No centenário de Athos Bulcão, um inventário da obra

Iphan inclui piso de pedra portuguesa do TRT e painel de azulejos da Fiocruz, restaurado em 2017, no levantamento de sua obra de integração artística na arquitetura

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Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Por Antonio Gonçalves Filho
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Quando o artista Athos Bulcão (1918-2008) chegou a Brasília, em 1958, a convite do arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), a cidade era ainda um gigantesco canteiro de obras. Bulcão já havia trabalhado com Niemeyer em Belo Horizonte, mas o que aguardava Bulcão em Brasília era maior: pintar murais de azulejos para os principais edifícios públicos projetados pelo arquiteto, trabalhos capazes de se harmonizar com a limpeza formal da arquitetura da futura capital da República. Bulcão, cuja obra, de vocação construtivista, dialoga perfeitamente com Niemeyer, fez mais que azulejos com elementos geométricos. A composição modular em seu trabalho – cuja expressão máxima é o relevo em concreto do Teatro Nacional de Brasília – é a perfeita tradução da simbiose entre arte e arquitetura presente na arte do carioca.

Detalhe da exposição deAthos Bulcãono Centro Cultural Banco do Brasil Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

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Curiosamente, a matriz da azulejaria de Bulcão – uma herança portuguesa – foi a pintura de Vieira da Silva (1908-1992), artista nascida em Portugal e naturalizada francesa, que conheceu no Rio nos anos 1940, quando começou a pintar azulejos, influência, aliás, reconhecida pelo próprio pintor. Os ‘quadradinhos’ que aparecem no fundo das telas de Vieira da Silva, fragmentos que constroem uma paisagem à maneira cubista, foram, de fato, elementos marcantes na composição modular de Bulcão.

Atividade menos falada de Bulcão foi sua participação como cenógrafo e figurinista de teatro. Amigo do escritor mineiro Lúcio Cardoso, para o qual desenhou cenários da peça O Coração Delator, baseada em Edgar Allan Poe e dirigida por ele, Bulcão, entre trabalhos memoráveis, assinou os figurinos da peça Tio Vânia, de Tchekhov, montada pelo Tablado em 1955, e O Dilema de um Médico, de Bernard Shaw, dirigida por Paulo Francis um ano depois. Detalhista, Bulcão ficava furioso quando a cor dos figurinos não era a originalmente concebida.

Ontem, para celebrar o centenário de Athos Bulcão, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), lançou o inventário da obra do artista, incluindo outros trabalhos além dos 261 de integração artística na arquitetura, como o piso de pedra portuguesa no Tribunal Regional do Trabalho e o painel de azulejos da Fiocruz, restaurado no ano passado.

Entre as obras relevantes de Bulcão destaca-se o primeiro painel de azulejos que fez para Brasília, na igrejinha Nossa Senhora de Fátima (1957) e o painel da Catedral Metropolitana (1970). No exterior, o painel da sede da editora Mondadori (1971), projetada por Niemeyer, é sua principal obra.

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