Mario Prata leva o policial ao spa

Escritor estréia no gênero detetive, e cria um assassino em série que persegue sujeitos acima do peso

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Por Patricia Villalba
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Cronista dos mais renomados, Mario Prata se lança pelas ruelas escuras do romance policial guiando o detetive Ugo Fioravanti numa louca caçada ao assassino de Sete de Paus (Planeta, 264 págs., R$ 39,90), seu primeiro thriller, que acaba de chegar às livrarias. A história envolve o detetive Fioravanti - moldado à maneira dos clássicos policiais, mas também com o humor das tiradas típicas de Prata - numa série de assassinatos cruéis. Senhores acima do peso ideal, e em lugares tão distantes quanto Florianópolis, Cabo Verde e Uberaba são encontrados mortos, com o pênis cortado e enfiado na boca. Como pista, somente uma carta de baralho, um sete de paus, que já dá a dica ao leitor de que sete pessoas estão com os dias contados. Depois de escrever para teatro, televisão, cinema e jornais, Prata resolveu pôr um policial no currículo depois de ser fisgado pelo gênero, há dois anos. Leu os clássicos, como Conan Doyle e Dashiell Hammett, descobriu os contemporâneos, como Lawrence Block e Fred Vargas, e se sentiu tentado a entrar para o time. Logo, se lembrou de uma anedota, que aconteceu pouco antes de uma das suas famosas passagens por spas (que resultaram no livro Diário de Um Magro, de 2000) . "Recebi uma vez um telefonema, um engano, de uma mulher furiosa que dizia: ?vou cortar o seu pau, seu desgraçado!?", lembra ele. "Contei para os gordos lá no spa e eles se divertiram muito com a história, imaginando possibilidades, pensando que alguém estava correndo risco." Animado com a experiência e se divertindo horrores com as janelas que ela abre, Prata já trama para levar Fioravanti ao cinema e a quantos livros mais puder. "Quero muito que ele se torne um personagem seriado, sim. Já estou escrevendo outro livro com ele", conta nesta entrevista ao Estado, por telefone, de Florianópolis, onde o autor vive há sete anos. Depois de tanto tempo investindo em outros gêneros, o que o levou agora à literatura policial? Nunca fui fã de policiais, tinha uns livros da Agatha Christie, Conan Doyle, só os mais conhecidos. Mas, de uns tempos para cá, me viciei, estou agora descobrindo autores novos o tempo todo. Acho até que estou pronto para fazer palestras sobre literatura policial. Daqui da minha janela, eu ficava olhando uma casa que tem lá na praia e pensando em recuperá-la, fazer um escritório dela, sei lá. Logo, comecei a imaginar um cara morando ali, depois, uma história acontecendo. A idéia para o livro nasceu ali. Florianópolis, toda linda e ensolarada, não é um lugar que a gente associa imediatamente ao livro policial. Por que escolheu ambientar sua história principalmente aí? E por que São Paulo ou Rio? É mais ou menos isso. Não é que não tenha livro policial em Floripa - poucos livros, em geral, foram ambientados aqui. Adoro essa cidade, adoro estar morando aqui. Não sei se aqui é o meu lugar ou se é São Paulo que não é o meu lugar. Apesar do índice de criminalidade ser muito baixo, quis trazer a história para cá. Em geral, os livros nacionais do gênero falam de casos mais ligados à questão social, ao tráfico, por exemplo. Florianópolis, então, por ser tão pacata, dá mais margem aos crimes que envolvem a loucura, o descontrole? Exato. Quando me mudei, um jornal publicou que os crimes aqui na ilha estavam proporcionalmente iguais aos de São Paulo. Eu levei um susto e fui pesquisar. Mais de 70% eram crimes passionais. Crime de corno, entende? Aqui não é igual a São Paulo, onde o cara leva corno e fica quieto. Tem a idéia de transformar o detetive Fioravanti num personagem seriado? Ah, eu quero muito que seja mesmo. Neste primeiro livro, ele sai da Polícia Federal e abre um escritório de investigação, com o Darwin (seu fiel escudeiro). Eu já estou escrevendo um livro com ele como detetive particular. Vai levar a história ao cinema? Algumas produtoras estão interessadas. Alguém vai filmar porque, independentemente de ser bom ou ruim, é cinematográfico. Outra vantagem desse filme seria a de mostrar a ilha, que nunca é mostrada. Poderia ficar bonito filmar aqui, se escolherem um momento em que os argentinos não estejam.

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