Martin quer combater humor infame

Para ator, trunfo de Clouseau, que agora tem até professora de correção política, é que ele não deixa ninguém embaraçado

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Por Jotabê Medeiros e Nova York
Atualização:

Quando um filme é malhado pela crítica, e ainda assim seu idealizador resolve fazer uma seqüência, seria correto dizer que o fracasso lhe subiu à cabeça. Steve Martin, no entanto, a despeito do massacre da crítica especializada, fez de sua versão de A Pantera Cor-de-Rosa, em 2006, um sucesso de público absurdo, e pôde se dar ao luxo de não ler mais resenhas negativas. E foi adiante: ele agora investiu pesadamente na seqüência, A Pantera Cor-de-Rosa 2, que chega aos cinemas do mundo todo no dia 20 de fevereiro. O elenco é estelar: Jeremy Irons, Andy Garcia, Alfred Molina, John Cleese, entre outros. Martin, que vive o mítico inspetor Clouseau no filme, fez cenas externas em Boston e em Paris. Na pele do inspetor Clouseau, no segundo filme da série, Martin saúda a multidão na sacada do apartamento do papa no Vaticano (vestido de papa) e multa carros estacionados nas imediações da Torre Eiffel. As gags são atualizadas e se conectam a fatos contemporâneos (por exemplo: furioso, Clouseau surge na janela segurando duas crianças pelas pernas, como Michael Jackson, e a foto de sua insanidade sai em todos os jornais). Munido de um bigodinho de Dick Vigarista (ou de Wilson Grey) o ator encara a missão quase impossível de reencarnar um dos personagens que, em 1963, fez a fama de um dos maiores atores da história, o britânico Peter Sellers. Steve Martin chega para entrevistas no hotel Waldorf-Astoria, no coração da Park Avenue, em Nova York, na quinta-feira passada, dirigindo o próprio carro. Diz que não tem receio de paparazzi nem de assédio. "Para os tablóides, eu não sou o tipo que leva uma vida interessante. Além do mais, eles ficam mais acesos quando se trata de uma celebridade casada com outra celebridade. Não é o meu caso", diz ele, em entrevista ao Estado. "Acho que esse filme é mais engraçado que o primeiro", diz o ator, sem receio de parecer pretensioso. "É mais amigável que o primeiro também, e eu gosto disso. Não queria nada pesado. O primeiro filme destinava-se à família, mas não era para crianças. E este é um filme para adultos no qual se pode levar as crianças", explica. É evidente o esforço que Martin faz para tornar seu humor politicamente correto. Ao mesmo tempo em que faz um filme furiosamente antiintelectual, ele escreve artigos para a New Yorker, conclui seu terceiro romance, filma mais um longa-metragem e, para relaxar, grava um disco em que toca banjo. Ao encarar pela segunda vez um personagem naïf, ingênuo, que parece pouco adequado aos tempos modernos, ele reflete sobre a própria empreitada: "Não posso dizer que faço isso conscientemente (um humor antiirmãos Farrelly). Mas eu acredito que posso me opor a um tipo de humor que seja embaraçoso para alguém na platéia. O humor dos Farrelly é um pouco assim. É um filme de homens para homens. Ou de meninos adolescentes. Claro, eu também dou risada, não sou contra. Depende da piada. O inspetor Clouseau é um pouco fora de moda, e é muito ancorado no humor do filme animado, muito cartunístico. Já era uma característica de Peter Sellers. É algo que sempre encanta", afirma o ator, que também assina o roteiro do filme. Segundo Martin, não é apenas o lado patético, desajustado de Clouseau que faz as platéias o amarem. "As pessoas não amam só os personagens bonzinhos. Há alguns momentos em que o personagem de Anthony Hopkins, em O Silêncio dos Inocentes, demonstra tanta presença de espírito, tanta sinceridade, que você até passa a gostar dele, não é?", especula. "Quando fiz o primeiro filme, sabia também que haveria muita crítica. Eram totalmente esperadas. Alguns entenderam que eu usurpava o lugar de Sellers, mas era apenas uma forma de tentar dar ao personagem uma outra visão. Os críticos não gostam, mas as pessoas gostam", considera. Muito maquiado para as entrevistas que teria logo mais com as TVs, Steve Martin conta que contratou uma "professora de sotaque", Jessica Drake, para incrementar seu "francês" (sotaque que está incompreensível em alguns momentos). Steve Martin só encontrou Peter Sellers uma vez. "Foi em 1980, no Havaí. Eu estava promovendo um filme, ele estava promovendo outro. Lembro que ele veio até onde eu estava e me disse: ?Sei que você está enfrentando críticas duras no momento, mas eu sei que você está fazendo certo?", conta.

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