PUBLICIDADE

Maysa, glamour e drama

Minissérie que estreia hoje na Globo expõe os dilemas da cantora, entre a vida pessoal e a carreira

Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

No primeiro número musical da minissérie Maysa - Quando Fala o Coração, de Manoel Carlos, que estreia hoje na TV Globo, a cantora atira um pé de sapato nos comensais falastrões de uma churrascaria exigindo atenção. Ela cantava Demais (Tom Jobim/Aloysio de Oliveira). Hoje, com o aumento da falta de educação do público, mais os telefones celulares e as maquininhas fotográficas digitais, ela teria de destruir vários Canecões. Assim era a paulistana Maysa, temperamental, passional, linda (mais ainda na fase madura), dona de sedutores olhos de "oceanos não-pacíficos", como definiu o poeta Manuel Bandeira, e uma voz de fazer pedra chorar com canções como Ouça e Meu Mundo Caiu. Interpretada pela gaúcha Larissa Maciel que faz estreia na tevê, aos 30 anos, é essa Maysa intensa, autêntica, inconstante e perturbada que o público vai ver em nove capítulos. Filho da cantora, o diretor Jayme Monjardim pediu ajuda a pessoas que conviveram com ela para recontar sua história, sem endeusá-la. "Além de procurar um distanciamento pelo fato de ser filho, também tive de ter esse distanciamento como diretor. Consultei essas pessoas para saber se a alma de Maysa estava lá, presente, bacana. Isso para mim era o mais importante", diz o diretor. Há quem questione o diretor não só pelo comprometimento familiar com a personagem, mas pelo fato de demorar tanto tempo para levar sua história à televisão. Vale lembrar, porém, que Monjardim já produziu um documentário sobre Maysa no final da década de 70, como forma de "terapia", que foi levado ao ar pela TV Bandeirantes. "Eu era piloto comercial, quando minha mãe morreu. Um ano depois quis fazer uma homenagem, estava engasgado com aquilo, tinha um monte de coisa que eu queria botar pra fora", lembra. Com a documentação que encontrou dela, Monjardim fez um filme em super-8, que venceu o Festival de Penedo, no Rio. A partir daí, tomou gosto por "contar história" e produziu uma versão do mesmo filme em 35mm, levando-o à Bandeirantes. "Daí nasceu o primeiro programa de televisão que fiz de Maysa. Hoje eu não seria diretor se não tivesse feito um filme sobre ela." Manoel Carlos também recontou a história da cantora baseado em diários, anotações e todo o material que a própria Maysa guardava sobre sua vida, e também criou situações fictícias, mas possíveis. O fim da história todo mundo conhece (o acidente de carro na ponte Rio-Niterói que matou a cantora no dia 22 de janeiro de 1977) e é por aí que a minissérie começa, mostrando uma Maysa serena, insone, livre do álcool que comprometeu a saúde e a vida artística. Sonhava em retomar a carreira de sucesso internacional em grande estilo. Além de ser conhecida como a "rainha da fossa", Maysa também teve passagem marcante pela bossa nova. No final dos anos 1970, porém, lamentava: "Como vou poder cantar se minha dor está envergonhada, está fora de moda? Será que vou ter de cantar a tristeza dos outros tendo tantas minhas?" A partir da sequência que culminaria na morte, vêm as lembranças de tempos glamourosos, desde a paixão por André Matarazzo, 17 anos mais velho do que ela, o casamento, shows consagradores no Copacabana Palace e em Paris, a lua-de-mel pela Europa - em cenários deslumbrantes como os canais de Veneza e as dependências do Copa. O capítulo inicial sintetiza diversos aspectos da personalidade da cantora, que por um tempo enfrentou o dilema entre se dedicar à vida familiar e a carreira artística. Como se sabe, ela optou pela segunda. Teve a coragem de chutar para o alto a segurança de uma vida plena na alta sociedade paulistana para dedicar-se à música. Esse foi apenas um dos escândalos que protagonizou, desafiando a moral da época. Maysa teve outros romances polêmicos, caiu em muita bebedeira, mas principalmente sofreu e cantou esse sofrimento por amor como poucas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.