Nova exposição do Farol Santander traz três séculos de legado brasileiro

'Identidades - 22&22&22’ celebra a independência política e a autonomia cultural no Brasil, refletindo o centenário futuro na arte

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Por Ana Lourenço
Atualização:
'Tiradentes' (1948-1949), de Portinari, abre alas para a exposição ao ser a única obra exibida logo na entrada do Farol Santander São Paulo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

De modo geral, a busca de uma identidade nacional é uma constante na história do Brasil. Se você sair pela rua perguntando para pessoas aleatórias o que é ser brasileiro, duvido que obterá a mesma resposta. Claro que nossa abrangência de território e divergências regionais não facilitam esse consenso, mas para maioria, ele está na arte - seja em forma de música com o samba, em forma de cores com as pinturas e a nossa natureza ou em forma de sentimento, com a poesia.

A arte, afinal, consegue refletir os valores, crenças, costumes e críticas de um contexto social e histórico, ajudando a compreender o olhar da sociedade. Sabendo dessa importância, o Farol Santander propõe uma reflexão sobre a nossa identidade a partir da arte e de sua interface com outros campos de conhecimento em sua nova exposição Identidades – 22&22&22, que vai até o dia 22 de maio. Sob curadoria de Ana Cristina Carvalho e Carlos Augusto Faggin, e concepção de projeto visual e arquitetônico de Fernando Brandão, a mostra traz três séculos de legados com 100 trabalhos do Acervo dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo e da Coleção Santander Brasil.

'A Ventania', de Anita Malfatti, esteve presente na Semana do 22 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Tudo começa numa tarde de sábado de 1822, quando d. Pedro I grita às margens do Rio Ipiranga e garante a independência política do País. A partir daí começa uma procura para saber o que é então esse Brasil, afinal, não foi porque não éramos mais colônia que nos sentíamos brasileiros. Mas a resposta, de fato, só começa a ser construída, 67 anos depois, com a Proclamação da República. “Apesar da República não ser responsável diretamente por uma nova visão de Brasil, ela vai trazer novos heróis, principalmente heróis que lutam contra essa característica de monarquia. Então Tiradentes, por exemplo, vai voltar com muita força”, pontua o historiador Rafael Barbi.

Cem anos mais tarde, no dia 13 de fevereiro de 1922, um evento cultural marcava a história da cidade de São Paulo, rompendo com a estética do passado e se aprofundando sobre o que é ser brasileiro. “Pouca gente percebe, mas os 100 anos da independência política gerou a arte moderna, onde a gente se pergunta quem somos”, observa Fernando.

Imersão no mundo artístico

É justamente a obra do dentista que foi morto em praça pública que nos recebe ao entrar no icônico prédio do centro da cidade. Com quase dois metros de comprimento, um dos trabalhos mais importantes de Cândido Portinari captura a atenção de todo e qualquer visitante. Até mesmo aquele que não irá visitar, algo que marca a democracia da exposição, pois é a única obra exibida logo na entrada do Farol. Outra curiosidade desta e de todas as artes exibidas, é a proximidade que o público pode ficar dos quadros, fotografias e esculturas. Diferentemente dos museus tradicionais que com uma linha no piso diz até onde o visitante pode chegar, Identidades permite que o público se aproxime e estude, com olhar atencioso e demorado, cada uma das obras. 

Uma dasinstalações em evidência no primeiro andar da exposição é o 'Fragmento de Forro da Igreja' (ano e autor desconhecidos). Originalmente parte do teto de uma capela, o fragmento foi adquirido pelo Governo do Estado para o Palácio dos Bandeirantes, em 1968 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A ideia, de acordo com os curadores, é de transportar o visitante para cada um desses séculos, divididos por andar. Assim, a disposição das obras não está colocada em ordem cronológica, mas sim, de maneira que se encaixe dentro da temática representada por cada século, além de ambientação sonora e detalhes artísticos como iluminação, piso e poemas das épocas retratadas para garantir total imersão do público. “Quando você vai num museu, você vê artes de diferentes épocas em um mesmo contexto. As pessoas não abstraem o contexto da época. Aqui, como estamos falando de dois séculos, eu quis mostrar como o mundo era pensado, para os visitantes entenderem o contexto da época, ver que as pessoas viviam à luz de vela, onde as ruas eram de pedra”, conta Fernando. 

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Após passar pelo hall, vamos para o 24.º andar, que conta sobre o século 19, através de reflexões, especialmente sobre a abolição da escravatura, e de representações de costumes da época, com louças, lustres e mobiliários da época. Em seguida, vamos para o andar dedicado à Semana de Arte Moderna de 1922 e à produção artística do século 20. O ponto de destaque é A Ventania (1915), de Anita Malfatti – que esteve presente na semana – logo ao centro do espaço. Mas é rodeada de grandes nomes como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Ismael Nery. 

No último andar da exposição, a arte contemporânea ganha destaque Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Por fim, o último andar da exposição celebra a arte contemporânea, com artistas que exaltam a diversidade de expressões étnicas e de gênero. A ala, chamada “Um passeio pela Avenida Paulista” simula um trajeto pela avenida icônica, que representa todas as tribos, de acordo com os curadores. Além de telas e fotografias de artistas contemporâneos, a sala é preenchida com espelhos, na intenção de fazer o público se ver. “A ideia é resgatar um pouco da nossa autoestima e orgulho. Então ela termina mostrando que todo esse legado pertence a você. É uma exposição para admirar e se ver, perceber que esse legado é nosso e que tudo isso faz parte da gente”, diz Fernando.

Serviço

Identidades – 22&22&22 Farol Santander São Paulo - R. João Brícola, 24 Em cartaz até 22 de maio de 2022.  Funcionamento: de ter. a dom., das 09h às 20h. Ingressos: R$ 30. bit.ly/expo222222

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