Maria Bethânia é a predileta dos cineastas

A mais documentada das cantoras fala de sua relação com o que se filma sobre ela

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Por Lauro Lisboa Garcia
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Diretores de teatro têm experiências memoráveis de trabalhar com Maria Bethânia. Fauzi Arap, Gabriel Villela e Bia Lessa que o digam. Mas os cineastas parecem não ficar atrás. Dentre as grandes personalidades da música brasileira, ela é a cantora mais contemplada com documentários. Isso desde Bethânia Bem de Perto (de Eduardo Escorel e Julio Bressane) e Saravá (do francês Pierre Barouh), ambos de 1969. Outro gringo que se encantou com a cantora foi Georges Gachot, que realizou Maria Bethânia - Música É Perfume, em 2005. Além desses, está disponível em DVD Pedrinha de Aruanda, de Andrucha Waddington. Com a mesma intensidade que vem produzindo um CD (ou dois) atrás de outro, a presença de Bethânia nas telas não para aí. Além de dois filmes sobre os Doces Bárbaros (o de Jom Tob Azulay em 1976 e o de Andrucha em 2002), ela aparece em documentários mais recentes, dando depoimentos como em Vinicius, ou discutindo a relação entre música e letra em Palavra (En)Cantada, de Helena Solberg. Para quem gosta, ela acha que fazer cinema deve ser prazeroso. "Mas ao fazer Quando o Carnaval Chegar, com Cacá Diegues, quase morri, era estranhíssimo", lembra, rindo. "Eu, Chico (Buarque) e Nara (Leão), quando fomos à casa de Cacá brindar o fim das filmagens, falamos: nunca mais a gente faz isso", conta. "A gente ria muito da gente o tempo inteiro." Cacá dizia a ela que no cinema tinha de "fazer pequeno", porque na tela tudo vira grande demais. "Sou uma mulher cheia de gestos que, como dizia Flávio Império, se levantar a mão fura o telhado. Imagina eu fazendo cinema. Dona Tizuka Yamazaki me convidou agora para fazer uma pajé num projeto deslumbrante dela. Queria demais fazer, mas falei adeus, cinema", diz, bem-humorada. Não tendo de interpretar personagem para as câmeras é outra história. "Foi muito lindo, comovente, cantar Motriz em Pedrinha de Aruanda, na gare onde eu e Caetano pegávamos a motriz em Santo Amaro. Toda essa coisa da minha terra é muito poético na minha cabeça." Assim como não costuma ouvir muito os próprios discos, Bethânia diz que não gosta de se ver filmada. "Tem flashes do Gachot, como aquele amanhecer sobre o túnel com minha voz, que eu adoro. Mas nem meus DVDs eu assisto. Aprovo o áudio e caio fora." Ela diz que fica feliz de ver o cinema mais voltado para a música hoje. "A música no Brasil tem uma penetração como nenhuma outra expressão artística. É natural isso. E de um tempo para cá, o cinema começou olhar para a música de uma maneira mais cinematográfica mesmo. Depois do sucesso de 2 Filhos de Francisco e Cazuza, isso ficou mais à vista."

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