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MAM de São Paulo inaugura exposição de 70 anos em parceria com o MAC

Fundado em 1948, o MAM doou, em 1963, toda a sua coleção à época para a fundação do MAC, mantido pela USP

Por Pedro Rocha
Atualização:

“O museu é uma escola”, anuncia o Museu de Arte Moderna de São Paulo na fachada da instituição, com uma obra homônima do artista Luis Camnitzer, parte de uma exposição comemorativa dos seus 70 anos, inaugurada esta semana. “É fundamental que o museu estabeleça a sua identidade como um lugar de experimentalismo e o educativo é parte importante”, afirma o curador da instituição, Felipe Chaimovich, sobre a escolha da obra que dá as boas-vindas à nova mostra MAM 70: MAM e MAC USP

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Como o próprio nome indica, a exposição é não apenas um balanço dos 70 anos do museu, mas também é sobre uma história compartilhada com o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Fundado em 1948, o MAM doou, em 1963, toda a sua coleção à época para a fundação do MAC. “A coleção dos anos 40 e 50 é uma matriz dos dois museus, que serviram como um impulso seminal para o desdobramento de outras instituições, como a Cinemateca Brasileira e a Bienal de São Paulo”, afirma Felipe.

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Para a exposição, algumas das obras doadas ao MAC retornam à antiga casa, na Sala Paulo Figueiredo. São trabalhos icônicos de nomes como Alexander Calder e Jean Arp, além de obras adquiridas pelo MAM nas bienais de São Paulo, evento inicialmente realizado pela instituição, e de Veneza. Na época, prêmios especiais dados por patrocinadores aos artistas garantiam doações ao museu. “O MAM ampliou o seu acervo dentro dessas bienais”, afirma a professora Ana Magalhães, da USP, que fez a curadoria com a colega Helouise Costa e o próprio Felipe.

Obra 'O museu é uma escola', de Luis Camnitzer, na fachada do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Foto: Alex Silva/Estadão

Nessa curadoria conjunta, os três se basearam não numa cronologia, mas em temas surgidos a partir de exposições históricas do MAM ao longo dos anos: são eles a formação de coleções, a missão pedagógica, a expansão da fotografia e o desafio da contemporaneidade. Por isso, nesse setor inicial, estão presentes obras da mostra Do Figurativismo ao Abstracionismo, como quadros de Fernand Léger e Joan Miró, e ainda aquisições vindas de bienais, como Natureza-Morta (1951) de Maria Leontina, e História de Mar (1952), trabalho de Mattia Moreni inspirado em Guernica, de Picasso, que nunca esteve exposto no MAC.

A sala conta ainda com uma lembrança anterior à inauguração do MAM, as antigas exposições de reproduções de obras de arte que aconteciam na atual Biblioteca Mário de Andrade. “Antes da criação do museu, a biblioteca havia assumido a função de divulgar o colecionismo da arte moderna”, explica Helouise Costa. “Trouxemos as reproduções porque elas tiveram um papel importante na consolidação do Modernismo.”

História conjunta

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Para a exposição, a maior sala do MAM foi reservada para contar a história dos dois museus após a doação de 1963, seguindo os quatro temas definidos pela curadoria. Para a escolha das obras, estavam à disposição os acervos completos do MAM e do MAC. “Nos dividimos em relação aos temas e isso nos levou à escolha das obras”, diz Magalhães. Segundo a professora, em nenhum momento foi estabelecido um limite para uso de obras de uma instituição ou de outra.

Obra 'História de Mar' (1952), de Mattia Moreni, em exposição no MAM de São Paulo. Foto: Alex Silva/Estadão

Assim como as bienais, os Panoramas de Arte Brasileiras realizados pelo MAM serviram para ampliar o acervo do museu, e são lembrados na segunda sala expositiva. “O MAM começou uma nova coleção em 1968 focada em arte brasileira”, diz Felipe. “Com os Panoramas e novas exposições, a coleção, então, acabou se tornando mais experimental e cada vez mais reflexiva sobre o que é a arte brasileira.” Obras de Alfredo Volpi e Rubem Valentim, apresentadas nos Panoramas, são relembradas na exposição.

Inspirado pelo MAM, o MAC também quis manter para si o mesmo caráter de colecionismo. “Quando inaugurado, o MAC quis continuar a conexão com eventos como a Bienal de São Paulo”, afirma Ana Magalhães. A exposição, dessa forma, conta com obras adquiridas pelo MAC ao longo dos anos, de nomes como Wesley Duke Lee e Maria Bonomi.

Ambas as instituições, desde a década de 1970, fizeram grandes apostas na fotografia e em trabalhos multimídia, que também são lembradas na mostra comemorativa. “A exposição ajuda a pensar o histórico da musealização da fotografia”, acredita Magalhães. “Num primeiro momento, só os fotoclubistas eram expostos, ainda no final dos anos 40, mas não entravam no acervo. Só nos anos 80 entraram no MAM.” Já o multimídia ganhou destaque no MAC já a partir de 1976. “Até mesmo o uso do termo multimídia na época foi muito precoce, é algo que se discute muito hoje.”

Exposição 'MAM 70', do Museu de Arte Moderna de São Paulo em parceria com o Museu de Arte Contemporânea de USP. Foto: Alex Silva/Estadão

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Os acervos dos dois museus, na mostra, se misturam e levantam o questionamento: por que o Museu de Arte Moderna possui tantas obras contemporâneas, e o Museu de Arte Contemporânea conta com tantos trabalhos modernos? “Esses nomes dizem muito mais sobre o momento em que as instituições foram criadas do que sobre o conteúdo de seus acervos”, explica Costa. “O contemporâneo, inclusive, é algo que se adapta ao longo do tempo. As obras de 40, naquela época, eram contemporâneas.”

Para Felipe Chaimovich, também é natural a presença do contemporâneo no MAM. “O museu tem uma representatividade muito grande do que foi produzido a partir dos anos 60”, ele diz. “Mas todas as exposições do MAM são feitas com um caráter experimental, algo completamente contemporâneo. Então acredito que o modo como o museu se posiciona é que faz a sua coleção tão contemporânea.”

Exposições históricas inspiram mostra

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Para a exposição MAM 70, o curador do museu, Felipe Chaimovich, evitou se basear apenas em uma cronologia. “Nos 60 anos do MAM, houve uma grande exposição na Oca com um andar inteiro dedicado à parte documental, num sentido cronológico. Isso já foi feito”, diz. Portanto, o caminho a ser seguido foi o de mostras históricas do museu em várias épocas, desde Do Figurativismo ao Abstracionismo (1963) a Ecológica (2010).

Em foto de 2004, a obra 'Aranha', de Louise Bourgeois, que ficou conhecida por sua exposição no MAM de São Paulodurante anos e que volta, em 2018, ao museu. Foto: Marcelo Barabani/AE

Para o curador, todas essas exposições resgatam um caráter experimental mantido pelo MAM até hoje. “O grande desafio do momento, quando o acesso virtual a imagens não obriga ninguém a visitar um museu, é criar experiências presenciais que sejam insubstituíveis.” Para isso, ele acredita, é preciso inovar. “Já colocamos uma cozinha dentro do museu e um grupo de dança no espaço expositivo”, relembra. 

Ainda segundo ele, o museu deve estar aberto ao diálogo. “O MAM tem uma vocação pedagógica e é legítimo que o público questione o museu”, analisa. “Mas é preciso que sejam respeitadas regras de convívio”, afirma ao relembrar os protestos violentos feitos por movimentos conservadores após a polêmica com a performance La Bête, de Wagner Schwartz, em 2017.

Para completar a mostra, o MAM recebe de volta a Aranha de Louise Bourgeois, emprestada pelo Itaú e que fica em exposição até dezembro. “A aranha é um marco para o museu.”

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