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Michelle Pfeiffer, 20 anos mais sábia

Chéri, que compete em Berlim, reúne novamente o trio de Ligações Perigosas, a atriz, o diretor Frears e o roteirista Hampton

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Duas famosas estrelas de Hollywood estão iluminando a Berlinale. Aliás, o brilho dessas mulheres extraordinárias está sendo um tanto eclipsado pelo frio e pela neve, que não lhes permite apresentar-se muito à vontade. Mas é curioso assinalar como elas se mostram diferentes. Demi Moore, que participa da competição com Happy Tears, de Mitchell Lichtenstein, fez plástica, colocou botox, tudo para permanecer ?jovem?. Michelle Pfeiffer dispensa todos esses recursos. Aos 51 anos, ela não esconde as rugas e exibe uma beleza serena que a torna irresistível. O filme de Michelle, também na competição, é melhor - Chéri, adaptação do romance de Colette, que reúne novamente o trio de Ligações Perigosas. A estrela, o diretor Stephen Frears e o roteirista e dramaturgo Christopher Hampton. O diretor comenta o que é trabalhar de novo com ela - "Michelle é uma das mulheres mais belas do mundo. E, em relação a Ligações Perigosas, está 20 anos mais sábia." Michelle faz Lea de Louval, cortesã parisiense do começo do século passado que se aposenta e vive um tórrido affair com um garoto de 19 anos, o chéri do título original. Chéri é filho de uma antiga rival de Lea, a também cortesã Kathy Bates, que estimula o romance do filho. Durante seis anos, Michelle, ou Lea, mantém o amante. Inesperadamente, Kathy arranja um casamento de conveniência para o filho e provoca a ruptura do par. Em sua primeira cena no filme, Lea comenta com sua camareira como é bom ter uma cama só para si, sem necessidade de compartilhá-la com nenhuma companhia. Lá pelo fim do filme, a camareira sugere que Lea arranje uma ocupação para suprir o vazio em que se tornou sua vida - que ela monte um restaurante, ou abra uma loja. "Por Deus, trabalhar, não", exclama a ex-cortesã, que aponta para a cama e diz - "Todo meu trabalho foi feito aqui e a minha cama agora anda cada vez mais vazia." Mais do que Em Busca do Tempo Perdido, Frears e Hampton fizeram Esplendor e Decadências das Cortesãs. Não Marcel Proust - Honoré de Balzac. Michelle entende a angústia que corrói a alma de Lea - a perda do amor, da beleza. "É uma personagem fascinante, porque vive num mundo de aparência, tendo de secretar suas emoções." A cortesã não deixa de ser a celebridade de sua época. Michelle é uma celebridade atual. Nos últimos anos, você não a tem visto muito na tela. Stardust, Hairspray - O Musical e agora Chéri. Por que Michelle não filma muito mais? "Sempre me surpreendo quando me pedem mais, como você. Tenho a impressão de que vou terminar aborrecendo, se aparecer muito seguido. E é preciso que o material me atraia muito. Recebo muitas propostas de scripts, alguns interessantes, outros nem tanto. Nenhum script fornece a garantia de que o filme será bom, e a escolha tem de ser criteriosa. Escolho pelo papel, pelos encontros - com diretores e atores -, pelo que o set poderá me oferecer de prazeroso. No caso de Stephen (Frears), faria o que ele me pedisse. Mas tudo isso precisa ser sempre relativizado. Minha família - o marido e o casal de filhos, de 14 e 16 anos - são minha prioridade. Prefiro ficar com eles a filmar não importa o quê." Ela sabe que vive numa sociedade da imagem e, mais do que isso, trabalha numa indústria que privilegia a beleza física, mas não parece disposta a tudo para permanecer eternamente jovem. "Essas rugas fazem parte de uma história de vida." Conta como o diretor de fotografia se desesperava ao filmá-la sem filtros na derradeira cena, para exibir o efeito do tempo na personagem. "Dizia que estava me arruinando. Num determinado momento, disse que não conseguiria ir mais longe no que achava uma crueldade." E ela ri. Michelle não se considera um ícone do cinema. "Ícones são De Niro, Al Pacino." Mas eles são homens - "Ok, Meryl (Streep)." No desfecho de Chéri, Lea volta à cama com o amante, mas algo se passou. Não é só o tempo perdido que não é reencontrado. É todo um mundo que está sendo enterrado, a belle époque. "Tínhamos claro que era isso mesmo. Christopher (Hampton) criou um roteiro maravilhoso, que Stephen (Frears) dirigiu com rigor, mas a essência é a própria Colette. O livro é curtinho, mas ela é tão precisa no que escreve que você tem consciência de que uma página a mais não é necessária. Colette foi uma mulher adiante de sua época. Viveu uma vida de escândalo, foi amante de um homem mais jovem - seu enteado. Nada disso escandaliza muito, hoje em dia. A surpresa será descobrir que grande escritora ela é."

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