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Livro acompanha ''obra de Sísifo'' de Paulo Monteiro

Com textos de Alberto Tassinari e outros críticos, monografia analisa carreira do artista, um dos destaques da Geração 80

Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

O escultor Paulo Monteiro tinha 20 anos quando viu, na 16ª Bienal de São Paulo (1980), uma pequena mostra da obra do pintor norte-americano Philip Guston (1913-1980), que acabara de morrer. Guston tinha tudo a ver com a geração de Monteiro - e mais particularmente com ele e seus futuros colegas do ateliê coletivo Casa 7 (Nuno Ramos, Carlito Carvalhosa, Rodrigo Andrade, Fábio Miguez), que seria criado em 1983. Um quarto de século depois, a história desse artista paulistano, filho do neoexpressionismo, é relembrada numa monografia que leva seu nome, Paulo Monteiro (Editora Cosac Naify, 221 págs., 182 ilustrações, R$ 70), que terá lançamento hoje, às 10h30, no auditório Vitae da Estação Pinacoteca (Largo General Osório, 66), seguido de mesa-redonda com a participação dos críticos Alberto Tassinari e Tiago Mesquita e da curadora Taisa Palhares. Na ocasião será colocada à venda uma tiragem especial de 50 exemplares do livro, acompanhado de uma gravura assinada pelo artista (à venda por R$ 200). De certo modo, a carreira de Paulo Monteiro seguiu o caminho inverso de seu ídolo juvenil Philip Guston, que, pertencendo à primeira geração dos expressionistas abstratos norte-americanos, fez a transição para o neoexpressionismo sem grandes traumas, abraçando novamente a figura, sua primeira âncora. Monteiro, por influência de Guston, começou figurativo, mas terminou enveredando por um caminho não-representacional. O início de carreira do artista brasileiro está estreitamente ligado à linguagem pop de Guston na época (1960) em que adotou os quadrinhos como modelo e foi duramente criticado por isso. Guston insistiu e morreu quando o neoexpressionismo nascia como linguagem (anos 1980), defendendo que sua geração havia herdado o mito de que a pintura é pura e autônoma. Para Guston, ela era não só "impura" como a expressão pura do paradoxo artístico, o de criar imagens e escondê-las sob a capa da abstração. O fato é que, em 1985, Paulo Monteiro, ao expor suas obras na "Grande Tela" da 18ª Bienal de São Paulo - um corredor de pinturas neoexpressionistas de brasileiros e estrangeiros - concluiu que esse trabalho havia chegado à saturação. Foi justamente nesse período que começou a se interessar por arte brasileira, deixando a transvanguarda internacional para os historiadores. Um ano depois já estava trabalhando com canos, chapas de ferro e pedaços de madeira, abandonando a pintura e preparando o terreno para uma mudança radical em sua carreira, que iria ocorrer nos anos 1990 com o advento de uma série de esculturas em chumbo. É justamente esse o período estudado com mais atenção pelos autores da monografia, os críticos Alberto Tassinari e Paulo Venancio Filho, o pintor Rodrigo Andrade e Taisa Palhares, curadora da exposição do artista, em cartaz na Estação Pinacoteca até o dia 22 deste mês com 140 obras produzidas de 1989 a 2006. A curadora diz que é no decorrer dessa década que Monteiro "conquista um lugar singular" na história recente da arte contemporânea brasileira, em especial após sua participação na 22ª Bienal (1994), em que apresenta suas esculturas de chumbo. "Nessas peças, Monteiro conseguia aliar a materialidade da pintura ao gesto sucinto e potente dos desenhos, numa síntese que parecia finalmente enunciar o núcleo de sua poética", conclui Taisa. Esses desenhos, produzidos obsessivamente nos anos 1980, são comparados pelo crítico Paulo Venancio Filho à tarefa de Sísifo, sendo a folha retangular em branco a montanha enfrentada pelo trágico mito. São desenhos que beiram o desespero, que começam não se sabe onde e terminam em lugar desconhecido fora da folha de papel. Venancio destaca o aspecto anti-ilusionista desse desenho, comparando-o às monotipias de Mira Schendel (1919-1988) - série com mais de 2 mil obras que busca uma articulação entre linguagem verbal e visual, sendo a palavra suporte para a imagem. As esculturas em chumbo de Monteiro, segundo Venancio, seriam quase derivações desse desenho. Lembrando que chumbo e grafite são matérias da mesma natureza, o crítico chama a atenção para a superfície viva, brilhante, do chumbo, remetendo às esculturas de Rodin. Um Rodin minimal, esquizo, pergunta Venancio? E ele mesmo responde "talvez", perplexo diante dessas obras disformes e imponentes que passaram pelo estado líquido antes de virar uma pasta compacta. O pintor Rodrigo Andrade, colega de Monteiro na Casa 7, falando dos mais recentes trabalhos do artista - uma série de guaches que contraria a economia cromática dos últimos anos -, destaca o papel das cores fortes que emergiram em seu trabalho há quatro anos. Aos poucos, Monteiro volta ao ponto de partida, Philip Guston, para trilhar um novo caminho. Não é mesmo um trabalho de Sísifo? Serviço Paulo Monteiro. Estação Pinacoteca. Largo General Osório, 66, Luz, tel. 3337-0185. Ingressos R$ 4 e R$ 2. Grátis aos sábados. Até 22/2

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