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Matheus Nachtergaele, novato na Croisette

Ator estréia como diretor em A Festa da Menina Morta e já consegue entrar na seleção da mostra Un Certain Regard

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Matheus Nachtergaele está feliz da vida. Desde 1999, o pequeno grande ator estava empenhado na realização de seu longa de estréia, rodado em Barcelos, a 400 km de Manaus. É aí que uma tragédia familiar dá origem ao nascimento de uma seita, no filme A Festa da Menina Morta, selecionado ontem para integrar a mostra Un Certain Regard, no 61º Festival de Cannes. Existem outras seções em Cannes - Quinzena dos Realizadores, Semana da Crítica -, mas Un Certain Regard forma com a competição o que se chama de ''seleção oficial''. E mesmo que Nachtergaele não vá concorrer à Palma de Ouro, como diretor estreante ele estará disputando a prestigiado Caméra d''Or. Ontem pela manhã, Nachtergaele confessou-se ''abobalhado'', numa entrevista por telefone, do Rio. Ele já estava assim havia dias, desde que recebeu - no dia do aniversário da morte de sua mãe - a confirmação da seleção. ''Ela me deu muita força para concretizar o filme'', diz Nachtergaele, que destaca a garra da produtora Vânia Cattani e o comprometimento de sua equipe - o roteirista Hilton Lacerda, o fotógrafo Lula Carvalho e o maravilhoso elenco, com Cássia Kiss, Daniel Carvalho, Dira Paes, Jackson Antunes e uma benzedeira da região, Aninha da Pimba. A festa do título ocorre numa pequena população ribeirinha do alto Amazonas. Celebra o milagre realizado por Santinho, que, após o suicídio da mãe, recebeu em suas mãos, da boca de um cachorro, os trapos do vestido de uma menina desaparecida. A menina jamais foi encontrada, mas o tecido rasgado e manchado de sangue passou a ser adorado e considerado sagrado. A festa cresceu indiferente à dor do irmão da menina morta, Tadeu. A cada ano as pessoas visitam o local para rezar, pedir e aguardar as ''revelações'' da menina, que, através de Santinho, se manifestam no ápice da cerimônia. O culto mistura pajelança e elementos da cultura iorubá. Nachtergaele reconhece agora que sua ficção começou a tornar-se realidade a partir do momento em que o co-roteirista Hilton Lacerda entrou no projeto. ''O filme foi muito pesquisado, o roteiro precisou de tempo para se desenvolver como queríamos'', ele diz. A Festa participou do Cine en Construcción, no Festival de San Sebastian - uma versão inacabada foi mostrada para discussão e aprimoramento. O (agora) diretor sabe que fez um filme difícil, no sentido de radical. ''Vão te bater muito'', disse-lhe o amigo Cláudio Assis, um dos raros que já assistiram a A Festa da Menina Morta. Como Linha de Passe (leia acima), A Festa ainda não está finalizado. Nachtergaele trabalha atualmente na mixagem de som, num laboratório no Rio, e depois viaja para São Paulo, para a finalização, propriamente dita, na Casablanca, parceira do filme, com a TeleImage. A seleção para Un Certain Regard já tem um valor de reconhecimento. Outros filmes brasileiros recentes que foram exibidos nessa importante seção do mais importante festival do mundo foram Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes, e Cidade Baixa, de Sérgio Machado.

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