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Meio ambiente reúne artistas e especialistas

Num evento cinematográfico com essa temática, não poderia faltar um debate

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Um festival sediado na Amazônia não poderia deixar de incluir discussão sobre meio ambiente. Realizado quinta no Centro Cultural dos Povos da Amazônia, um debate reuniu alguns convidados do festival, como os diretores John Boorman, Hubert Sauper, Richard Brock e Jean-Jacques Annaud e especialistas na área, como o antropólogo Cristian Pio Ávila e Philip Fearside, cientista do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e considerado autoridade sobre os problemas da região amazônica. Os debatedores concordaram que, depois do prêmio Nobel da paz atribuído a Al Gore por seu documentário, Uma Verdade Inconveniente, as coisas ficaram um pouco mais fáceis para cineastas que se ocupam do assunto. Mesmo assim, há problemas. O britânico Richard Brock, que trabalhou 35 anos na unidade de História Natural da BBC, disse que quando você faz um filme sobre as belezas do planeta, ele vende muito bem. ''''Quando se fala dos problemas, o público some.'''' A nota original (e radical) do encontro veio do austríaco Hubert Sauper, autor do contundente documentário O Pesadelo de Darwin, sobre desequilíbrio ecológico num lago da Tanzânia. Uma determinada espécie de peixes foi introduzida no lago e acabou com as outras espécies. O peixe é comercializado em troca de armas que fomentam as guerrilhas da região. Desastre total, ecológico e humano. Sauper disse que não se deve confiar no absoluto das imagens, pois elas podem ser usadas de maneiras diferentes. ''''Em Bombaim, vi num táxi uma foto de um campo de concentração e o motorista disse que aquilo é que tinham de fazer com os paquistaneses.'''' Uma imagem que deveria ser contra o racismo era utilizada em sentido contrário. Outro exemplo: ''''Uma telenovela brasileira mostra a imagem banal de uma dona de casa loura que tem apenas um filho. Talvez essa imagem boba tenha algum benefício, pois serve de exemplo para o controle da natalidade.'''' Conclusão: as imagens não têm valor em si. Dependem da maneira como são usadas e como são interpretadas. É sua força e também sua limitação. Disse também que teve problemas com as autoridades da Tanzânia, que viram em O Pesadelo de Darwin, uma ameaça à sua soberania. ''''Por que tinha de vir aquele branquinho falar dos nossos problemas?'''' era o que diziam.Contou ainda que os entrevistados do filme foram perseguidos e que ele gastou dois anos tentando defender essas pessoas com apoio da Anistia Internacional. ''''Parece que o problema foi inventado pelo cineasta, para fazer seu filme'''', disse.

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