Museus e curadores divulgam carta de repúdio a ações contra exibições

Documento em defesa da liberdade de expressão foi assinado por 73 pessoas

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

RIO -  Representantes de instituições culturais de diferentes estados e curadores divulgaram nesta segunda-feira, 2, uma carta pública à sociedade brasileira em que externam seu repúdio a ações orquestradas por movimentos conservadores contra exposições consideradas por ele imorais, como a Queermuseu, fechada no Santander Cultural, em Porto Alegre, mês passado, e “Panorama da arte brasileira”, em cartaz no Museu de Arte Moderna de São Paulo. 

Ambas mostras vêm sendo alvos de ataques virtuais e até reais – no sábado, chegou-se à agressão física contra funcionários do MAM –, que se baseiam na falsa premissa de que elas promovem “zoofilia” e “pedofilia”. A carta é assinada por 73 pessoas, como Adriano Pedrosa, diretor artístico do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), Antônio Grassi, diretor executivo de Inhotim (MG), Carlos Alberto Gouvêa Chateaubriand, presidente do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) e Ricardo Ohtake, presidente do Instituto Tomie Ohtake.

ExposiçãoQueermuseu, exibida no Santander Cultural em Porto Alegre Foto: Fredy Vieira / SANTANDER CULTURAL

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O texto sai em defesa da liberdade de expressão e afirma que “limitar e impedir artistas, curadores e instituições é uma clara política de retrocesso face ao processo histórico que implantou um estado democrático de direito no Brasil”. A íntegra é esta: 

“Curadores e diretores de museus e instituições culturais brasileiras, em consonância com os princípios constitucionais de direito à diversidade, à liberdade de expressão e à prática democrática da cidadania, vêm em conjunto manifestar o mais absoluto repúdio pelas ações orquestradas contra espaços institucionais de arte, assim como a toda e qualquer tentativa de cercear, constranger, desqualificar ou proibir as legítimas atividades artísticas que se desenvolvem no Brasil, construídas responsavelmente pelas instituições culturais.

São notoriamente falsas as alegações de incitação à pedofilia e de apologia ao sexo nas obras ou nas exposições que têm sido objeto dessas ações. Porque lidam com o universo do simbólico, do imaginário e do discurso, as práticas artísticas e culturais são fundamentais para o presente e para o futuro de sociedades calcadas na diversidade, no respeito e na educação. Limitar e impedir artistas, curadores e instituições é uma clara política de retrocesso face ao processo histórico que implantou um estado democrático de direito no Brasil.

Como bem definiu Mário Pedrosa, a arte ‘é o exercício experimental da liberdade’ e é dentro de sua prática que resistiremos a esse trágico e obscuro momento no que se refere ao respeito mútuo e à garantia da liberdade de expressão.”

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