Meio século de rock nas pegadas de Titãs e Paralamas

Grupos, formados em 1982, fazem interseção de sucessos

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Por Redação
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Suas idades somam 50 anos de rock''''n''''roll. Titãs e Paralamas, duas das mais antigas bandas brasileiras em atividade, reúnem-se amanhã em São Paulo para um show conjunto. Ambas começaram em 1982, ambas tiveram o mesmo início ingênuo, e ambas acabaram fazendo, no mesmo ano (1986), discos que mudaram a face do rock brasileiro - os Paralamas fizeram Selvagem? e os Titãs fizeram Cabeça Dinossauro. Nos Paralamas, a longevidade já gerou até uma piada interna, conta João Barone, baterista do grupo. ''''A gente está cada vez mais longe dos anos 80 e mais próxima dos 80 anos'''', brinca o músico, um dos melhores em seu instrumento no País. ''''A gente se sente meio como o Vampiro Lestat, meio como Highlanders, por estarmos há tanto tempo por aqui'''', diverte-se o batera. É o terceiro encontro histórico dos supergrupos nacionais - os dois anteriores se deram em 1988 e 1992, e renderam discos. Então, o que esse novo encontro traz de novidade? Antes, ele conta, os shows eram apenas sets dos dois grupos, separadamente, e depois uma jam sesson com todos juntos no final, com alguns números. ''''Agora, até os sets intermediários são interativos, sempre com a dinâmica das duas bandas no palco. Reciclamos, demos uma nova dimensão a esse encontro'''', garante. Com muito ensaio, porque Barone crê na metáfora futebolística de que ''''treino é treino, e jogo é jogo''''. O primeiro disco dos Paralamas, Cinema Mudo, não é um dos mais queridos do grupo que se formou ainda em Brasília, depois se consolidou no Rio de Janeiro. ''''É um disco rendido às formas e funções que as pessoas nos indicavam. Daquele momento em diante, nós decidimos que ou faríamos o que queríamos, ou voltaríamos para a universidade'''', conta Barone. Os Titãs, pode-se dizer que é fruto de um processo de seleção natural. Em 1982, houve um show que reuniu mais de 20 músicos de São Paulo no Sesc Pompéia: tinha gente do Sossega Leão, Heartbreakers, Skowa e a Máfia, entre outros. Desses, um grupo de 9 pareceu ter uma área de interseção maior, mais pontos em comum. Daí surgiria o embrião Titãs do Iê-Iê-Iê. Essa história está sendo contada num documentário de Oscar Rodrigues Alves e Branco Mello, que registra em vídeo desde os primórdios a história do grupo. O filme deve aparecer nos festivais de cinema do ano que vem. Paulo Miklos, dos Titãs, considera Cabeça Dinossauro o disco que contribuiu para formar a ''''personalidade'''' da banda. ''''Mas, como é um grupo esquizofrênico, vivemos mudando de freqüência e quebrando expectativas. Nunca tivemos essa coisa de procurar uma fórmula, mas temos uma marca. Você reconhece imediatamente uma música dos Titãs'''', diz. Depois de Cabeça Dinossauro, os Titãs puderam ''''até se dar ao luxo de fazer música romântica, meio brega'''', brinca Miklos. Grupo de natureza performática, os Titãs não eram músicos exímios. O que os unia era a profusão de idéias artísticas diferenciadas. Então, aprenderam com o tempo a tornar qualidade o que parecia deficiência - o desnível vocal entre seus integrantes, por exemplo. ''''Adotamos a postura punk, o faça do seu jeito. Dar o recado com a eficiência. Tem sido uma vantagem. Eu posso tentar cantar como o Roberto Carlos e ao mesmo tempo gritar na letra de Bichos Escrotos, usar recursos vocais tradicionais e o berro como trunfos.'''' Tanto os Titãs quanto os Paralamas hesitam em apontar herdeiros musicais. ''''É tudo uma grande família. A mesma coisa híbrida, um jeito de olhar o Brasil e ter um filtro para o mundo. Acredito em continuidade, paralelismo, seja lá como chamem isso'''', diz Miklos. Convidados especiais aparecem em cada fase da turnê. Em São Paulo, por exemplo, Marcelo Camelo, do Los Hermanos, deve dar uma palhinha, cantando Cabeça Dinossauro. ''''Parece uma coisa inusitada. Mas, embora você não veja ligação imediata com o trabalho dele, é parte dessa grande rede''''.

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