uma lâmina que articula seu fluxo de descida e por barreiras denteadas para ficar mais espumosa, como a de cachoeiras naturais. O projeto foi comissionado pelo Public Art Fund, organização sem fins lucrativos fundada há 31 anos para promover artistas contemporâneos em espaços públicos de Nova York. O fundo informa que não entrou um centavo de dinheiro público nos US$ 15 milhões de custo da obra, financiada totalmente por fundações e empresas privadas, entre elas a Bloomberg LP, cujo dono é o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg. "Arte pública em grande escala é uma parte do que faz a cidade de Nova York o centro cultural do mundo", argumenta o prefeito. Há três anos, Gates, trabalho produzido e custeado (US$ 20 milhões) inteiramente pelos artistas Christo e Jeanne-Claude, transformou o Central Park nas últimas semanas de inverno. Segundo a prefeitura, os 7.500 portais com painéis alaranjados enfileirados em caminhos do parque atraíram cerca de quatro milhões de visitantes, que geraram US$ 254 milhões para a cidade. As cachoeiras de Eliasson devem render no mínimo US$ 50 milhões, segundo estima a prefeitura. Vários hotéis estão oferecendo pacotes especiais que as incluem como atração e há agências de turismo que planejaram passeios de barco e bicicleta para exibi-las. Mas elas poderão ser vistas de perto e de graça por quem usar as barcas para Staten Island e Governor?s Island, que atravessam o East River e para as quais não se paga passagem. Eliasson espera que as quatro cachoeiras provoquem os nova-iorquinos a pensar e discutir sobre o rio que banha sua cidade. "Na minha geração", lembra o artista, "a necessidade de desenvolver energia sustentável ficou aparente e a água, em todas as suas formas, tem um papel central". T.C.N

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.