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Mostra traz ao Brasil obras de Mondrian e do movimento De Stijl

CCBB-SP inaugura no dia 25 exposição que apresenta o percurso do artista até o neoplasticismo e criações de outros artistas

Por Camila Molina
Atualização:

A partir do dia 25, a sala expositiva do terceiro andar do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo será visitada como se fosse um “templo da arte moderna” – nela, apenas três pinturas do holandês Piet Mondrian, duas de 1921 e uma de 1937, apresentarão para o público brasileiro o auge do neoplasticismo desenvolvido pelo artista (e talvez elas estejam acompanhadas de um pouco de jazz ao fundo, uma paixão do pintor).

Já seria um grande fato a exibição, no País, dessas históricas composições feitas de linhas verticais e horizontais cruzadas e de blocos quadriláteros vermelhos, amarelos e azuis. Entretanto, as três telas, pertencentes ao Museu Municipal de Haia, na Holanda, integram um conjunto de cerca de 100 obras da mostra Mondrian e o Movimento De Stijl, que será apresentada até 4 de abril para o público paulistano e depois seguirá para Brasília, Belo Horizonte e Rio, onde encerrará sua itinerância em janeiro de 2017.

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Para Piet Mondrian (1872-1944), o neoplasticismo era a expressão plástica do que considerava ser o “reconhecimento da emoção da beleza” – “cósmica”, escreveu em 1917, ela só poderia ser manifestada por meio de formas e cores “universais”. “O neoplasticismo não pode, portanto, manifestar-se como uma representação (natural) concreta, a qual sempre se refere mais ou menos ao individual”, definiu o holandês no ensaio publicado naquele ano na revista De Stijl (O Estilo), ligada ao movimento homônimo fundado por ele e pelo artista e arquiteto Theo van Doesburg (1883-1931).

“Mondrian tinha na cabeça o ideal de criar uma arte que faria algo para a humanidade”, diz Pieter Tjabbes, curador da exposição, ao lado de Benno Tempel, diretor do Museu Municipal de Haia, e Hans Janssen. A mostra, feita em parceria com a instituição museológica holandesa e a produtora Art Unlimited, da qual Tjabbes é sócio-diretor, tem caráter didático e apresentará não apenas todo o percurso do pintor holandês até o abstracionismo geométrico neoplasticista, como também os preceitos e as criações em diversos meios (fotografia, design, arquitetura e tipografia) de outros importantes artistas relacionados ao movimento De Stijl (pronuncia-se De Stél), entre eles, o arquiteto Gerrit Rietveld (1888-1964), autor da famosa cadeira de 1917/23 em vermelho, azul e com detalhes em amarelo, o designer Piet Zwart (1885-1977) e o pintor Bart van der Leck (1876-1958).

Foram cinco anos de negociações para que o Museu Municipal de Haia emprestasse, por um ano, as obras de sua prestigiada coleção para a exposição brasileira. “Hoje, a coleção de Mondrian deles é imbatível, nenhum outro tem tanta variedade e quantidade”, conta Pieter Tjabbes. O curador e produtor refere-se, principalmente, ao fato de a instituição holandesa ter um acervo expressivo sobre o caminho do pintor holandês desde a arte acadêmica e tradicional até o abstracionismo neoplástico – isso ocorreu graças à aquisição, anos atrás, de peças do colecionador Sal Slijper, mecenas de Mondrian – o autorretrato do artista presente na mostra foi pintado em 1918 a pedido do amigo.

Pieter Tjabbes, curador da mostra 'Mondrian e o movimento De Stijl', no CCBB-SP Foto: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO

Mondrian e o Movimento De Stijl é composta de dois eixos. O primeiro, dedicado ao pintor holandês e com cerca de 30 de suas criações, apresenta desde as composições figurativas do início de sua carreira, como a pintura de 1895/99, que representa uma fábrica de velas de cera à noite, até a neoplástica Composição de Linhas e Cor III, de 1937, que tem apenas um pequeno retângulo azul pintado entre retas cruzadas em preto sobre fundo branco.

Desde o começo interessado na relação das formas, Mondrian vai clareando sua paleta de cores e seu percurso figurativo também revela algumas influências como o pontilhismo de Seurat. “Ele pensava em volumes e as cores tinham para ele um efeito seja de retração ou de avanço”, explica Pieter Tjabbes. Quase como uma aula, a mostra também toma a figura da árvore, um tema caro a Mondrian e que vai se tornando cada vez mais estilizada (tronco e galhos viram elementos horizontais e verticais), para explicar o caminho do artista até a abstração – ou sua “busca por uma imagem espiritual”, diz o curador.

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A árvore é também um símbolo de um percurso “idealista de fundo filosófico-religioso” do artista. “A teosofia é um fio condutor na vida de Mondrian”, afirma Tjabbes. A doutrina, que sintetiza as religiões do mundo, explica o curador, tem como princípio a ideia de que uma grande energia permeia tudo e todos os seres – Deus seria, portanto, uma unidade.

O segundo eixo da exposição, dedicado ao De Stijl (1917-1931), é multidisciplinar, mas suas obras mostram o mesmo idealismo. “É um movimento utópico, eles queriam mudar o mundo, a vida das pessoas, envolver a humanidade”, explica o curador.

MONDRIAN E O MOVIMENTO DE STIJL. CCBB-SP. Rua Álvares Penteado, 112, Centro, tel. 3113-3651. 4ª a 2ª, 9h/21h. Grátis. Até 4/4. Abertura no dia 25/1

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