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MP pede tutela de engenho de Lins do Rego

Para preservar construção em Pilar (PB), objeto de reportagem do Cultura no dia 9, procurador torna proprietárias rés em ação

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

O Ministério Público Federal da Paraíba propôs, no dia 13, uma ação civil pública pedindo a antecipação da tutela do Engenho Corredor, no município paraibano de Pilar (a 56 km de João Pessoa), onde nasceu há 50 anos o escritor José Lins do Rego. O pedido veio após reportagem do Estado, publicada no caderno Cultura de domingo, dia 9, que mostrava o péssimo estado de conservação dos engenhos que foram a força motriz da literatura do autor de Menino de Engenho e Fogo Morto. A ação, proposta pelo procurador da República Duciran Farena, visa ''''garantir a recuperação e a preservação do patrimônio histórico'''' do engenho, e coloca as proprietárias do imóvel, Alba Regina Vieira Soares, Clóris Vieira Monteiro de Melo e Ângela Cristina Vieira de Albuquerque Melo, como rés na ação. O procurador diz que as rés, ''''embora pessoas de posses, donas de fazendas e engenhos na área, preferem ver o imóvel destruído a investir recursos em sua recuperação, recuperação esta que lhes poderia, ademais, ser extremamente vantajosa''''. Segundo o Ministério Público, há quatro anos que o poder público tenta convencer as proprietárias de que é preciso garantir que a Casa Grande do engenho permaneça de pé, mas encontra resistência. O MP chegou a propor que elas cedessem o imóvel em regime de comodato por 20 anos, para reforma e destinação, mas elas se negaram. Uma das filhas do escritor José Lins do Rego, Christina Veras, diz que fez vários apelos nesse sentido a uma das donas do Corredor, Clóris Vieira. Num desses apelos, escreveu: ''''Clóris, porque você não faz de uma vez a doação da parte da casa com as mangueiras? Toda essa parte fica dentro do Pilar, é só abrir uma porteira. Você doando o Estado faria a recuperação. Seria tão bonito. Poderia se construir um albergue para futuros escritores que poderiam fazer pesquisas e estudar não só a obra de José Lins, como também a de outros escritores, poetas paraibanos, etc. Faça isso em vida. Eu lançaria meu livro no Corredor com toda a família reunida''''. O Ministério Público Federal pediu uma última audiência com as partes para tentar um acordo. Senão, dará início a medidas emergenciais. A ação principal pede a condenação dos réus ao pagamento de indenização por danos morais coletivos, em valores entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão (na hipótese de destruição completa das edificações). ''''Não é possível que o Estado assista impassível à destruição da memória do escritor, em relação à casa onde ele nasceu e viveu seus anos de menino do engenho'''', diz o texto do procurador. Uma das herdeiras, Angela Cristina Vieira de Albuquerque Melo, em conversa com as filhas de Lins do Rego, argumenta que a família sempre fez o possível para garantir a preservação dos imóveis que remontam à literatura da cana-de-açúcar, como os Engenhos Corredor e Oiteiro, mas que ''''os usuários só têm reclamado e destruído''''. O procurador Farena informa, no histórico do caso, que foi frustrada recentemente, ''''em virtude de desentendimentos familiares, uma última tentativa que permitiria a recuperação do imóvel em troca do seu usufruto por uma herdeira que não detém a posse do imóvel''''. Em visita à área, a reportagem do Estado constatou que o Engenho Corredor já não possui a maior parte das edificações de tempos passados. Mesmo abandonado, tem a entrada vedada ao público (o portão está fechado com cadeado). A proprietária Clóris Vieira mora a alguns quilômetros dali, no Oiteiro, outro engenho muito citado na literatura do paraibano. Aquela região também foi cenário da obra de Pedro Américo, Augusto dos Anjos e José Américo de Almeida e da música de Sivuca.

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