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Manoel de Oliveira, 100 anos

Cineasta comemora aniversário hoje filmando seu 42.º longa, Singularidades de Uma Rapariga Loira

Por Jair Rattner
Atualização:

O mais antigo diretor de cinema do mundo ainda em atividade completa 100 anos filmando. O português Manoel de Oliveira, que nasceu em 1908, estará hoje, dia do seu aniversário, no set de filmagens do seu 42º filme, Singularidades de Uma Rapariga Loira. Baseado num conto de Eça de Queirós, o filme foi adaptado para hoje. "Deveria ser uma produção de época, mas ficaria muito caro. Então, optei pela adaptação. O enredo parte da idéia de se contar a um desconhecido coisas que não se contariam a um amigo ou à própria esposa. No conto de Eça de Queirós, tudo ocorre numa carruagem durante viagem a Trás-os-Montes. No filme, ocorre em um comboio (trem) de Lisboa ao Algarve." O filme ficará pronto em fevereiro, a tempo de participar do Festival de Berlim. Depois, até maio, ele roda outro, que será apresentado no Festival de Cannes. "É um projeto antigo, dos anos 50, chamado O Estranho Caso de Angélica, que atualizei para hoje. O projeto inicial tinha por base a fuga e perseguição dos judeus por Hitler e o de agora se baseia na fuga e perseguição que continuam a ter os muçulmanos." Manoel de Oliveira chega ao centenário lúcido e em forma. Caminha com uma bengala, que quase não usa. Magro, alto, consegue subir facilmente num estrado de 40 centímetros sem precisar de apoio. Filho de um industrial do Porto que produzia lâmpadas, estreou na direção com Douro Faina Fluvial (1931), documentário sobre a dura vida dos pescadores do Rio Douro, que banha a cidade do Porto. Em 1933, participou como ator no primeiro filme falado de Portugal, A Canção de Lisboa. Em 1935, foi piloto de corridas de carros. Seu primeiro longa de ficção, Aniki-Bóbó (1942), teve como atores crianças que viviam no Porto e é considerado precursor do neo-realismo. Depois de 14 anos sem filmar, retornou em 1956 com O Pintor e a Cidade. Só no fim da década de 70 começou a produzir mais regularmente, passando nos últimos anos a uma média de um filme por ano. Sua visão de vida é marcada pelo fatalismo: "Nós não determinamos o nosso destino. É o destino que determina as nossas vidas. Não somos senhores de nós próprios. Dependemos das forças obscuras que nos dão os nossos impulsos." Aos 100 anos, ele parece conviver pacificamente com a idéia da morte: "Venha ao mundo como vier, a morte é sempre certa. Isso nos dá certo conforto." Oliveira recusa-se a fazer cinema comercial. Ao construir uma obra, não pensa no público. "Não entendo essa palavra, público. Público são as cadeiras do cinema. Quem vê o filme são pessoas e cada uma tem sua identidade própria, uma forma particular de ser e viver." Do cinema brasileiro, Oliveira cita um nome. "Há um que se destaca de todos os demais, Glauber Rocha, diretor extraordinário, muito pessoal, com grande originalidade na construção dos seus filmes. Quando o Brasil começou, recebeu muitos portugueses da região do Minho, onde havia os autos. Os autos ganharam caráter brasileiro e os filmes dele se inspiram nesses autos."

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