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Milão termina com estilo, mas apertando os cintos

Temporada, encerrada na semana passada, soube manter o charme na passarela

Por Flavia Guerra
Atualização:

Enquanto Gisele Bündchen casava, e causava, com seu look Dolce&Gabbana, em Los Angeles, em Milão era outra musa o centro das atenções e discussões em torno da grife italiana. Em tempos de crise, as coisas não foram lá muito fáceis também para uma das mais glamourosas semanas de moda do mundo. A Milano Donna teve de tudo, e mais um pouco, que enche os olhos de fashionistas, receshionistas, compradores, paparazzi. Começou com o escandaloso cancelamento do desfile da Just Cavalli (suspenso apenas dois dias antes da data prevista por conta da crise que ameaça acabar com o grupo Ittierre, filial da IT Holding, que detém esta e várias outras marcas da alta-costura italiana). Houve a polêmica entre a D&G e o teatro La Fenice de Veneza (que não aprovou o uso de fotos de musas como Maria Callas em cenas de suas célebres operas, como La Traviatta, de Verdi, estampadas em corselettes e vestidos), a presença de celebridades, um belo desfile da Ferragamo... A Milano Fashion Week até que tentou conter os ânimos fashion e fazer o discurso da ?moda em tempos de crise?, mas bastou uma festa aqui... uma apresentação ali para os milaneses, de casa e de coração, esquecerem da crise e se lembrarem por que o Quadrilatero D?Oro (formado pelas Piazza Del Duomo, a Via Montenapoleone, Via della Spiga e Sant?Andrea) faz a alegria de qualquer fashionista (com ou sem dinheiro no bolso). Desfilou por ali, e pela badalada Corso Como, um exército de celebridades. De Victoria Beckham a Cate Blanchett e Milla Jovovich, passando pela ?fila A dos sonhos? da Dolce&Gabbana, que conseguiu reunir Scarlett Johanson, Freida Pinto (de Slumdog Millionaire), Naomi Watts e Eva Mendes e Kate Hudson na apresentação de sua coleção polêmica, glamourosa e com um pé nos anos 30 e 40. É verdade que foram uns dez desfiles a menos do que o usual, é fato também que o número de jornalistas e compradores diminuiu. Mas os receshionistas italianos souberam se manter com elegância em cima do salto e trouxeram soluções interessantes para o outono/inverno 2009/2010. Pode ser que o clima de carnaval (o Ambrosiano, que em Milão ocorre uma semana depois da data oficial) tenha enchido a cidade de confetes, serpentinas e bom humor. Talvez os fashionistas tenham seguido os conselhos de Giorgio Armani, que defendeu a boa causa de que "os estilistas italianos têm o dever de ser otimistas". Mas, em meio ao clima de contenção, até que sobrou espaço para a inovação. Apesar de só mostrar sua coleção para a imprensa e ?poucos e bons? em seu showroom, Roberto Cavalli criou uma coleção festeira e com toques rocker. Para caminhar sobre as ultrassexy botas de couro com saltos de aço, a mulher Cavalli veste bodysuits justinhos ao corpo, túnicas de tricô em lã pura e abusa dos acessórios de metal. Enquanto Armani e Gucci trouxeram um ar retrô anos 80 (o que já havia sido visto nas passarelas londrinas recentemente), a Prada propôs a volta a um certo clima de anos 40. A mulher Prada vai para a festa de galocha (impecavelmente vermelha e de salto alto, claro), lã, tweeds e couro. O oversized continua em alta tanto nos casacos e sobretudos da Prada quanto nos mantôs propostos por grifes como Ferragamo. Pode-se dizer que a coleção de Miucha Prada vai ser difícil de ser usada nas ruas, mas fashionista nenhum deve reclamar dessa ousadia. Quem vai na contramão da linha ?crise, que crise?? é a sempre queridinha Marni. Além do outlet da grife concentrar o maior número de fashionistas por metro quadrado da cidade, a marca sempre é considerada uma possível saída ?fashion e prática? pelas papisas da moda europeia. Desta vez não foi diferente. A Marni propôs um ?inverno da crise? colorido e florido. Moda para o dia, seja de inverno ou verão, a coleção trouxe vestidos, túnicas, mínis e casaquetos bem justinhos ao corpo e ao dia-a-dia. Tipo de moda que vai do trabalho à festa quando bem combinada com peças high e low profile. Nada de low (ou seja, tímido e simplesinho) teve a coleção que Cristina Ortiz criou para este inverno da Salvatore Ferragamo. Enquanto o make up criado pelos artistas da M.A.C propunha uma pele translúcida, que acentuava a boca e deixava uma certa palidez no olhar, os mantôs, vestidos e transparências da Ferragamo revelavam por que o glamour anda de mãos dadas com a grife. O inverno da grife traz ondas e decotes generosos no colo e nas costas, em peças que abusam do vermelho, do lilás e ganham nobreza quando confeccionadas em couro, peles, tricôs impecáveis. As formas da mulher de Ferragamo exaltam seus ombros bem estruturados, cropped pants (que foram a peça-chave também da última São Paulo Fashion Week), saias-lápis, longos e muito glamour, claro. A semana ainda teve Versace se recusando a acreditar que o mundo fashion está buscando o ?bom, discreto e, portanto, durável? e encheu sua passarela com muito pink (em casacos que casaram perfeitamente com um cintinho preto básico), minivestidos e vestidos de noites em tons metálicos que mais mostravam do que escondiam as formas das tops. Em tempos de crise, a moda italiana prova que hay que apertar os cintos, pero sem perder o estilo. Jamais!

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