Masp ganha Dalí e anuncia nova fase

João da Cruz Vicente de Azevedo, novo presidente do museu, diz que instituição vai se abrir para a produção contemporânea

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Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

O presidente eleito do Museu de Arte de São Paulo (Masp), o advogado João da Cruz Vicente de Azevedo, de 83 anos, concedeu ontem uma entrevista ao Estado em que negou ser o montante da dívida do museu igual ou superior a R$ 28 milhões, revelando que ela não chega a R$ 6 milhões, totalmente renegociada até 2010, segundo garante. Vicente de Azevedo anunciou ainda a criação de um prêmio de aquisição de obras contemporâneas e a doação de um trabalho do surrealista espanhol Salvador Dalí, revelando que está estreitando os laços com museus e instituições da Europa - especialmente da Espanha - para o intercâmbio de exposições. Ele também garantiu para 2009 o início das obras de reforma do prédio ao lado do Masp. O novo sistema de segurança do Masp entra em funcionamento hoje com 96 câmeras e sete monitores de alta definição. A segurança será prioritária em sua gestão depois do roubo das telas de Picasso e Portinari? A segurança é prioridade em qualquer grande museu - e no Masp sempre foi uma das prioridades absolutas, tanto que fomos, no final dos anos 90, o primeiro museu brasileiro a ter um sistema integrado de câmeras. A atualização do sistema estava prevista no Plano Anual que apresentamos ao MinC em 2006, aprovado em dezembro de 2008. Agora inauguramos, nesta quarta, um sistema completo e da mais alta eficácia, tanto interna quanto externamente, com a ação 24 h da PM e câmeras da Prefeitura na Paulista. O Masp está blindado, com um sistema inteligente que poucos museus do mundo têm. Há controvérsias a respeito do valor da dívida do Masp, que dizem ser de R$ 28 milhões, quase cinco vezes mais do que seria a real, renegociada até 2010. Qual é, afinal, o montante da dívida? Não chega a R$ 6 milhões, totalmente renegociada até 2010 e com todas as obrigações fiscais, trabalhistas e comerciais em dia. Esse número é uma peça de ficção. Há alguma possibilidade de o Masp ter de novo sua luz cortada por falta de pagamento? Como o museu está agindo para apagar essa imagem negativa que cruzou fronteiras, provocando reações internacionais? O Masp não ficou uma hora sequer fechado ao público e em nenhum momento sem energia, pois tinha fornecimento próprio. Aquilo foi uma questão puramente comercial, já equacionada. O museu acaba de assinar um acordo com o grupo espanhol Mapfre, que atualmente mostra a coleção de esculturas de Degas em Madri e deve emprestar uma exposição de Rodchenko para o Masp no próximo ano. Que outros acordos importantes foram assinados com instituições internacionais? Este intercâmbio é marca registrada do Masp. A Fundación Mapfre, que recentemente proporcionou a nosso público a maravilhosa exposição Desenhos Espanhóis do Século 20, além do Degas receberá no início do ano que vem parte da mostra Olhar e Ser Visto, hoje em cartaz no segundo andar do Masp. Degas também vai para Hamburgo, na Alemanha; temos um Mantegna de valor inestimável no Louvre, onde passará por uma rigorosa restauração. A curadoria está estreitando relações com museus espanhóis e de outros países europeus. O Masp recebe uma dezena de solicitações a cada mês, mas precisamos pesar bem as condições para este intercâmbio. Qual é a estratégia que o Masp pretende usar para levantar fundos junto à iniciativa privada? O Masp sempre contou com a captação de fundos junto à iniciativa privada, inclusive fizemos a maior reforma de um museu privado no País, no final dos anos 90, com cerca de R$ 20 milhões captados de grandes parceiros do Masp. Recentemente, aprovamos junto ao MinC um projeto que gerou uma captação de mais de R$ 6 milhões junto ao Bradesco, Camargo Correa, Itaú e Mercedes-Benz, nossos patrocinadores. E temos o apoio dos principais veículos de comunicação do País na veiculação de nossas campanhas. É uma área prioritária para o bom funcionamento de qualquer museu. Que tipo de ajuda a Prefeitura e o Estado concedem ao Masp e o que poderia ser feito para aprimorar esse acordo com os governos municipal e estadual? A Prefeitura destina ao Masp o equivalente a R$ 100 mil mensais em média, para a manutenção do edifício de sua propriedade. Grande parte de nossos recursos vem de patrocínio e bilheteria, sobretudo. A sociedade, diretamente e através dos poderes públicos, precisa ampliar a destinação de recursos ao Masp. O que o Masp pretende fazer com o prédio vizinho que adquiriu? No início de 2009 começa a reforma do edifício, já aprovada pela Prefeitura, para instalação da escola do Masp e parte administrativa, além de outros equipamentos necessários ao seu bom funcionamento, liberando até mesmo espaço expositivo para o prédio principal. Quais são as mostras internacionais programadas para 2009? O ano entra com uma exposição de arte contemporânea chinesa e uma das principais programadas é de realismo francês, prestes a ser confirmada. Além dessas teremos Manuel Vilariño, Vik Muniz e uma mostra espanhola do Centro Galego de Arte Contemporânea. Como o Masp pretende ampliar seu acervo e incorporar a produção contemporânea? Além das doações - acabamos de receber um precioso Dalí e obras-primas do século 17 e 18-, vamos incentivar a aquisição de arte contemporânea através de ações específicas, como um prêmio que o museu está prestes a lançar. Estão programadas mudanças organizacionais ou estruturais no museu? Em sua opinião, como deve ser um museu do século 21? Organizacionais, sim. Vamos nos readequar às necessidades que vemos surgir diariamente. Os museus precisam fazer cada vez mais o melhor uso de novas tecnologias; precisa ter uma concepção flexível de coleção e critérios muito mais rigorosos de seleção de suas exposições e acervo. E precisa ter a participação ativa do poder público e da iniciativa privada.

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