Muros da imigração em debate

Território Restrito, com Alice Braga e Harrison Ford, põe questões humanitárias em perspectiva

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Por Luiz Carlos Merten
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Aos 26 anos, que completa hoje, Alice Braga pode não ser tão conhecida no País - afinal, ela não faz novela -, mas é a mais internacional das estrelas brasileiras. Ou você conhece alguma outra que, como ela, tenha contracenado com os maiores astros de Hollywood - Will Smith, Harrison Ford, Jude Law? Alice acha linda a possibilidade que o cinema lhe proporciona de trabalhar com gigantes a quem ela conhecia, como qualquer garota de sua idade, como espectadora. Cita Danny Glover, com quem fez Ensaio sobre a Cegueira, seu segundo longa com Fernando Meirelles (após Cidade de Deus). Alice Braga faz uma mexicana que tenta entrar ilegalmente nos EUA em Território Restrito. O filme está em cartaz nos cinemas da cidade. Pode até não ser bom, mas é bom ver Território Restrito. O filme trata de questões graves, conta histórias humanas, estimula o público a pensar. É um exemplo interessante da diversidade que tem caracterizado a carreira da atriz. Alice tanto faz blockbusters (Eu Sou a Lenda) quanto filmes de um recorte mais independente. Em Território Restrito, o astro é Harrison Ford. Ele faz um agente de imigração humanitário. Caça imigrantes ilegais - como a personagem de Alice -, mas se preocupa com essas pessoas que querem construir uma vida na ?América?. Alice diz que Ford é uma figura rara. "Ele parece saber tudo o que se passa no set. Não lhe escapa nada." A personagem de Alice abre e fecha o filme de Wayne Kramer. Cabe destacar que existem dois artistas com esse nome - um guitarrista norte-americano e o diretor e roteirista sul-africano que fez Quebrando a Banca e assina agora Território Restrito. Logo na abertura, Harrison Ford comanda a invasão de uma fábrica. Alice é um dos trabalhadores ilegais. Ela suplica a Ford que ajude seu filho. Ele diz que não, mas à noite, numa conversa com seu travesseiro, a consciência o impulsiona a procurar o garoto e devolvê-lo aos avós, no México, mas, a essa altura, Alice, desesperada, já está tentando atravessar novamente a fronteira, para tentar reencontrar o filho. São diversas histórias de imigrantes, e sobre como são tratados do ponto de vista legal. Tem a da família islâmica, a dos chineses e a do policial que é parceiro de Ford. A garota árabe faz uma redação escolar em que tenta entender o ponto de vista dos terroristas que praticam a jihad. Entra em cena a típica oficial de imigração que segue a cartilha instalada pelo presidente George W. Bush, após os atentados de 11 de setembro. A menina é presa e deportada. A família desmorona. Ashley Judd faz a advogada que tenta reverter o caso. Ela se choca com a intransigência da oficial. Diz que é absurdo - e poderia estar falando da aberração jurídica de Guantánamo, onde a administração Bush confinou prisioneiros suspeitos de terrorismo. O gãlã Harrison Ford tem um rosto cheio de rugosidades. Seu olhar expressa o desgosto pelo que ocorreu recentemente nos EUA, um país de imigrantes. A cena chave é a do juramento dos que conseguem obter o green card. A juíza destaca justamente o ?melting pot? que forjou a identidade norte-americana. Território Restrito fala de segunda chance, mas nem todos podem desfrutá-la. O episódio da família chinesa tem algo de Gran Torino, de Clint Eastwood. Alice Braga aparece pouco, mas a intensidade de sua presença permanece com o espectador. Até por ela, vale ver Território Restrito.

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