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Morre na Bahia o percussionista Ramiro Musotto

Argentino radicado em Salvador desde 1984, ele tocou com a nata da MPB

Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

O percussionista argentino Ramiro Musotto morreu ontem em Salvador, Bahia, vítima de um câncer no pâncreas. Tinha 45 anos. Desde que se mudou para Salvador, em 1984, Musotto, como instrumentista e produtor, cravou seu nome nos créditos de shows e discos de artistas brasileiros importantes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Marisa Monte, Martinho da Vila, Lucas Santtana, Lenine, Zeca Baleiro, João Bosco, Daniela Mercury, Margareth Menezes e Paralamas, entre outros.O mais baiano dos argentinos, discípulo do mestre pernambucano Naná Vasconcelos, Musotto, um entusiasta do samba-reggae baiano, teve papel importante no ato de disciplinar a percussão de rua, na pátria dos percussionistas. Muito antes do boom da axé music, já contribuía com seu profundo conhecimento de causa, "obcecado por estudar, pesquisar e entender" o que ouvia, conforme disse ao Estado em 2007.Musotto formou músicos em Salvador e ensinava percussão brasileira para gente de outras nacionalidades. Gravou dois excelentes álbuns-solo, Sudaka (2004) e Civilizacao & Barbarye (2006), com participação de Arto Lindsay e Chico César. A primeira faixa, Ronda, Musotto gravou tocando sozinho seis berimbaus, cada um com uma afinação. Algo genial. Como seu mestre Naná, Musotto adotou o berimbau e se especializou em redimensionar esse rudimentar instrumento de poucos recursos, fazendo a ligação com a música eletrônica pelo timbre. "Há milhões de nuances timbrísticas em uma única nota", ensinou. "Minha música é uma mescla de cantos tribais afro-americanos com soluções tecnológicas."Na Argentina, começou a tocar em orquestras sinfônicas aos 16 anos e depois formou uma banda de rock. Em 1982, decidido a estudar percussão brasileira, mudou-se para São Paulo, onde foi aluno de Zé Eduardo Nazário. Não tardou a ser um dos percussionistas mais solicitados para tocar com a nata da MPB.Musotto estava escalado para tocar no 16º Percpan - Panorama Percussivo Mundial, realizado na semana passada em Salvador, mas cancelou sua apresentação. Ele também fez a supervisão musical do projeto Ponte Aérea Portenha - Eletrotango, que começa terça no Rio e chega a São Paulo no dia 22. É uma perda lamentável.

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