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Michel Dalberto sola o Concerto em Sol, de Ravel

Pianista francês apresenta-se no festival com a Orquestra Acadêmica

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Por João Luiz Sampaio
Atualização:

"Não gosto de pensar em escolas, em especial porque elas sempre vêm associadas a uma ideia pejorativa", diz o pianista francês Michel Dalberto. No entanto, se há uma escola francesa, seria justo colocá-lo como um de seus principais representantes nos dias de hoje. Formado pelo Conservatório de Paris e dono de importante carreira discográfica, ele será o solista da Orquestra Acadêmica do Festival de Inverno de Campos do Jordão, interpretando o Concerto em Sol, de Ravel, que ele define como uma obra-chave do repertório francês para piano. Dalberto conversou com o Estado há duas semanas, no Rio, após um concerto com a Orquestra Sinfônica Brasileira, em que interpretou o Concerto para Piano nº 2, de Brahms. É uma leitura repleta de contrastes, em que, vez ou outra, o som reduz de proporção, a articulação ganhando importância fundamental. Não são esses símbolos da escola francesa? "Ok, você vai insistir", ele brinca, rindo. E continua: "É claro que há linhagens pianísticas e maneiras de tocar que se associam a determinada maneira de compor. No entanto, a individualidade do pianista não pode ser colocada em segundo plano. Um artista como Alfred Cortot, que seria símbolo de uma suposta escola francesa, pode ser menos francês que um russo como Sviatoslav Richter. O mesmo vale para um italiano como Michelangeli. Como pianista, o que me interessa é a construção de uma sonoridade própria, que esteja próxima das intenções do compositor", diz Dalberto. Talvez por isso, a relação com a música francesa tenha começado tardiamente em sua carreira. Seus primeiros anos de intérprete foram dedicados à música alemã - ele gravou, por exemplo, a integral da obra para piano de Schubert. "Aos 15 anos, assisti a um recital de Alfred Brendel com obras de Schubert e aquilo foi uma revelação para mim. Não havia tradição na França de intérpretes dedicados ao compositor. E resolvi embarcar nessa viagem. O repertório francês foi ficando para depois, pois era uma música com a qual eu já tinha uma afinidade prévia, que comecei a desenvolver mais intensamente apenas nos anos 90. Aliás, com a música francesa, minha revelação se deu com interpretações de Michelangeli. Daí concluo talvez que haja uma afinidade entre pianistas latinos, um cuidado com o som, com o cantabile."

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