Livro destaca lado bélico e tirânico do adolescente

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Por Redação
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Jon Savage sempre teve em mente a figura do autor de Peter Pan, o inglês James Matthew Barrie (1860-1937), como o protótipo do eterno teenager que, a exemplo de seu herói, o garoto da Terra do Nunca, travou uma luta infindável contra o Capitão Gancho - o bucaneiro desafiado pelo pequeno inimigo, representação metafórica do poder adulto confrontado pela arrogância adolescente. Barrie, como se sabe, conservou traços infantis e até mesmo sua pequena estatura ajudou a confundi-lo com seu personagem, além do fato de ter uma atração irresistível por teenagers - não necessariamente sexual. O fato é que Barrie, ignorado pela mãe, fixada em seu irmão morto num acidente, teve uma segunda chance de formar uma família ao se tornar o guardião dos cinco filhos de sua amiga Sylvia Llewelyn Davies, entre eles Peter, modelo do insolente menino da Terra do Nunca, que se matou em 1960. Barrie é um escritor tão lembrado no livro de Savage como o educador e psicólogo norte-americano Granville Stanley Hall (1844-1924), cuja obra mais conhecida, Adolescência (1904), cunhou dois adjetivos para definir os teenagers: tempestuosos e estressados. Hall, filho de calvinistas, sempre enfrentou problemas de inadequação e culpa sexual. Achava que os adolescentes deveriam alimentar suas lendas, seus romances, ideais e ambições artísticas para superar a fase mais difícil de todo ser humano. Hall foi o homem que convidou Freud para algumas palestras nos EUA, em 1909. A mídia não deixou por menos: disse que o pai da psicanálise deflagrou uma onda de histeria sexual no país. A relação dos adolescentes com suas fantasias sexuais é discretamente explorada no livro, que dá mais atenção ao fenômeno das tribos e gangues urbanas de delinquentes (hooligans e companhia) e à participação dos jovens em guerras e movimentos paramilitares, talvez como um alerta para o crescimento do exército de pequenos fundamentalistas em países autocráticos. A Criação da Juventude termina justamente no ponto em que a cultura teenage ganha contornos nítidos, ou seja, em 1945, ano em que o The New York Times reivindica o teenager como uma "invenção americana". Diante da perspectiva da pulverização instantânea - a bomba destruiria Hiroshima e Nagasaki em agosto daquele ano -, o culto do presente trouxe com ele o consumismo e o imediatismo. Em outras palavras: o teenager.

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