No César, a vitória de O Segredo do Grão

Produção sobre a presença árabe na sociedade francesa recebeu estatueta[br]de melhor filme no Oscar francês; Marion Cotillard foi melhor atriz por Piaf

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Por Luiz Carlos Merten
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Um belo filme sobre uma família de árabes que vive o dilema de manter suas tradições ou abandoná-las, integrando-se à sociedade francesa, foi na sexta-feira o grande vencedor do César, o Oscar do cinema da França. O Segredo do Grão (La Graine et le Mulet), de Adbellatif Kechiche, venceu nas categorias de melhor filme, diretor e roteiro - assinado pelo próprio cineasta -, e a jovem Hafsia Herzi ainda foi recompensada com o prêmio à melhor ?esperança? feminina, como estrela do futuro. É o terceiro filme de Kechiche e seu segundo César principal. Há quatro anos, ele já havia recebido o prêmio da Academia de Cinema da França por L?Esquive. O Segredo do Grão conta a história deste pai de uma família árabe que cultiva o sonho de construir um restaurante tradicional. Como sempre no cinema de Kechiche, o protagonista é um homem introvertido, silencioso, que catalisa as ações dos personagens ao redor e eles são todos muito falastrões. Os críticos destacam que uma das grandes contribuições (a maior?) do diretor está justamente no seu verbo, nesta mistura de um francês correto e até erudito com a fala espontânea dos franceses de ascendência árabe. Marion Cotillard, indicada para o Oscar de melhor atriz, ganhou o César por sua interpretação em Piaf - Hino ao Amor, de Olivier Dahan. Mathieu Amalric levou a estatueta de melhor ator por sua criação como o tetraplégico de O Escafandro e a Borboleta - e o filme de Julian Schnabel também concorria ao Oscar de melhor produção em língua estrangeira. Marion, Amalric, Kechiche e Hafsia foram todos premiados em janeiro pela Associação dos Correspondentes Estrangeiros na França. O Segredo do Grão também foi premiado no Festival de Veneza, em setembro passado. Embora não tenha o prestígio - nem a mídia - do Oscar, o César é um prêmio importante porque contempla as cinematografias francófonas, e não apenas a francesa. A França é um dos raros países que, em todo mundo, resistem à dominação maciça que Hollywood exerce sobre o mercado. Outro país que resistia, a Coréia, registrou no ano passado uma sensível baixa na frequentação interna, o que já lançou dúvidas sobre a capacidade da cinematografia asiática de manter os números que vinha exibindo. Sami Bouajila foi o melhor coadjuvante do ano, por Les Témoins, de André Techiné, no qual o cineasta faz a revisão do sonho de liberdade sexual de sua geração, interrompido pela aids. Julie Dépardieu foi a melhor atriz coadjuvante por Un Secret, no qual o diretor Claude Miller encontrou um viés original para falar sobre o Holocausto. Mais do que o nazismo, é o adultério que desencadeia, aqui, a tragédia. O César para o melhor primeiro filme foi para Persépolis, de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud, que também recebeu o prêmio para o melhor roteiro adaptado. Piaf recebeu os Césares de fotografia, direção artística, som e figurinos. A melhor canção (de Alex Beaupain) foi do filme Les Chansons d?Amour, de Christophe Honoré. Laurent Stocker foi a melhor esperança masculina, por Ensemble, c?Est Tout, de Claude Berri . O melhor documentário foi L?Avocat de la Terreur, de Barbet Schroeder.

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