Mostra na Estação Pinacoteca reúne o melhor da arte construtiva

Galeria contribui para o entendimento do período ao abrir a mostra 'Arte Construtiva Brasileira', com 64 obras dos mais representativos artistas concretos e neoconcretos do Brasil

PUBLICIDADE

Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

A disputa pela arte construtiva brasileira no mercado internacional, após a compra (entre 2005 e 2007) da coleção de Adolpho Leirner pelo Museum of Fine Arts de Houston, Texas, e de obras de grandes artistas do movimento por colecionadores internacionais, como a venezuelana Patricia Cisneros, fez crescer o interesse por essa vertente que, entre os anos 1950 e 1960, dominou a cena artística no País. Recentemente, o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) organizou uma exposição, Vontade Construtiva Brasileira, com mais de 200 obras da coleção Fadel (a mostra terminou em junho), um dos melhores acervos desse movimento que tem raízes na década de 1950, justamente com o advento da Bienal de São Paulo. 

A partir deste sábado, 9, a Estação Pinacoteca contribui para o entendimento do período ao abrir a mostra Arte Construtiva Brasileira, com 64 obras dos mais representativos artistas concretos e neoconcretos, entre eles Willys de Castro, Lygia Clark, Lothar Charoux, Geraldo de Barros, Hércules Barsotti e Luiz Sacilotto.

PUBLICIDADE

A exposição, com curadoria de Regina Teixeira de Barros, é o coroamento de um projeto que conta a história da arte brasileira desde o século 19. Na primeira etapa foram reunidas quatro centenas de obras desse período, pertencentes ao acervo da Pinacoteca. Na segunda, dedicada ao modernismo, destacam-se obras da instituição e da Fundação Nemirovsky, assinadas entre a Semana de Arte Moderna e 1950. Nesta última etapa, o visitante poderá ver na Estação Pinacoteca tanto essas obras como a passagem da linguagem modernista para a abstração nos anos 1960, representada, entre outras obras, pelos experimentos de Abraham Palatnik, pioneiro da arte cinética, e pelas fotoformas (fotografia abstrata feita com elementos reais) de Geraldo de Barros.

As obras são do acervo da Pinacoteca e da coleção do empresário Roger Wright e têm um valor excepcional, como um relevo espacial de Hélio Oiticica e uma têmpera de Mira Schendel, de 1962. A artista de origem suíça, naturalizada brasileira, que ganhou uma retrospectiva na Tate – agora em cartaz na Pinacoteca –, é um dos nomes que a curadora da mostra decidiu agrupar numa parede de autônomos, que não se encaixaram nem no grupo dos concretos nem entre os neoconcretos. Na companhia de Mira estão Milton Dacosta, sua mulher Maria Leontina e Arthur Luiz Piza. “A questão de Mira não era exatamente a abstração geométrica, apesar de fazer uso dela para discutir questões filosóficas e religiosas”, justifica a curadora, destacando a singularidade do trabalho da artista.

Ausências. Há algumas notáveis ausências na mostra – Amilcar de Castro e Lygia Pape, entre outros, ela reconhece –, mas a Pinacoteca espera cobrir essas lacunas no futuro. Em contrapartida, a mostra exibe um dos dois cubos (objetos ativos) feitos em 1962 pelo neoconcreto Willys de Castro (o outro está no MoMA de Nova York, dividindo uma sala com o suprematista russo Malevitch). É um cubo pintado de azul e preto com um quadrado branco que “salta” da superfície à medida que o espectador se move diante do objeto preso à parede, uma experiência que é um marco na história da arte neoconcreta, por cruzar, inclusive, a fronteira entre pintura e escultura.

Entre as experiências históricas iniciais do construtivismo entre nós está o cartaz que Antonio Maluf desenhou para a 1.ª Bienal de São Paulo (1951), em que o Prêmio Internacional de Escultura foi concedido à Unidade Tripartida, de Max Bill, nome de referência para vários artistas construtivistas brasileiros, entre eles Geraldo de Barros, que se tornaria seu amigo. A curadora lembra que o embrião da exposição atual foi o Projeto Construtivo implantado na Pinacoteca quando a crítica Aracy Amaral era diretora da instituição, em 1977.

Ela comprou obras, estabeleceu uma rede para localizar trabalhos seminais do construtivismo e reuniu nessa exposição o que de melhor foi produzido entre 1952 – quando pintores concretos, liderados por Waldemar Cordeiro, formaram o grupo Ruptura – e 1962, quando o poeta neoconcreto Ferreira Gullar, mentor do neoconcretismo, abjurou seu manifesto em favor de uma linha mais populista de atuação.

Publicidade

Históricos. Algumas obras que estavam na exposição de 1977 estão na parede à direita da entrada da mostra atual, todas tendo a linha reta como ponto de partida. Entre os artistas estão os concretos Waldemar Cordeiro, Lothar Charoux, Maurício Nogueira Lima, Hércules Barsotti, Luiz Sacilotto e Judith Lauand. Seguindo pela esquerda destacam-se na parede central trabalhos em preto e branco assinados por Lygia Clark e Geraldo de Barros, entre outros artistas históricos. 

São obras que colocam em ação a teoria gestáltica (perceber a forma por ela mesma). A ausência de outros grandes nomes do construtivismo na mostra é compensada pela inclusão de artistas nem sempre lembrados quando se fala do movimento, entre eles o pintor e médico Leopoldo Raimo (1912-2001), o pintor e engenheiro polonês Anatol Wladislaw (1913-2004) e o pintor e arquiteto Maurício Nogueira Lima (1930-1999).

ARTE CONSTRUTIVA BRASILEIRA

Estação Pinacoteca. Largo General Osório, 66, tel. 3335-4990. 3ª a dom., das 10 h às 17h30. R$ 6 (5ª, 17h/ 22h, e sáb. grátis). Até 26/4/2015. Abertura sábado, 9, 11 h.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.