Exposição abre festejos do centenário da escola alemã Bauhaus

Mostra no Sesc Pompeia até 6 de janeiro detalha importância da expressão modernista na Alemanha

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Por Helena Tarozzo
Atualização:

Parte da celebração do centenário da Bauhaus (1919-1933), a exposição itinerante bauhaus imaginista, uma produção conjunta da Bauhaus Cooperation, do Goethe Institut e da Haus der Kulturen der Welt abre em São Paulo nesta quinta-feira, 25, no Sesc Pompeia. 

Após passar pelo China Design Museum, de Hangzou, e pelo The National Museum of Design, de Kyoto, a mostra dividida em quatro capítulos chega ao espaço de Lina Bo Bardi, sob o intertítulo Aprendizados Recíprocos e apresenta 300 trabalhos de 30 artistas diferentes. De caráter documental, a exposição foi montada a partir da pesquisa dos curadores Marion von Osten e Grant Watson e atenta para o fato da biblioteca da Bauhaus ter tido um grande número de livros sobre culturas pré-modernas e vernaculares. Além de vasculhar o interesse da escola alemã por tais temas, ela também olha para escolas ao redor do mundo influenciadas pelo que foi feito na Alemanha, entre elas, o IAC – Instituto de Arte Contemporânea do Masp e primeira instituição voltada para o ensino de design no Brasil. 

Destaques. Projeto do edifício experimental, em Dessau Foto: MUSEUM DESSAU

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“Nesta etapa, estamos interessados em descobrir como todas as pessoas ao redor da Bauhaus estavam o tempo inteiro voltadas para essas culturas tradicionais tanto durante o período da escola, como depois dela”, explica Luiza Proença, curadora adjunta da etapa brasileira da exposição.

Fechada pelos nazistas em 1933 por ser considerada muito comunista e deixada de lado pelos russos por sua vertente capitalista, a Bauhaus teve um de seus melhores momentos após seu encerramento na Alemanha, graças à mudança de seus principais mestres para os Estados Unidos e sua continuação no Institute of Design de Chicago, em Harvard, Yale e no Black Mountain College. Ao mesmo tempo que isto trouxe um reconhecimento universal para o trabalho realizado entre 1919 e 1933, fez com que ela se tornasse um produto estético fechado em si mesmo.

Longe de reducionismos voltados à sua produção de móveis de aço tubular, ou a temas batidos como a sua teoria das cores ou arquitetura racionalista, este centenário promete trazer novos paradigmas. “Uma das grandes crises da Bauhaus é o fato dela ter virado um cânone. Buscamos olhar para aquilo que eles estavam se alimentando e o que sempre esteve na base desse pensamento, algo tão fácil de identificar”, completa Proença.

Além da bauhaus imaginista, a celebração do centenário ainda conta com a abertura de dois novos museus nas cidades de Weimar e Dessau, com abertura prevista para 2019 e acontece também a renovação completa do Bauhaus-Archiv, de Berlim – fechado em maio deste ano e reabre em 2020 – ao lado do MoMA, de Nova York, apresenta a maior quantidade de itens e documentos originais da escola em seu arquivo. Esses novos prédios levam projetos arquitetônicos assinados por Heike Hanada (Weimar) e o aclamado Gonzalez Hinz Zabala (Dessau) e abrigarão parte do espólio remanescente da escola e até então, permaneciam guardados por falta condições técnicas museológicas nos prédios históricos de ambas cidades (hoje tombados pela Unesco, o que impossibilita situações expositivas e climáticas ideais).

‘Escola do Masp tem inspiração alemã’, diz Grant Watson, curador da mostra

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Focada no interesse pela cultura vernacular estudada por professores e alunos da Bauhaus e nos desdobramentos gerados por seu legado ao redor do mundo, a mostra bauhaus imaginista: Aprendizados Recíprocos busca mapear conexões e influências presentes no universo da escola. É o que comenta Grant Watson, curador da mostra que abre no Sesc Pompeia. 

Parece que vocês irão mostrar uma perspectiva muito nova sobre a Bauhaus. Acha que ainda há um desconhecimento geral das múltiplas vertentes existentes na escola?

O legado da Bauhaus é conhecido em partes, sendo a maior delas aquela relacionada às figuras que foram para os Estados Unidos. Nós contaremos parte desta narrativa, mas também uma série de genealogias menos conhecidas, como o período em que Hannes Meyer e um grupo de arquitetos da Bauhaus passou na União Soviética nos anos 1930 e a relação do design moderno na Índia que se conecta com a Escola de Ulm. Também apresentamos uma série de fragmentos e estudos ainda em processo de compreensão – ainda há muita pesquisa a ser feita –, o que permitirá a possibilidade da etapa final da bauhaus imaginista, no ano que vem em Berlim (na Haus der Kulturen der Welt), trazer ao público essas diferentes narrativas.

O ponto de partida da exposição é um desenho feito por Paul Klee durante sua estadia no Marrocos. Como se deu essa conexão entre o artista e a escola de Casablanca?

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Existem dois links principais que guiam a exposição: um geográfico e outro conceitual. Klee viajou à Tunísia e ao Egito e seu pequeno desenho de um tapete do norte da África reflete a influência dessas experiências em sua prática, definidas por ele como fundamentais em seu trabalho com cor e abstracionismo. Depois disso, nos anos 1960, a escola de Casablanca, no Marrocos, olha para tanto para a tradição local como para a pedagogia bauhauseana, na qual Klee era uma figura central, quando busca romper com o modelo francês educacional estabelecido nos anos sob colonialismo europeu.

Qual será o ponto de conexão entre o IAC e as outras escolas citadas?

Quando (o arquiteto) Jacob Ruchti, ao lado de Lina Bo e Pietro Maria Bardi, desejava criar a escola de design do Masp, no começo dos anos 1950, eles olharam muito especificamente para os modelos da Bauhaus, especialmente o criado em Chicago posteriormente por László Moholy-Nagy, visitado por Ruchti. O designer também trocou cartas com o Black Mountain College para definir o currículo da escola paulista.

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BAUHAUS IMAGINISTA: APRENDIZADOS RECÍPROCOS

Sesc Pompeia. R. Clélia, 93, 3871-7700. 3ª a 6ª, 10h/ 21h30; sáb., dom. e fer., 10h/18h. Grátis.

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