Mulheres em busca do sucesso

O diretor espanhol Bigas Luna fala de Eu Sou a Juani, primeiro de uma trilogia 'de filmes feministas'

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Ao contrário de Pedro Almodóvar, pouca gente fala hoje em dia sobre Bigas Luna no Brasil, mas ambos irromperam juntos num cinema espanhol pós-franquista, movido a transgressão. Enquanto Almodóvar vestia meias-arrastão e dava plena vazão a suas pulsões homossexuais (nos primeiros filmes), Bigas Luna encarnava - ou liberava- as fantasias do macho espanhol. O tempo passou, Almodóvar amadureceu e virou um dos grandes do cinema de todo o mundo. Bigas Lunas foi encolhendo e sumiu do circuito, mas ele está de volta, erótico como sempre, com Eu Sou a a Juani. Há algo de Tinto Brass no cinema de Bigas Luna e ele, de resto, diverte-se com a comparação. Bigas - cujo primeiro nome é Juan, mas ninguém o chama assim- fez filmes como Jamón Jamón e Ovos de Ouro, forçando a comparação entre um salame e a genitália masculina - e fornecendo seus primeiros papéis importantes a um certo Javier Bardem, que depois virou mito do cinema espanhol. Bigas Luna adora estar falando pelo telefone com o Brasil. Eu Sou a Juani é o primeiro de uma trilogia de filmes feministas, sobre as mulheres e o sucesso. Na Espanha, virou um fenômeno de público. "Fiz um casting para encontrar a protagonista, o que me levou a entrevistar mais de 3 mil garotas de todo país. Isso deu visibilidade a Juani e, quando o filme estreou, virou referência por outro dado importante - teve mais de 4 milhões de acessos na internet, o que permanece como um recorde nas Espanha." Bigas Lunas espera atingir principalmente os jovens brasileiros. Embora esteja falando de um fenômeno espanhol, ele tem certeza que existem elementos universais na história de Juani. "O filme trata da força da periferia. Essas garotas de ?barrios?, que sonham aparecer, estão fazendo sua moda, sua música e os criadores estão indo cada vez mais à periferia em busca das idéias e da inspiração que elas estão colocando na rua, com sangue novo." Na verdade, trata-se de um fenômeno que começou com as chicas latinas de Los Angeles - e inspirou um livro, Pichicateo, de Tom Wolfe. A história, basicamente, é simples. Uma garota que vive insatisfeita na pequena cidade descobre a traição do namorada e parte com a melhor amiga para Madri, para tentar a sorte como atriz. Numa cena, é confundida com uma prostituta por um jogador, que lhe oferece mil euros por uma noite completa. Mas ela quer ser atriz. O jogador desdenha - "Ah, sim, Almodóvar". Bigas Luna assume que é uma broma (brincadeira) com o colega famoso. Por meio da garota, ele fala de sua mãe - "É um filme sobre duas gerações de mulheres, a que se submeteu ao homem e a que o desafia", diz o diretor. Fala de sexo o tempo todo - "É conseqüência do alho e do óleo de oliva que consumimos", explica Bigas. Ele imagina que os brasileiros e brasileiras poderão se identificar - "O filme fala da potência dos carros, de bailar (dançar) e fazer sexo". Em sua web page, ele explica que buscou novas formas narrativas - e de montagem - para uma história que não parece nova, mas toma rumos inesperados. Numa cena particularmente desconcertante, a garota anda por uma rua freqüentada por prostitutas e entra essa cantora, que faz da cena um videoclipe. "A cantante é Mala Rodriguez, muito popular na Espanha. São dela as músicas que Juani canta no pueblo." Verônica Acegui, que faz Juani, foi escolhida em concurso. Pesou o fato de ser parecida com Penélope Cruz. Bigas Luna inicia logo o segundo filme, DD Hollywood, sobre outra garota em busca do sucesso, mas que já está em Hollywood. O terceiro filme será com a própria Penélope. Só como curiosidade, Bigas Luna viu Vicky Cristina Barcelona, com Penélope e sua cria, Javier Bardem? "Me encantou. Woody Allen é gênio."

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