Morre Dona Edith do Prato, a voz do Recôncavo

Sambista de Santo Amaro da Purificação ganhou fama internacional com o disco Vozes da Purificação

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Por Redação
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Eu trabalho o ano inteiro/ na estiva de São Paulo/ só pra passar fevereiro em Santo Amaro. Ouça sambas de Dona Edith (Santo Amaro Ê Ê, a 11ª faixa do disco Vozes da Purificação, de Dona Edith do Prato) A exemplo de Clementina de Jesus e Yvonne Lara, a sambista Dona Edith do Prato, filha do Recôncavo Baiano, inscreveu seu nome no livro dourado da MPB já no crepúsculo da vida, ao lançar, então com 87 anos, o disco Vozes da Purificação (Biscoito Fino, 2002). Mas a sua fama vinha de muito longe, e o início de sua vida musical começa muitos anos antes de sua participação no célebre disco Araçá Azul, de Caetano Veloso, em 1972 (canta nas faixas Viola, Meu Bem e Sugar Cane Fields Forever). Edith Oliveira Nogueira, a Dona Edith do Prato, morreu na madrugada de ontem no Hospital Português, em Santo Amaro, aos 94 anos, após um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Ela sofria de isquemia cerebral havia quatro anos e no dia 18 tinha sido internada às pressas. O enterro seria ontem à tarde. Munida apenas de um prato e uma faca, que raspava no prato (o que lhe valeu o apelido), e uma voz personalíssima, ancestral, Dona Edith deu vida a uma rica tradição de sambas-de-roda, pontos de terreiro e cantos folclóricos. Humilde e sábia, a mãe-de-leite do quinto filho de Dona Canô, Caetano (ela amamentou o tropicalista quando sua mãe foi tomada por uma forte gripe), Edith tornou-se referência e delícia de gerações. "Toda a vida, fui louca por samba. Fugia escondida de meu pai, pra espiar o samba. Eu ficava raspando uma cuia de queijo, mas não acertava nada. Um dia, com uma faca e um prato de doce, peguei o ritmo. Ficou Edith afamada por isso e, todo caruru, festa de aniversário, me chamavam pra tocar, mas ninguém me ensinou." O disco Vozes da Purificação foi gravado em 2002 e lançado em tiragem restrita. Chegou ao grande público pelas mãos de Maria Bethânia, que participou no disco dos sambas-de-roda Quem Pode Mais, Dona da Casa e Eu Vim Aqui. Dona Edith já havia participado do disco Ciclo, de Bethânia, onde interpretou a chula Filosofia Pura. Caetano cantou em Minha Senhora, que inspirou a composição tropicalista homônima de Gilberto Gil e Torquato Neto. O sambista Roque Ferreira participou da faixa Ariri Vaqueiro. O ponto alto do CD é Samba Numerado, um cortejo afro. A arte da capa e do encarte é de Gringo Cardia.

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