MAC recebe coleção de Fúlvia e Adolpho Leirner

A doação de obras e mobiliário déco é a terceira mais importante que o museu da USP recebe depois das coleções de Ciccilo Matarazzo e do acervo do MAM em 1963

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Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

O Museu de Arte Contemporânea da USP anunciou a incorporação ao seu acervo da coleção de obras e peças de mobiliário déco do casal Fúlvia e Adolpho Leirner, doada pelos colecionadores no final de 2020. Inicialmente, a proposta era de um comodato, em 2013, mas as negociações evoluíram para a doação definitiva ao museu da USP, que passa a ter em seu acervo um valioso conjunto de obras de arte brasileira dos anos 1920/1930 – de pinturas e esculturasa móveis desenhados pelo suíço John Graz (1891-1980), que participou da Semana de Arte Moderna de 1922, e o arquiteto e designer ucraniano Gregori Warchavchik (1896-1972).

É a terceira mais importante doação de obras históricas ao museu depois das coleções de Ciccillo Matarazzo e do antigo MAM/SP, que deram origem ao MAC/USP em 1963. “Ficamos honrados com a possibilidade de doar essa coleção ao MAC/USP, que dará visibilidade para essas peças raras e permitirá a realização de muitas pesquisas sobre o assunto”, afirmam os colecionadores.

Móveis déco deJohn Graz, que participou da Semana de 22 Foto: Museu de Arte Contemporânea

A Coleção Fúlvia e Adolpho Leirner do Art Déco Brasileiro doada ao MAC/USP reúne 45 peças, entre elas móveis da Casa Modernista da Rua Itápolis projetada por Warchavchik, autor do primeiro projeto residencial moderno do Brasil (a casa da Rua Santa Cruz, de 1927). Oito dessas obras estão em exposição no Museu de Arte Moderna, na mostra Família Gomide-Graz, com curadoria de Maria Alice Milliet. Também foram doados os arquivos referentes às obras, com imagens, histórico expositivo e bibliográfico.

'Diana, a Caçadora', tapeçaria de Regina Gomide Graz Foto: Museu de Arte Contemporânea

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 A coleção do casal Leirner teve início nos anos 1960 com a aquisição de tapetes caucasianos e, nas décadas seguintes, foram incorporadas obras relevantes do movimento concreto brasileiro. Adolpho Leirner chegou a reunir os mais expressivos exemplos do concretismo – sua primeira obra adquirida foi uma pintura de 1958, Em Vermelho, de Milton Dacosta, comprada por ele em 1963. A coleção de Leirner hoje dá visibilidade à arte brasileira lá fora – o Museum of Fine Arts de Houston, que comprou a coleção em 2007, já levou obras desse valioso acervo para viajar para a Europa (na Haus Konstruktiv de Zurique, em 2009, por exemplo).

A coleção Adolpho Leirner foi pioneira na construção de um acervo que tem indiscutível importância histórica ao abrigar obras concretas. Visionário, o colecionador apoiou artistas de seu tempo. Isso não quer dizer que outros períodos da arte brasileira foram negligenciados por ele. Herdando dos pais o gosto requintado e o interesse pela arte – eles foram amigos de John e Regina Graz –, Leirner passou a buscar o que havia de melhor no art déco brasileiro.

Esse interesse pela arte e o design começou com sua especialização em engenharia têxtil na Inglaterra, nos anos 1950, como parte de suas atividades na empresa da família, a Tricot-lã Têxtil Indústria de Malhas. Acompanhado pela esposa Fúlvia em seu “garimpo’ em antiquários, o casal colecionou móveis, tapeçarias, esculturas e objetos decorativos. O MAC/USP era o endereço certo para a doação, pois tem em seu acervo obras que dialogam como essa coleção, entre elas estudos de estamparia de Antônio Gomide, além de projetos para murais e outros objetos de artes gráficas e artes aplicadas, de autoria de Fulvio Pennacchi e Mario Zanini.Ainda este ano, parte da coleção estará na mostra Projetos para um Cotidiano Moderno no Brasil, que o MAC/USP prepara para agosto. 

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