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''Louis Vuitton falsa, amor verdadeiro'' é a fórmula

Mas se a bolsa for autêntica, a felicidade poderá ser completa

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Por Redação
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Vamos começar pelos finalmentes - a exemplo do que ocorreu nos EUA, onde fez, na estréia, quase o dobro da renda de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, Sex And The City leva jeito de arrebentar nas bilheterias do Brasil, embora não seja para todos os gostos. A expectativa da PlayArte é de um estouro, e é até bom que assim seja porque é graças ao dinheiro que ganha com blockbusters como este que a distribuidora se arrisca a trazer um filme como o italiano Meu Irmão É Filho Único, de Daniele Luchetti, apontado para estrear nas próximas semanas. Críticos como Rubens Ewald Filho consideram a série da HBO uma obra-prima, embora existam episódios que sejam mais obras-primas do que outros, segundo ele. Ewald Filho tem autoridade para dizer que Sex And The City iniciou uma revolução de costumes na TV dos EUA, que se estendeu para Hollywood. Tudo o que a comédia romântica tem hoje de ousado, na abordagem do sexo, vem da série protagonizada por Sarah Jessica Parker e suas amigas. Pode-se contestar o conceito, mas é tolice buscar defeitos de narração para tentar desqualificar o longa de Michael Patrick King. O problema não está nos diálogos nem nos clichês nem no humor, que parecem ser exatamente os dos episódios da televisão. Parecem - o crítico do Estado assume que nunca viu nenhum episódio de Sex And The City. O filme está sendo avaliado como experiência de cinema, não como episódio ampliado. No domingo passado, vale lembrar, morreu Yves Saint Laurent, um dos ícones da alta-costura, o estilista que, entre outras coisas, criou o smoking feminino, iniciando uma revolução na moda comparável à do tailleur de Mademoiselle Chanel. Salvo engano, existe muita Vivienne Westwood, muito Oscar de La Renta e Lacroix, mas nenhum Saint-Laurent no guarda-roupa de Carrie, Charlotte, Miranda e Samantha. A dúvida vem do fato de que um simples piscar de olhos pode fazer com que o espectador, que não vai ligar muito, ou a espectadora, que poderá se sentir lesada, perca umas duas ou três trocas de roupa. Afinal, a produção gaba-se por Sex And The City possuir um guarda-roupa de 300 peças para as quatro estrelas - só para Sarah, são 80 modelitos. Justamente Saint-Laurent criou uma frase imortal. Disse que a mulher mais bem vestida é aquela que está enlaçada pelos braços do homem que ama. Para as outras, ele estava a postos, com sua alta-costura. A tese de Sex And The City é um pouco diferente, mas não tanto. A bolsa pode ser fake, alugada ou falsa, o amor precisa ser verdadeiro. Mas se a Louis Vuitton for verdadeira, aí, a felicidade estará completa. Esta foi a tônica assumida da série, nos seis anos em que esteve no ar. As quatro amigas consomem grifes - e homens. Seu comportamento libertário pode ser intimidador para o universo masculino tradicional, embora seja atraente para homens atirados como a devoradora Samantha. Kim Catrall, que faz a mais voraz das quatro amigas, se encanta com a genitália do vizinho - e o filme tem o primeiro nu masculino lateral de Hollywood, para que você avalie o tamanho da encrenca -, mas quando o cara lhe abre a porta do quarto ela se assusta e pensa que precisa se encontrar internamente. As mulheres de Sex And The City, ao contrário de Thelma e Louise, há quase 20 anos, não querem reproduzir o modelo masculino (que leva ao abismo). É um dos motivos pelos quais o filme tem um pouco a cara de shopping de Miami. As moças querem as grifes e os homens, mas, no fundo, são apenas românticas e, com isso, mesmo a mulher que nunca terá sua Louis Vuitton pode se identificar.

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