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Masp reúne obras icônicas de suas coleções francesa e italiana

Museu apresenta exposições de seu acervo seguindo a expografia original criada pela arquiteta Lina Bo Bardi

Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

Mais de dois séculos de pintura francesa estão representados no primeiro andar do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), a partir desta quinta, 16, para convidados, e sexta-feira, 17, para o público, na exposição Arte da França: de Delacroix a Cézanne, que reúne 80 obras icônicas do acervo do museu. Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico do Masp, Eugênia Gorini Esmeraldo, coordenadora de intercâmbio, e Fernando Oliva, curador-assistente, a mostra exibe retratos, paisagens, naturezas-mortas e cenas históricas de pintores do século 18 ao 20, entre eles neoclássicos (Ingres), realistas (Courbet), impressionistas (Monet, Degas), pós-impressionistas (Cézanne, Van Gogh) e cubistas (Picasso).

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Paralelamente à mostra francesa, o Masp continua a exibir no subsolo aquele que é considerado o mais expressivo conjunto de arte italiana do Hemisfério Sul, na exposição Arte da Itália: de Rafael a Ticiano, com 30 obras-primas de seu acervo, entre elas pinturas da era medieval, do Renascimento e do período barroco. O recorte, que vai do século 13 ao 18, cobre desde um dos exemplares mais antigos do Masp, Virgem em Majestade com Menino e Dois Anjos, pintado pelo Maestro del Bigallo em 1275, até o genovês Alessandro Magnasco (1667-1749), representante do Rococó italiano.

As duas exposições têm em comum a busca da expografia original das mostras organizadas pela arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992) para exibir o acervo do Masp, em 1947, na antiga sede do museu, na Rua 7 de Abril, e na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), entre 1957 e 1959. Até o fim do ano, o Masp retoma os cavaletes de vidro que a arquiteta projetou para a exposição permanente do acervo, no segundo andar do museu que ela desenhou, inaugurado em 1968. Os cavaletes deixaram de ser usados em 1996.

Na mostra italiana, segundo o curador-assistente Tomás Toledo, foi feita uma adaptação nas estruturas tubulares originais para sustentar a pintura de Perugino, São Sebastião na Coluna, pintado quando o Brasil estava sendo descoberto (o ano da primeira pincelada é 1500). Como a maioria das obras do Masp, esta também foi doada (pela Companhia Antarctica Paulista). Aliás, o que as duas exposições acrescentam às mostras anteriormente organizadas com a coleção do museu são dados muito interessantes sobre o histórico das obras, desde sua procedência e seu custo até as consultas feitas a grandes historiadores estrangeiros para verificar sua autenticidade e autoria.

É o caso, por exemplo, do São Sebastião de Pietro Vannucci, o Perugino (1447-1523). Em carta endereçada ao primeiro diretor do museu, Pietro Maria Bardi (1900-1999), o historiador Roberto Longhi (1890-1970), considerado um dos maiores especialistas no Renascimento italiano, desfaz qualquer dúvida a respeito da autoria da obra, que ele chega a datar (entre 1505 e 1510). Sabe-se que, por essa época, 1505, muitas pinturas atribuídas a Perugino foram executadas por aprendizes, o que suscitou dúvidas sobre seu São Sebastião.

O curador-assistente Tomás Toledo reuniu documentos importantes sobre essa e outras obras na exposição, entre elas o Retrato de Alvise Contarini, de Paris Bordon, que foi atribuído por equívoco a Ticiano por Lionello Venturi, quando foi adquirido da Galeria Waldenstein. Em 1959, Bardi atribuiu o quadro a Bordon, proposta aceita e não mais discutida, assim como a datação (a mais provável sendo entre 1525 e 1530).

A exposição de arte francesa traz igualmente informações sobre as pinturas, que não foram agrupadas por escolas. O curador-assistente Fernando Oliva preferiu reunir conjuntos completos do acervo, destacando obras de Delacroix, Cézanne – os dois abrindo a mostra –, Renoir, Toulouse-Lautrec, Modigliani e Manet. Seguindo a expografia original, que antecipa a radicalidade dos cavaletes de vidro, a mostra tampouco segue a ordem cronológica das obras, reforçando o diálogo, por exemplo, entre artistas de diferentes épocas, como Delacroix e Cézanne.

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Há, a exemplo da mostra italiana, curiosos itens do arquivo histórico e fotográfico do Masp, entre eles cartas sobre doações e aquisições, registros da chegada das obras ao porto de Santos, como o retrato de Madame Cézanne no navio Uruguai, em 1949, recebido por Lasar Segall e Anita Malfatti. Entre as histórias recolhidas pela curadoria, uma das mais tocantes é o da tela Rosa e Azul, pintada por Renoir em 1881. Um recorte do jornal suíço Conféderé, de 1988, conta a história trágica da menina da direita, Elisabeth Cahen-d’Anvers, enviada a um campo de extermínio pelos nazistas em 27 de março de 1944. O Masp tem a lista do comboio que partiu para Auschwitz, na qual o nome da menina pintada por Renoir é visível. Ela morreu no trem, a caminho do campo. 

CURIOSIDADES

Preço baixo: São Jerônimo Penitente no Deserto (1448-1451), de Mantegna, foi comprado por US$ 150 mil

Doação da PF: Uma tela atribuída a Guercino na mostra italiana era contrabandeada e foi apreendida pela Polícia Federal, que a doou ao Masp

Autor trocado: O retrato de Alvise Contarini, que era atribuído a Ticiano, é de Paris Bordon, conforme propôs o diretor Pietro M. Bardi, em 1959

Sofredor: A pintura que mais sofreu com o vasto histórico de restauração é o retrato do cardeal Cristoforo Madruzzo, de Ticiano

No clube: São 8 mil obras no acervo do Masp, hoje no ‘Clube dos 19’

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SERVIÇO: 

ARTE DA FRANÇA: DE DELACROIX A CÉZANNE. Masp.Av. Paulista, 1.578; 3251-5644. 3ª, 4ª, 6ª, sáb. dom. e feriados, 10 h/18 h; 5ª, 10 h/20 h. R$ 25 (Grátis às terças-feiras e às quintas-feiras, a partir das 17h). Até 25/10

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