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Nas telas, a paixão pelos livros de aventura

Em Coração de Tinta, Brendan Fraser traz heróis da ficção para o mundo real

Por Flavia Guerra
Atualização:

Mortimer ?Mo? Folchart é um pai dedicado que educa sua filha Maggie com o melhor da literatura mundial. A única ressalva é que não lê, em hipótese nenhuma, histórias em voz alta para ela. A razão é simples. Na primeira, e última vez, em que fez isso, a mãe da menina desapareceu nas páginas do livro e os vilões, e heróis também, vieram parar ?no mundo real?. Esse é o coração da nova aventura vivida no cinema por Brendan Fraser, o Mo. É ele esse pai que tem o ?coração de tinta? capaz de tornar reais os personagens das páginas dos livros. "Precisávamos de um ator velho o suficiente para ser um pai de uma adolescente, mas com cara e jeitão de jovem também o suficiente para, às vezes, ser tão ?menino? que é a filha quem tem de cuidar dele", comentou o diretor Iain Softley (de A Chave Mestra) em conversa com o Estado. De fato. Quando se conversa com ?a filha?, a jovem atriz inglesa Eliza Bennett, e com o ator norte-americano, entende-se por que a dupla funciona tão bem na tela. Coração de Tinta não é uma obra definitiva da literatura jovem, mas tem qualidade suficiente para despertar nos leitores a paixão pela tradição literária. Inspirado no best-seller da alemã Cornelia Funke, o filme também não é uma obra máxima. Coração de Tinta tem a desvantagem, e o desafio, de ser a todo momento comparado com o fenômeno Happy Potter (apesar de as semelhanças entre os dois casos residir somente no fato de ambos serem adorados pelo público jovem). Para compensar, tem um elenco que não deixa por menos. Helen Mirren empresta sua fleuma britânica à tia, e bibliófila, Elinor; e Paul Bettany empresta seu carisma ao contraditório, e por isso o mais interessante, personagem de Dedo Empoeirado; Andy Serkis (de O Senhor dos Anéis) é o vilão Capricórnio e Jim Broadbent (de As Crônicas de Nárnia) é Fenoglio, o autor do livro que ganha literalmente vida quando lido em voz alta por Mo. Para completar a receita, claro, Fraser. Ele é de fato perfeito para o papel. E sabe disso. Do alto de sua simpatia quase descuidada (em se tratando de tempos em que cada gesto das chamadas ?estrelas de Hollywood? são milimetricamente ?dirigidos? por seus agentes e assessores), o ator norte-americano não esconde seu ?dom de encantar plateias juvenis? e solta o verbo: "É verdade. Eu não sei por que, mas funciono muito bem com o público jovem mesmo. Veja a minha lista de filmes e vai entender que, assim como o do personagem, esse dom é quase uma maldição", brinca ele, que ficou famoso por protagonizar, digamos, filmes não exatamente ?de arte? como Jorge - O Rei da Selva e A Múmia. "Ok, ok. Eu sei... Eu olho hoje o Jorge e me perguntou se era eu mesmo. Mas a Múmia, vocês vão ver, um dia será um clássico", ironiza o ator, que atualmente também filma outro que promete ser a sensação blockbuster de aventura das próximas férias: G.I.Joe, mais conhecido como Comandos em Ação. "Estávamos filmando A Múmia e descobri que o diretor Sommers havia fechado o contrato de G.I.Joe. E eu disse imediatamente: Quero um papel para mim!", conta o ator. "E ele respondeu: Mas não temos nem roteiro ainda! E eu rebati: E daí, A Múmia também não tem roteiro, mas a gente filma do mesmo jeito." A rara despretensão e jogo aberto de Fraser compensa a fama de escolher mal seus papéis. Fama injusta, se lembrarmos que ele tem no currículo os ótimos O Americano Tranquilo, Deuses e Monstros. "É verdade, mas só também. Não se esqueça que também filmei em São Paulo (12 Horas Até o Amanhecer). O filme não é lá uma maravilha, mas sua gente é. Os brasileiros me fizeram voltar a acreditar que ainda existe simpatia e generosidade autêntica neste mundo." Serviço Coração de Tinta - O Livro Mágico (Inkheart, Alem-UK- EUA/ 2008, 106 min.) - Aventura. Dir. Iain Softley. Cotação: Regular

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