Na SP-Foto, artistas expõem seus trabalhos sobre a relação do homem com o ambiente

Três fotógrafos brasileiros levam para a SP-Foto 2019 imagens que alertam para a busca de equilibrio para evitar maiores destruições ambientais

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Na foto como plataforma para uma performance, na imagem manipulada no momento em que ela é feita e impressa ou em realidade virtual, três artistas mostram, na SP-Foto – Feira de Fotografia de São Paulo, que termina no domingo, 25, sua preocupação com a biodiversidade num momento em que o incêndio na Amazônia traz de volta ao primeiro plano a discussão sobre o meio ambiente.

Água é Ouro', de Nelson Porto, à venda na SP-Foto Foto: Nelson Porto

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“É muito emocionante, difícil até, expor em um momento como esse. Estou na verdade apresentando imagens que fazem parte de um projeto de mais de sete anos, em Altamira, no Pará, justamente a cidade que lidera o ranking de queimadas no Brasil”, diz o paulistano Caio Reisewitz, 52 anos, cujo trabalho gira em torno do conflito entre a natureza e o desenvolvimento urbano e está sendo apresentado na feira pela Galeria Luciana Brito.

Na SP-Foto, ele mostra as imagens Ilha de Arapujá, Anapú e Cutuá. “Eu fui para Altamira em 2013, durante a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. E voltei em 2018, quando uma parte da floresta já não existia mais”.

Assim, o fotógrafo chama atenção para o fato de que retrata, em Cutuá, por exemplo, uma “floresta que existe”; mas, dentro da lógica de sua pesquisa, ele mostra “o desaparecimento da imagem, chegando no limite da representação da imagem”. “As fotografias mais claras da série não são de uma floresta destruída. Elas são manipuladas no momento da captação e da ampliação. O desaparecimento da imagem é uma vontade de conversar sobre o desaparecimento da floresta”, explica.

'Cutuá', deCaio Reisewitz, na SP-Foto Foto: Caio Reisewitz

Para Reisewitz, a fotografia alcançou um status de imediatismo muito forte nos últimos 10 anos com as redes sociais. “Uma coisa que está acontecendo na Amazônia é muito rapidamente reverberada para o mundo.” E o que o choca, em suas andanças, é a sua falta de poder de ação. “Não posso intervir, mas tenho a força para mostrar essa devastação com o meu trabalho e fazer as pessoas pensarem um pouco.”

Nascida em Belém, Luciana Magno, 32, coloca o foco de seu trabalho na relação entre o ser humano e a paisagem em que vive. Ela trabalha com performance, associada à fotografia e ao vídeo, inserindo a si própria nas imagens com que trabalha. Na imagem da série Orgânicos, apresentada na SP-Foto pela Janaina Torres Galeria, por exemplo, seu cabelo serve de ninho para um pássaro.

Orgânicos foi uma pesquisa que fiz dentro do Estado do Pará sobre a utilização dos recursos naturais pelo homem. Cheguei à Transamazônica, à construção da usina de Belo Monte. Fiz essa incursão em uma tentativa de entender essa relação que muitas vezes é prejudicial para o sistema e para a gente. Se as pessoas entendessem que não estamos separados da natureza, seria mais fácil manter o equilíbrio, evitar a destruição”, explica.

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Na foto de Luciana Magno, seu cabelo serve de ninho para um pássaro Foto: Luciana Magno

O carioca Nelson Porto, 40 anos, segue na mesma linha e afirma que a discussão sobre a relação entre homem e natureza é urgente. Seu trabalho na série Liquenscape, resultado de um período de 10 dias no Parque do Itatiaia, no Rio, que pode ser vista no estande da Bianca Boeckel Galeria, toca nesse tema, mas o faz por meio de uma investigação entre o macro e o micro. Esta é sua segunda SP-Foto, e a segunda vez que ele leva a realidade virtual para a feira. “Isso vem de uma vontade grande de levar o visitante para o parque, para o parque como eu o vejo dentro da minha subjetividade e por meio da minha lente. E de colocar o público na posição do fotógrafo enquanto ele está realizando aquele trabalho”, conta. As pessoas saem muito zen, garante.

Porto diz que sua mensagem é “totalmente ecológica”. “O ser humano precisa acordar, e sinto que consigo causar um envolvimento, uma relação afetiva e uma sensação de presença real na natureza e ele vai conseguir entender algo que ele, no cotidiano da metrópole, talvez não consiga – e isso talvez mude alguma coisa em seu pensamento e influencie alguma escolha que ele vá fazer.”

Uma das fotos que ele está expondo é Água é Ouro, que tenta lidar com o que o artista chama de “valores invertidos”. “Vivemos em um momento de destruição. Tenho uma relação profunda com os povos indígenas e observei de perto o ímpeto minerador. O ouro é a água, não o metal”, finaliza.

13ª SP-FOTO Shopping JK Iguatemi. Av. Presidente Juscelino Kubitschek, 2.041. Sáb., 14h/21h. Dom., 14h/20h. Grátis. Até 25/8

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