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Morre Hermann Nitsch, o artista da violência

Austríaco foi do grupo de Rudolf Schawrzkogler, que se mutilava em performances

Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

Pioneiro da body art, o austríaco Hermann Nitsch morreu na segunda-feira (19), em Viena, aos 83 anos, em consequência de uma doença grave que os familiares não revelaram. Nitsch era da mesma geração de outro artista e performer austríaco radical, Rudolf Schwarzkogler (1940-1969), morto aos 29 anos, igualmente associado ao grupo Actionism vienense, do qual faziam parte os artistas Günter Brus, Otto Mühl e Nitsch.

Hermann Nitsch divida o mesmo credo no poder de transformação pela arte – sempre por meio de ações violentas relacionadas com o corpo. Nitsch e Schwarzkogler se destacaram por testar os limites físicos em performances realizadas nos anos 1960. Schwarzkogler foi até mais radical, numa performance em que se mutilou, cortando e fotografando pedaços de sua pele. Em outra, ele simulou um ritual de sacrifício em frente a uma tela, enquanto Otto Mühl atirava tinta vermelha sobre seu corpo, que finalmente sucumbiu numa performance de 1969, quando cometeu suicídio.

Nitsch revisita performance no Museu de Arte de Viena Foto: Alex Halda/Reuters

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 Nitsch não era diferente, mas não seguiu o colega. Morreu idoso. O austríaco, nascido em Viena em 1938, ficou traumatizado pelos bombardeios em sua cidade durante a 2ª. Guerra, o que o levou a agitar bandeiras contra nacionalistas e políticos de todas as tendências. Suas performances tratam de violência provocada pelo ódio. Envolvendo sacrifício animal, essas performances usavam sangue e vísceras para chocar os espectadores.

Próximo da arte religiosa no começo de sua carreira, ele chegou a trabalhar no Museu Técnico de Viena. No estúdio do museu, realizou pesquisas queo conduziram ao “teatro da orgia” – o Actionism vienense tinha fixação em sexo, o que levou Schwarzkogler, numa performance, a simular a mutilação de seu pênis. 

Mais tarde, outros seguiram o caminho do grupo de Nitsch e Schwarzkogler, entre os quais a artista sérvia Marina Abramovíc , que começou a carreira nos anos 1970. Em 1975, Marina fez uma performance radical, Ritmo 0,em que, deitada e imóvel, submeteu-se aos impulsos mais irracionais da plateia, colocando à disposição dos espectadores 72 itens, de chicotes e lâminas de barbear. Marina chegou a ser agredida e sofreu abuso sexual. O grupo catalão La Fura dels Baus, criado em 1979, em Barcelona, é outro filho dileto da tradição 'sangue e vísceras' de Nitsch.

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